Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

sábado, 1 de agosto de 2015

OS BRINQUEDOS DE ONTEM E DE HOJE



Luizinha foi uma menina que nasceu em berço de ouro, desde pequenina tinha em seu redor tudo que queria, bonecas vindas de Salisbúria as mais lindas que se possa pensar, as roupinhas mimosas e em seu redor sempre cheia de brinquedos novos.

Eram os tios os avós e amigos da mãe que a mimavam com tantas coisas, a ela e ao irmãozinho que tinha apenas a diferença de três anos.

Viviam num país maravilhoso onde já sua mãe nascera e fora criada, ao seu lado sempre alguém que olhava por ela, fosse o macaiaia ou mais tarde a nani de quem tanto gostava.

A vida obrigou-nos a partir num belo dia para um desconhecido deixando tudo para trás, levando apenas e só o pouco que connosco podiam levar.

Mas a primeira saída não foi má pois um país maravilhoso os acolheu, e os manos conheceram outra realidade onde apesar de tudo foi um começo de vida e aprenderam a valorizar cada brinquedo que recebiam estimando-o muito.

Um dia quis uma boneca e o irmão uma pistola iguala tantas outras que deixara no cesto de brinquedo em Moçambique. Eram crianças, mas as posses eram poucas e os dólares eram contados para aquele início de vida.

A vizinha, uma senhora portuguesa e marido grego, família Mikalaquis costurava para fora e sabendo da habilidade da mãe para a costura ia dando os restos de tecido.

Com muito amor a mãe fez uma boneca de trapos que ficou linda, com cabelo em lã que atava em duas tranças uns olhos azuis e boca vermelha bordado preceito.

Quando terminada, Luizinha abraçou-se a ela e não mais a largou, era a companheira de brincadeiras todos o dia, chamava a “mona”

Ao irmão numa tábua de caixa de fruta foi desenhada e esculpida uma pistola que com ela apontava a tudo como via nos filmes da televisão.

O pai quando chegou a noite emocionou-se ao ver alegria dos meninos ao mesmo tempo que dentro de si se instalou a revolta de não poder sequer comprar um simples brinquedo a seus filhos.

Ora no fim do mês quando recebeu o vencimento, não foi directo a casa mas passou numa lojinha e comprou uma  boneca de borracha perfeitinha com uma roupinha cor-de-rosa e ao menino uma pistola como ele sempre sonhou.

Ao chegar a casa receberam os brinquedos agradecendo efusivamente com beijos enquanto pendurados no pescoço do pai.

Certo é que não largaram os brinquedos que a mãe lhe havia feito, apegaram-se a eles como se tivessem sido comprados na mais cara loja da cidade.

Como companheira de brincadeiras no pequeno pátio do apartamento, brincava a filha do guarda que tinha a mesma idade que Luizinha, e criança que era olhou triste para a menina que não largava a “mona” apesar de já ter outra boneca.

Cuidadosamente a mãe foi convencendo-a que agora já podia dar a “mona” a outra menina pois já tinha duas bonecas. E assim foi a boneca de trapos passou para as mão da outra pequenina que a trazia cuidada todos os dias para brincar com Luizinha.

E a vida continuou a surpreender, e quando já estava tudo estabilizados naquele país onde os meninos já iam á escola, eis que uma manhã uma bomba rebenta junto á  casa.

Havia sido posta no marco do correio, os vidros das casas em redor partiram-se e o medo instalou-se.
Era o problema de todos que com crianças temiam pelo que pudesse acontecer, pois eles mesmo havia chegado da rua onde tudo aconteceu, e regressaram a Portugal.

As crianças não largaram seus brinquedos e trouxeram no avião com eles, mas para tristeza do irmão a pistola foi confiscada colocada num saco de plástico e entregue ao comandante para que á chegada a entregasse ao rapazinho, mas ele ficou desconfiado e passou toda a viagem a perguntar quando chegavam  ao destino

Efectivamente á chegada a hospedeira entregou intacta a pistola que se apressou a guarda na carteira da mãe não fosse ela desaparecer novamente.

Nova vida começou em Portugal, os mesmos caminhos as mesmas dificuldades ainda com o rótulo de “Retornados”.

Mas a luta continuou e foram em frente, e aos poucos foi tudo novamente  estabilizando.

Numa feira , Luizinha apaixonou-se por um carrinho de bebe para a sua boneca, e dentro do mais económico lá veio ela feliz com o brinquedo que depois passou a ir para todo o lado com a boneca dela acomodada em guardanapos da mesa que faziam de lençol porque estava frio e precisava de se cobrir.

Era azul, como escolhera com um papelão que fazia o fundo do mesmo e capota por causa do sol.

E estimou-o sempre, alias como todos os brinquedos que sempre teve.

Passados muitos anos, a família aumentou e as sobrinhas nasceram, ainda brincaram e brincam com ele mas teve que sem forrado novamente, agora de vermelho com direito a laço no cimo da capota.

Entre os brinquedos que eles sempre estimaram,  continuam a ser todos utilizados enquanto durarem pois guardam histórias de vida .

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Dia dos avós!

João Teixeira e Maria da Ressureição


Ontem foi o dia dos avós, mais um dia que inventaram a juntar a tantos outros na moda nos últimos tempos.

Mas não é que concordo com este dia dedicado aos avós.

Afinal são aqueles seres que estão um pouco esquecidos e no âmbito da família deveria ser os mais lembrados, afinal a vida começou por aí.

Pois dei por mim a pensar quem pouco conheci os meus avós, ou seja os meus avós paternos estavam do Brasil e a minha avó Maria da Ressureição, faleceu tinha o meu pai 9 anos, logo não a conheci mesmo. 

O meu avô Joao Teixeira faleceu aqui em Portugal já muito velhinho era eu ainda miúda e estava em Moçambique.


Apesar disso tenho boas memórias pelas palavras que meu pai nos foi contando.
Alberto Pina e Maria da Anunciação

Dos meus avós maternos conheci mais cedo, o meu avô Alberto Pina, porque os filhos o mandaram ir a Africa para conhecer a vida que levavam naquelas terras longínquas das quais nem faziam ideia como seriam.

Claro que adorou, ter ao fim de muitos anos os filhos todos juntos num almoço onde a mesa era enorme bem composta e com muita alegria.

Ver aquele mundo de terras por cultivar fez-lhe confusão pois la para os seus lados todos os arretos eram aproveitados para cultivar fosse o que fosse.

Uma vez fui com ele ao campo já aqui na aldeia, corremos tudo e eu já cansada admirava como aquele velhinho caminhava de passos miudinhos e apressados deixando-me para trás.

Levava um cesto no braço e uma “seitoura” (foice) afiada pois no regresso levaria alguma erva fresca que cortaria no lameiro dos Mancões, propriedade perto de casa, para uns coelhos que tinha.

E ali se punha de joelhos num instante enchia o cesto, ora eu pensado ser fácil pedi que me deixasse cortar também um pouco.

Certo é que á segunda tentativa logo ele me tirou a ferramenta das mãos pois alem de estar a estragar a erva corria o risco de ainda cortar os dedos.

É que aquilo tem ciência que a menina africana não sabia nem aprendeu.

A minha avó conhecia depois quando da nossa debandada de Africa, acolheu-nos na sua casa da aldeia onde para mim era tudo muito estranho.

Eram agricultores fartos, á custa de muito trabalho para criar 7 filhos e os netos que lá por casa iam ficando.

Senhora simpática e risonha, de uma genica enorme, só parou porque partiu uma perna quando descia do tractor e a idade já muito avançada não deixou que recuperasse.

Sentava-se a soleira da posta onde uma roseira já de tronco grosso pelo tempo que ali estava, enfeitava a entrada com rosas vermelhas.

No fim da vida juntava os bisnetos em redor a si e contava-lhe bastas vezes a nau Catrineta, um poema de um anónimo referindo-se a viagens longas para o Brasil ou para o Oriente.

Certamente muitos de vós não se recorda mas eram assim que ela a tinha decorado e nunca esquecido apesar da idade.

 Lá vem a Nau Catrineta,
que tem muito que contar!
Ouvide, agora, senhores,
Uma história de pasmar."

Passava mais de ano e dia,
que iam na volta do mar.
Já não tinham que comer,
nem tão pouco que manjar.

Já mataram o seu galo,
que tinham para cantar.
Já mataram o seu cão,
que tinham para ladrar."

"Já não tinham que comer,
nem tão pouco que manjar.
Deitaram sola de molho,
para o outro dia jantar.

etc etc

Meus filhos aproveitaram bem a companhia dela, aprenderam muito dos usos e costumes antigos, das orações que hoje já assim não é, aprenderam mesinhas, a cortar o quebranto, mau olhado,  pés torcidos etc rezas do povo.

Enfim passavam o tempo em seu redor e no fim la iam a casa buscar bolachas e fatias de bolo que partilhavam entre todos num lanche ao fim da tarde.

Ela alinhava escondendo a sua parte no bolso pois como tinha diabetes não a deixavam comer doçuras mas tenho a certeza que estas não lhe faziam mal, eram doçuras com muito amor dos netos e bisnetos , um grupo de crianças afinal.

Tenho imensas recordações dos avós por isto ontem recordei-os a todos com um sorriso sereno rezando para que esteja na santa paz do senhor.