Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

domingo, 30 de dezembro de 2012

O Réveillon.







Mil novecentos e sessenta e tal, na idade da vaidade, onde tudo que nos rodeava era pouco para encher o nosso ego.
Era bonita, morena e uma alegria que me acompanha pela vida fora.
Véspera da noite de final do ano, como hoje que escrevo estas palavras, talvez por isto recordo de olhar perdido no passado e sorriso nos lábios, esses tempos que a distância e as rugas que já se instalam em meu rosto, não me deixam esquecer.
Tempos felizes, uma juventude invejável, onde o futuro não incomodava porque o presente nos enchia a alma.
O vestido de baile prestes a ser entregue fora confeccionado pela Lurdes Ramalho, a modista mais in da cidade.
O modelo desenhado primorosamente por mim, uma cópia alterada a meu gosto de uma figura retirada duma revista de moda, comprada na papelaria Lopes.
A condição era que a modista nunca desvendasse como seria o vestido dessa noite a ninguém, o que fazia com que ela acabasse por deixar para a noitinha os trabalhos mais sigiloso não fosse alguém aparecer de surpresa.
Era rosa o chiffon, tecido leve e elegante, a frente todo bordado de perolas e lantejoulas, cingido ao corpo duma elegância e beleza, de fazer inveja.
A ideia era mesmo essa, chegar ao Baile e Tchanam! ser a surpresa que faria os rapazolas ficarem de queixo caído e as moçoilas roídas de inveja.
A marcação da cabeleireira era outra maratona da época.
Na altura na cidade que nem era tão grande assim, já havia 4 ou 5 cabeleireiras, mesmo assim abarrotavam nesses dias e era ver toda a gente esperar horas a fio pelo penteado desejado.
A mesa no aeroclube, há tempos que já estava reservada, o baile mais in da época.
Era a noite mais importante do ano, nada poderia falhar.
Aperaltavam-nos cuidadosamente, sapatos dourados a dar com a toilete, maquilhagem á época, um eyeliner finíssimo á moda de Cleópatra, que realçavam os olhos primorosamente pintados. Nos lábios um batom rosa que nunca deixávamos que desaparecesse.
Por fim antes de sair de casa o perfume por detrás das orelhas, nos pulsos e nas mãos, (isto já com segunda intenção, a de deixar a marca da nossa presença nas mãos do par com quem dançássemos).
A chegada ao aeroclube, o nosso coração quase nos saia pela boca, até que estacionasse o carro, a expectativa era imensa.
E lá fazíamos a nossa entrada triunfal, apesar de na pista já rodopiarem alguns pares ao som do conjunto “Os 5 de Cabora Bassa”, nada nos tirava o protagonismo.


E durante toda a noite era a festa, as estrelas do céu brilhavam e a temperatura quente convidavam a bailarmos até o raiar do novo ano.
 Para trás ficavam as rugas do vestido novo amachucado, o cheirinho do aftershave daquele rosto que rocara o nosso, no corpo um calorzinho bom de dançar agarradinha, um sonho que nos adormecia até ao despertar do novo dia.

Tempos felizes.

Feliz 2013

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Uma promessa de nada.




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Aproxima-se o final deste ano, para uns bom para outros nem tanto.
Muito se disse, sobre o ano que vai terminar um ano de constantes alterações sociais fruto de politicas mal conduzidas ou talvez não porque realmente sou leiga neste assunto.
Apenas sei que o povo português vive numa incerteza atroz, numa constante preocupação do seu futuro e da família.
Certo é que já grassa o desemprego e a fome em muitos lares, e quem mais está a sofrer são as crianças que tristemente são maltratadas não só pela sociedade mas pelos próprios familiares.
Encontrei esta imagem de tempos muito antigos, não sei porquê mas parece-me voltar a essa época em que em pleno fascismo se lia nos cadernos escolares:

PORTUGAL PODE SER SE NÓS QUISERMOS, UMA GRANDE E PROSPERA NAÇÃO.
UMA MENTALIDADE NOVAFARÁ RESSURGIR PORTUGAL.
Será que voltamos para a esta época de promessas vãs e muito sofrimento.
Se mudarmos as fardas da Mocidade Portuguesa pelo que hoje vestem os alunos, a imagem é perfeita, uma promessa de nada!


sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Uma vida cheia de nada.


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Das minhas lembranças do passado, dum país colonizado, eram as frequentemente diferenças abismais de classes económicas.
Grosso modo entre determinada classe social, a mesa era sempre farta, mas os  menos afortunados  faziam uma refeição por dia baseada na  “Xima” farinha de milho, muitas vezes acompanhada de “muliu” couve, ou “xibamba” feijão, que cozia horas infindas em panelas de barro encarrapitadas em quatro pedras sobre o fogo de paus de “micaia” trazidos á cabeça das mulheres, dos campos junto as “machambas”.
Os que viviam mais junto á cidade, era porque trabalhavam a servir o “mezungo”, e traziam as famílias para casas de capim,-“palhotas”, num zona delineada á esta população e de nome “temba”. Eles tinham que esticar o parco vencimento para se alimentarem, e raras vezes dava para comprar roupa ou uma capulana a mulher. Vestiam-se das roupas usadas que o patrão lhes dava, mais que não fosse para não parecer mal ter um empregado andrajoso.
E, era usual veremos as crianças que vagueavam pela cidade, encostados as varandas dos cafés, “vendo comer” os outros enquanto suas barrigas se revoltavam de fome.
Mas ninguém aceitava esta verdade, porque ignoravam esses casos de gente “inferior” como se não existissem chegando mesmo a “enxota-los” para que não incomodassem consciências, se é que as havia.
Nem sei como sobreviviam estas crianças, que nem iam á escola, rotas descalças de olhos tristes, ignoradas por uma sociedade de barriga cheia que não conhecia a palavra caridade.
Um dia para esses meninos escrevi assim:
Menino franzino, cabedula rasgada
Descalço, faminto, sujo perdido
Escondido na cidade como que a medo
Dormia na rua, á cacimba e sem esteira
Estendia a mão e a quinhenta pedia.
Mwana perdido que todos corriam
Á pancada ao desprezo de todos fugia.
“Quinhenta patrão!”, ninguém o ouvia,
E o menino pedia e chorava em vão
Por uma quinhenta , que ninguém deu
A moedinha branca precisa pró pão

(http://mariaalagoa.blogspot.pt/)

Entretanto viemos para a Portugal, um país para muitos desconhecido,  empurrados pelas politiquices dum governo que mais não fez que entregar, ou vender de mão beijada a terra que nos viu nascer, e deixou todos abandonados, mas ficaram muitos dos intervenientes desta permuta de bolsos cheios.

Quase quarenta anos passados, e a história repete-se, ou seja neste momento, a situação deste país mais não é que a repetição do passado, políticos de bolsos cheios, povo na miséria, a ser “colonizados” e a entregarem o que resta dum império de seculos.
Vende-se bancos, instituições públicas, companhias aéreas enfim todas as “jóias da coroa” o que é dum país soberano, a estrangeiros.
E já se vê crianças “vendo comer” os outros, vagueando pela rua, vivendo um inferno de vida, que não têm culpa,
 A fome, é o pior dos males, não se cura, não se engana, não se esquece, e para a matar tudo se faz, rouba-se, revolvem caixote do lixo,  lutam por um bocado de pão seco que seja, ou restos que outros não comeram e se preciso for mata-se.
Nesta Europa tão desenvolvida, explora-se o povo, tiram-lhe os parcos haveres, o emprego a honra, as pensões de reforma, por impostos para pagar as loucuras dos governantes.
Mais uma vez, ninguém tem coragem de julgar os responsáveis, que como sempre saem por cima ainda a rirem da desgraça alheia.
Que fazer das famílias abandonadas á sua sorte desempregadas, com dívidas no padeiro e na loja do bairro, com crianças esfaimadas, e sem nada que lhes dar.
Repetindo o meu poema apenas mudando algumas palavras
Menino franzino, roupa rasgada
Descalço, faminto, sujo perdido
Escondido na cidade como que a medo
Dorme na rua, á chuva e ao frio
Estende a mão e a esmola pede.
Menino perdido que todos ignoram
Á pancada ao desprezo de todos foge.
“Moedinha senhor!”, Ninguém o ouve,
E o menino pede e chora em vão
Uma esmola, que ninguém deu
A moedinha precisa para um pão!

É frustrante, o que se vê hoje neste Portugal.!

sábado, 15 de dezembro de 2012

O MEU PRESEPIO

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O meu Natal é e será sempre assim, um presépio de imagens Africanas, ao fundo o rio das minhas lembranças, de aguas límpidas, cheias dos meus sonhos de menina, lágrimas de alegria, suspiros de amor, saudades infindas.

Era assim o meu Natal, no canto da sala de visitas, um ramo de arvore com enfeites simples, bocados de algodão imitando flocos de neve que nunca vira, estrelinhas feitas das pratas dos maços de cigarros, que íamos juntando ao longo do ano, e nesta montagem muito amor.

Coisas simples que unem a família.

Importante era a manhã do dia de Natal, onde encontrávamos junto a arvore apenas um brinquedo, o que nos tomava toda a atenção e estimávamos com todo cuidado.

E estimávamos de tal modo que passados quase meio século, ainda foram companheiros de brincadeiras de meus filhos e netos.

E para a ida á missa não faltava o vestidinho novo e os sapatinhos a combinar.

Foi sempre assim o meu Natal, e quero que assim continue, com muito amor e em família.

Feliz Natal a todos.


sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Um conto de Natal

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Chaola, assim se chamava o pequeno enfezado que percorria as ruas da cidade, perdido da vida, não tinha casa, nem família.
Restara da colheita de morte que a doença do século ia fazendo pelas terras de África, e sozinho aventurara-se ate a cidade onde se dizia haver tudo que a vida lhe negara, pouca coisa pedia ao futuro, apenas comida e uma muda de roupa, pois a que trazia já perdera a cor e desfazia-se com o passar do tempo.
O mesungo que há meses passara perto da sua aldeia, a caminho da cidade, num carrão que rodopiava levantando aquela poeira que todos cegava, e fazia pasmar os pequenos, ouviu a exclamação: Uha , patarão!!. e sentindo-se importante, e admirado pelo pirralho chamou-o e deu-lhe a cabedula e a camiseta, a única que ainda vestia.
Já fizera tanto tempo….
Vagueava de dia pelos arredores dos restaurantes esperando encontrar alguma sobra que lhe matasse a fome, de noite recolhia-se num qualquer buraco onde ninguém o encontrasse, não fossem os outros mufanas , bater-lhe e roubar os parcos haveres que ia recolhendo do que  deitavam fora mas para ele era tudo que tinha.
Certo dia começou a notar maior movimentação nas gentes da cidade, as mamanas num entra e sai das lojas , com enormes sacos que colocavam a cabeça ou carregavam no braço, derreando as costas num esforço enorme.
Solícito oferecia-se  para as ajudar , umas aceitavam outras medrosas que fosse algum pivete que apenas as roubaria, davam-lhe enormes corridas.
Em troca havia sempre quem lhe desse umas quinhentas ou mais que não fosse, algo para enganar a fome.
Numa  manha  ao sair da missa estando ele como sempre , sentado ao fundo das escadarias de mão estendida, a D. Adélia, já com avançada idade, parou, olhou para ele e apenas lhe disse que a acompanhasse.
A medo e a uma distancia conveniente seguiu a senhora, cabisbaixo , pensando no que poderia  esperar.
Chegada a casa, pediu que o petiz entrasse, e esperasse. Dirigiu-se ao quarto dos fundos que não se abria desde que seus filhos partiram, escolheu algo e regressou onde esperava Chaola.
-Toma, vai ali ao fundo do quintal, lava-te e veste isto, quando acabares vem ter aqui.
Assim foi, em pouco tempo já  parecia outro, roupa lavada, nos pés umas sapatilhas enormes que ele achava serem de seu tamanho, e com um sorriso rasgado.
Adélia segurou-lhe na mão e empurrou-o para a mesa da cozinha, mandando     que se sentasse em frente a um prato de comida quente e cheirosa.
-Come menino, não tem fome?
Chaola, envergonhado come a medo, enquanto vai olhando a senhora, quando esta lhe pede que conte a sua história.
Terminada a conversa e a refeição , ouve -a  propor que fique ali pois precisava de alguém que lhe fizesse alguns recados e pequenos serviços que a idade já lhe não permitia fazer.
O menino ainda hesita e num ápice recorda tudo por que passara , afinal ter um prato de comida e uma cama para dormir era mais do que esperava quando se aventurara a vir para a cidade.
Por ali ficou uns anos, até que num dia quente de Dezembro, D.Adelia partiu.
As lagrimas corriam pelas faces negras na incerteza do seu futuro, sentado numa pedra do quintal da senhora debaixo duma sombra fresca,  foi recordando o dia que ali chegou, e só mais tarde se lembra que naquele dia, D.Adélia, havida estado a assistir á missa de Natal.
Chaola, pega nos seus parcos haveres e parte para longe para trabalhar como magaíça, com ele leva um retrato tirado com a senhora,  no quintal da casa que o tão bem o acolheu e jamais esqueceria,  seria o seu guia. 



domingo, 9 de dezembro de 2012

O 8 de Dezembro.

Estou triste, talvez por ser como sou, ligada aos bons tempos da minha juventude, dos tempos de menina e jovem, estudante de dois colégios religiosos, onde as pessoas que me rodearam passaram a fazer parte da minha vida para sempre.
Foram nestas instituições que fizeram de mim a pessoa que hoje sou, guardadora de recordações que jamais o tempo apagará.
Lembro-me de pormenores que muitos já esqueceram, mas o 8 de Dezembro esse dia, jamais o poderia esquecer.
lavores


Naquele tempo no colégio de S.Jose de Cluny andávamos numa azafama com a Irmã Doroteia a perna no faz e desfaz os pontos de bordado do enxoval do berço.
Sim, um belíssimo enxoval de bebe feitos nos mais delicados tecidos, com imensos pontos miudinhos e perfeitos, bordados com delicados desenhos de florzinhas, em linhas de seda, e bainhas abertas nos lenções delicados de cambraia.
A alcova, e mais o cestinho redondo de asa alta, feito pelos presos da cadeia, era lá onde que se ia comprar.
Depois forrado de folhos de tecidos aos quadradinhos terminados em  alva renda com espaço para nele passarem as fitinhas de cores que lhe davam um toque mimoso. A combinar o tal cestinho redondo que também forrado do mesmo tecido servia para os produtos de banho do bebé.
Tudo era exposto para que os visitantes pudessem apreciar a beleza que das nossas mãos saiam apesar da nossa pouca idade.
E era o dia da mãe, a missa pela manhã, as prendinhas e um dia diferente e maravilhoso.



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Nos anos que estive no Colégio da Imaculada Conceição em Vila Pery, também era dia de festa enchia-se a salão de entidades e pais das alunas, decorria sempre um teatro com a participação das alunas.
Hoje já não é o dia da mãe, já ninguém se lembra da Imaculada Conceição nem do que se passou nesse dia em anos passados, e com o andar dos tempos até deixará de ser feriado.
Perdeu-se parte do nosso passado, que pelos vistos já ninguém se lembra.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Parabéns minha filha. !

Foi num dia quente a 5 de Dezembro, a hora chegaria brevemente, o avião havia sido fretado á Companhia aérea dos Guerra, um táxi aéreo que faria a ligação entre Tete e a capital da Rodésia, Salisbury.

No aeroporto de Tete um pequeno edifício onde se fazia o Check-in e as chegadas dos voos á cidade a temperatura era idêntica, o meu nervosismo com uma enorme barriga de 9 meses e um pequenito de 3 anos pela mão, aumentava.

Chegou a hora de embarcar, pela porta passa o piloto que nos levaria, um homem alto de rosto quase deformado de queimaduras saradas. Um vazio enorme se apoderou do meu estômago, o que não passou despercebido, e com um enorme sorriso descansou-me explicando que as ditas cicatrizes haviam sido de uma brincadeira em jovem. Ora e que imaginava outra coisa.

E embarcamos mesmo á hora, num voo calmo de cerca de hora e pouco, com o meu filho pequenito mexendo em tudo, a ponto do piloto lhe dizer que “nessa alavanca, não senão fechas o combustível e a tua mãe tem o bebe aqui em cima.

Correu bem a viagem, chegamos cedo. O nascimento do bebe estava previsto para dia 10, confirmado pelo medico Dr.Lampretch, após a consulta desse dia, assim foi um passear pela cidade num entrar e sair de lojas cheias de coisas lindas como aquela cidade nos ia habituando.

O OK Bazar, o Greatman´s, a BATA, e muitos outros locais de moda que para quem vinha de uma cidade do interior deixava qualquer um fora de si.

Almoçamos num belo restaurante sito no Monomotapa,  e já ao fim do dia, cheia de sacos de compras regressamos a casa.

Ao jantar e como ainda faltavam 3 dias para o programado dia da chegada do bebé, falamos das saídas dos próximos dias.

Durante a noite, entrei em trabalho de parto, não podia ser, dizíamos nós pois tudo estava programado para dia 10, mas a Luiza apressada insistiu em antecipar o dia da chegada.

Chamamos o táxi e corremos para a maternidade Lady Chancelor Maternety Home.

Dei entrada, e o contacto com o medico efectuado, o que ele duvidou pois havia-me consultado nesse dia.

E só no dia seguinte pela manhã de dia 06 Dezembro em visita á maternidade constatou a veracidade da chamada da enfermeira de serviço de imediato mandou que se preparasse a sala de operações e cerca das 12h00 nasceu a minha filha.

Foi há anos, mas relembro como se fosse hoje.

 Maria Luiza, nasceu num país de sonho Rhodesia, numa cidade linda- Salibury, de ruas com  jacarandas que as atapetavam de roxo e com gente linda.

A minha filha lutadora, amiga de todos, chegou quando quis, vive como gosta e é feliz.

Parabéns minha filha.


 

sábado, 24 de novembro de 2012

A vaca e o Burro


Desde sempre pertenço a religião católica com muito orgulho, fui baptizada, aprendi a catequese fiz todas as minhas comunhões e profissão de fé, casei pela igreja, baptizei meus filhos, consagrei-os á Senhora de Fatima, rezo ao meu Deus e creio nele.
Passei toda a minha vida acreditar na religião e nas escrituras.
Verdade que muita coisa questionei, e quando o fiz a resposta era sempre a mesma: São dogmas da igreja. (Um dogma, no campo filosófico, é uma crença/doutrina imposta, que não admite contestação. No campo religioso é uma verdade divina, revelada e acatada pelos fiéis. No catolicismo os dogmas surgem das Escrituras e da autoridade da Igreja Católica. No Catolicismo, o dogma é uma verdade revelada por Deus. Com isto o Dogma é imutável e definitivo (não pode ser revogado).
Com o passar dos anos e adulta confesso que há muitas coisas que me parecem “história” mas também não são de grande importância no meio de tanto de bom que há no Catolicismo.
Nos últimos anos a igreja tem perdido espaço para outras religiões que chegaram ao povo “roubando-os” á igreja católica.
Quer pela assistência junto deles, ouvindo seus males passando a palavra de ânimo e fé em dias melhores, uma palavra amiga no momento que mais se precisa e muitas vezes quando o desespero impera.
A vida para maior parte das gentes, não tem sido fácil, vieram dum regime oprimido que a palavra do padre era lei, ele é que os orientava na vida o que deveriam ou não fazer, até mesmo nas alturas conturbadas da politica.
Nesta altura os padres estavão bem mais atentos e junto aos fiéis.
Actualmente por muito boa vontade que se tenha, o padre deixou de ser apenas padre que visitava os fieis e os ouvia e passou a ser professor em escolas ou universidades, gestor de lares, e outras comunidades que lhes roubou tempo para assistir aos seus deveres de outrora.
Com o passar dos tempos e a liberdade adquirida após 25 de Abril, o povo melhorou a vida, começou a receber a sua reforma, abrandar os seus trabalhos de subsistência, a mandar os filhos estudar e tudo de novo se instalou nas suas vidas.
Talvez impreparado começa a cair-lhe em cima problemas que anteriormente não tinham, filhos na droga, maridos infiéis, dívidas inesperadas, e como sempre é á fé que recorrem.
Precisam de uma palavra amiga dum conselho de alguém que oiça suas amarguras, que entre em suas casas e lhes dê a esperança, uma palavra de alento.
Mas isso deixou de existir, o padre apenas aparece ao domingo para dizer a missa, algum baptizado ou casamento e nada mais.
Aqui entram as ditas outras religiões, de porta em porta entram conversam e convencem-nos a curas milagrosas dos males do corpo e da alma, e levam-nos para as suas igrejas.
A crise de padres na Católica está instalada, poucos há nos seminários que dê para substituir os já idosos sacerdotes que quase arrastando-se, vão celebrando as missas ao domingo, mesmo assim é ver a ausência de gente assistir.
A juventude deixou de ter uma religião, deixou de ter fé, tem uma autêntica ausência de crenças religiosas, e moral.
Grosso modo deixou de haver casamentos religiosos, baptizar os filhos e manda-los a catequese, salvo algumas excepções, ainda há crianças aprender a catequese.
Não bastando toda esta crise, apareceu ultimamente escritores pondo em causa todas uma base religiosa católica.
São livres de o fazer, o que também sou livre de achar indecente, pois se acontecesse faze-lo com outras religiões certamente teriam alguma surpresa bem desagradável.
Por em causa a base duma religião abana qualquer cristão, em vésperas de plena época Natalícia, a mais alta entidade da Igreja católica publicar um livro pondo em causa algumas figuras do presépio, choca-me profundamente, quando há um universo de coisas muito mais urgentes a actualizar.
Questiono firmemente qual a importância de desmentir a presença do burro e da vaca no presépio, isso alguma vez altera a importância no nascimento do Salvador?
Os reis magos, a estrela de Belém, bolas, para nós adultos com alguma inteligência percebe de imediato que não passa de “composição” da cena do presépio, mas que ali foi colocada certamente para representar toda os seres vivos fosse gente ou animais.
E agora as crianças, onde ficam no meio disto tudo?
Ninguém vai ter coragem de dentro de dias ao fazerem o presépio, dizerem-lhes que terão que retirar 5 figurinhas que já não pertencem ali.
Eles já não acreditam no pai Natal, agora vão deixar de acreditar no presépio?
Era necessário esta publicação:
Perto do Natal, papa lança livro sobre infância de Jesus
O papa Bento XVI lançou nesta semana um livro sobre a infância de Jesus, o terceiro de sua autoria com relatos da vida de Cristo. O sumo pontífice optou seguir de forma fiel as informações dos quatro Evangelhos, deixando de fora elementos incorporados pela iconografia católica, como a presença de animais no local de nascimento.
O terceiro aborda o nascimento em Belém (e não em Nazaré, como muitos acreditam) e faz referência ao contexto histórico do nascimento de Jesus
” O quarto capítulo fala sobre o papel dos Reis Magos, que representam, segundo o papa, a humanidade 'quando faz o caminho para Cristo'.”

domingo, 18 de novembro de 2012

Viajar

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Viajar é aprender…só que nem tanto!
Todos os anos viajo em férias ou serviço, e acontece sempre a mesma coisa: Uma carga de nervos que me limita o gozo que teria se tudo corresse bem.
Logo a chegada ao aeroporto de bilhetes na mão, procuro o primeiro ecrã que me possa indicar o balcão do check in do voo que irei apanhar.
Mesmo com o tempo de antecedência regular encontro sempre imensas filas de gente que, como eu também gostam de não chegar atrasados.
Aqui começa a cegada….
Algum tempo após, começam a surgir os inteligentes que vem atrasados, e querem passar a frente de todos que pacientemente já ali estão desde cedo.
A técnica é diversa, desde fazer de conta que vai cumprimentar um amigo que já se encontra no início da fila e aos poucos ir empurrando as malas para junto deles.
A outra técnica e dizer que a mulher esta grávida e tem prioridade, quando ela apenas padece duma imensa obesidade.
Acompanhando estes turistas que vão apenas por uma semana ou menos, uma catrefada de malas que mais parecem estar a mudar de casa.
Não bastando a imensa bagagem de porão ainda os saquinhos…aqueles simpáticos sacos a que chamam de mochilas, que os acompanham para dentro do avião com um peso quase superior ao que despacham.
Após todas as démarches, o embarque.
Só a entrada nos minis bus até chegar ao avião, começa logo aqui o empurra para apanhar um banco sentado para um trajecto de 5 minutos, sim porque a viagem longa justifica!
Esbugalham-se os olhos para o cartão de embarque para localizarem o lugar que criticam ser muito atrás quando no check in nem reparam se lhes atribuem um lugar a frente ou no fundo do voo.
Chegado aos respectivos assentos, uma cena para colocar nos porta-bagagens toda a parafernália de “catundos”, enquanto os outros pacientemente esperam que eles desimpeçam o caminho para poderem passar.
Ufa! Enfim, tudo sentado.
Quando pensamos que já acomodados, iremos sossegadamente fazer a nossa viagem, pegamos num livro para ajudar a passar as horas que ali passaremos entalados entre dois assentos que quase não nos permite respirar.
O parceiro da frente, não esta de modas e como se sente um nababo sentado num avião, coloca o dedo seboso no botão lateral do braço do assento e pressiona, colocando o assento refastelado para trás. Assim é que é, até parece que esta na sala de estar lá de sua casa.
O passageiro da cadeira de trás que se lixe, e fica com um espaço mínimo que nem dá para continuar com o livro aberto.
Logo que se apaga a luz indicadora dos cintos ajustados, começa a festa, levantam-se, estende os bracinhos ao máximo deixando escapar o “pachuli” do sovaquinho transpirado e toca de abrir o porta-bagagem superior. Tira mochila saca de lá uma qualquer coisa, dez minutos passados a mesma cenas agora para colocar o que de lá tirou!
Outro tempo que tal, e novamente os mesmos gestos, repetindo-se isto dezenas de vezes, com o inevitável barulho que faz o abrir e fechar do compartimento.
E assim se desenrola toda a viagem num vai e vem á mochila!
Apenas o anúncio de que ira servir alguma “sandocha” os mantém por momentos sentados e quietos.
Refilam porque a refeição não presta, mas pedem outra dose se houver.
Durante o voo um vai e vem pelos corredores que impedem trabalhar as hospedeiras.
Á chegada repete-se a mesma cena inicial para tirar os pertences e desembarcarem.
Os lugares que ocuparam ficam pejados de lixo.
Ora diz o bom senso que não vale a pena ter pressa para saírem do avião e correr a ir buscar a bagagem ao tapete porque ela terá que ser transportada do avião ate ao terminal o que leva algum tempo, mas isso tolda todo o raciocínio e vai tudo a correr a procura do tapete onde possa apanhar bagagem.
Uns dez a quinze minutos demora a bagagem até começar a aparecer a primeira mala, mas ninguém se atreva a chegar ao pé do tapete porque em toda a volta está gente colada ao círculo da passadeira a espera da primeira mala.
Ai é que são elas, enquanto a dita não aparecer os que já tem a mala a rolar no tapete não tem qualquer hipótese de lá chegar que a fileira esta cerrada e intransponível.
Após uns empurrões de quem puxa pelo seu troféu sem reparar quem esta ao lado ou atras, dá com a dita nas pernas de alguém, e nem pede desculpas.
Ufa…Já consegui espaço para pegar na minha mala e sair daquele inferno.
La vão eles, felizes de carrinho atulhado de malas e sacos mais os ”recuerdos” que compraram durante as férias, uma parafernália de coisas que se fosse no nosso país ninguém as compraria.
Hoje começo a entender o porquê das Low coast cobrarem pela bagagem que levarem...
Pois é, sou de opinião que em vez de passarem tantas telenovelas na televisão, que tal uns programas cívicos para o nosso “people” por exemplo?
Seria de uma imensa utilidade pública, para bem do pessoal dos aeroportos, companhias aéreas, e público em geral.
Assim espero.



sábado, 17 de novembro de 2012

Viajando por Moçambique

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Escrevendo a continuação da minha viagem por Moçambique, e chegando a Tete, as emoções tomaram conta de mim, fui escrevendo, escrevendo e não vai dar para aqui colocar tudo que até agora escrevi que quase nada é, do eu pretendo.
As recordações são demasiado intensas, obriga-me a descrições pormenorizadas de lugares e gentes, decidi que iria colocar em papel.
Vai demorar o seu tempo, talvez não vá interessar a ninguém, pelo menos será um testemunho que deixarei a meus filhos, e netos da vivência feliz em terras de Africa.    

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Viajando por Moçambique -part IV

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O cansaço já começa a tomar conta de nós, são muitas as horas de viagem e muitas as emoções, mas uma hora mais e chegaremos ao destino, Tete.

Andar á noite haviam-nos avisado que poderia ser perigoso mas nada havia a fazer senão seguir em frente, dormir no carro não seria opção melhor e a partir de Vila Pery as opções de pernoita não eram nenhumas.

Desviamos a atenção para os macacos que atravessam a estrada, e aquele por do sol que nos enche a alma.

Começa a imaginação a funcionar, e se conseguíssemos ver leões e gazelas, seria uma surpresa.

Aqui novamente recordo as noites em que ia com meu pai á caça, tantas horas a caminhar por aquele mato fora, lanterna na cabeça, arma na mão e dava para escolher o que se queria abater. Caçava-se por subsistência ou desporto mas controlado, apenas uma ou duas peças de caça que iriam encher a geleiras de todos, patrões e pessoal.

Mas não, estava tudo deserto, como acontece em África quando a noite manda que recolham a casa.

A paisagem também mudou, desapareceram as arvores que marcavam as silhuetas escuras nas fotos do por do sol, apenas o capim seco e as malambeiras.

Fomos andando, como que adivinhando o caminho, demos conta de passar o desvio para o Songo, para a Caroeira e no escuro da noite vimos ainda as casas que eram o Retiro da Saudade, a fábrica nova de tabaco recentemente ali construída.



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Estávamos perto, estranhamos a entrada na cidade que já não era pela avenida principal, onde havia há anos um nicho com a imagem de N.Senhora como que dando as boas vindas a quem chegava.

Agora a entrada era pela “circular externa” da cidade.
Uma sensação de retorno a casa foi-se apoderando de nós, avistamos a ponte, o velho Sporting etc.


Havíamos marcado dormida no velho Hotel Zambeze agora recuperado de um período de total abandono.

Chegamos á cidade que nos vira nascer, por ai ficamos mais dias, afinal há toda uma vida para recordar.





quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Viajando por Moçambique -Part III



Após o almoço e de estômagos mais aconchegados, comecei a ver tudo com outros olhos, a paisagem luxuriante lá estava, os laranjais, afinal Chimoio era o centro da comercialização de produtos agrícolas e tabaco.

Alguém comentou comigo que bem perto havia grandes plantações de flores que exportavam, fruto de trabalho de alguns agricultores Rodesianos que optaram por sair daquele país para se estabelecerem por ali.

Vila Pery merecia mais tempo de visita, ficava por ver a velha Chicamba real, recordar mais que não fosse a maravilhosa vista do lago lá de cima do miradouro.

A cabeça do velho estava com a mesma espectacularidade de sempre, formação rochosa que ficou indiferente ao passar dos tempos.

Era um ponto de referência para quem viajava ate aquelas paragens.



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                                                        Estrada Vila Pery-Tete

Partimos, pela velhinha EN102 que tantas vezes fiz, a paisagem vai mudando ao longe apenas capim alto e micais secas estendem-se por todo, aqui e ali palhotas marcam o local de vivência dos povos locais, e as “malambeiras “ que nos acompanham já há longo tempo.
Avista-se  as formações rochosas que fazem fronteira com a ex Rhodesia, hoje Zimbabwe.

Encosto-me fecho os olhos e recordo aquele belo país onde residi e fui tão feliz- A Suiça Africana.

Convicta que todo o caminho seria uma pista, deixei-me ficar aninhada no meu canto, mas aí é que me enganava, havia zonas boas outras com imensos buracos o que nos obrigam a ficar de olhos abertos até encontrar o melhor piso para passarmos.

Questiono-me como transita as gentes entre o planalto verdejante do Chimoio onde se vão abastecer de bens alimentares  a cidade de Tete.

Mais uns solavanco e adiante, Vila Gouveia agora Catandica ,zona rica do Barué, vem-me á memória os vastos cultivos de girassol e a loja do Valy Ossman. 

Vila simpática onde se sentia a leveza diáfana do clima tropical de altitude.


Aproxima-se o Guro, local ligado para sempre a família Serras Pires, uma casa cheia de gente, comandada pela matriarca D.Maria, sempre pronta a receber toda a gente.

Noutros tempos, uma  paragem, obrigatoria pela amizade destas gentes, hoje pouco ou nada resta da imagem de outrora.
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Quase me parece ver atravessar a estrada a professora baixinha e loira que nos últimos anos, destacada, dava aulas na escola local, se não me trai a memória chamava-se Teresa.

Ainda namoriscou um amigo, já desaparecido, grande companheiro do Jacinto Robalo e que me apresentou, nas escadarias do velho cine S.Tiago. numa das visitas a Tete

Mas não, por ali também passou o abandono e desleixo que destruiu tudo que de maravilhoso tinha aquela casa nos tempos áureos, de cor branca e  imensas flores quebrando a monotonia da paisagem.


Aceleramos em direcção a Changara, a estrada melhorava o que nos ajudava a recuperar o tempo perdido anteriormente.

A noite caía rapidamente e havia ainda muito chão para andar.


Changara, para muitos nada dirá este nome, mas para mim que tantas vezes por ali passei, olho desolada e apenas resistem os velhos embondeiros.

A casa do chefe do posto, pai da Fernanda e do Carlos Jacinto, as outras casas, já lá não está.

Talvez pela noite que já baixa eu as não veja, mas devem estar ainda no mesmo sitio, ou será que me responde Julius Kazembe , no seu poema


Changara
 Engoliram luas as crianças de Changara
Os olhos delas são pássaros tristes sem voo
que no desespero da fome acumulada
comem estrelas como se fossem grãos de milho.
Quando as sementes secaram nos campos
e o sangue secou nas veias dos rios
e a seiva secou nas veias das plantas
e o sol secou os celeiros da aldeia,
serpentes famintas silvam em volta
do peito cindido. Uma toupeira chora
ao frémito dos embondeiros. Grave,
arde sobre a erva amarga a dor:
Das luas engolidas pelas crianças

quantas tardará a ecoar nos jornais?



(imagens da internet)