Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

domingo, 11 de setembro de 2016

CARTAS



Andei a vasculhar gavetas esquecidas, coisas perdidas recordações de passagens da vida.

O que encontrei, muitas coisas , mais uma vez um reviver do passado de amigos, amores esquecidos, tempos tão antigos.

No meio de tudo isto, fotos antigas, montes de cartas dentro de envelopes amarelecidos pelo tempo ainda com respectivo selo no canto superior direito, alguns já com os cantos dobrados mas sobressaindo ao carimbo que lhes colocavam por cima como que prendendo-os para que não fugissem e se perdesse o seu conteúdo.

Cartas, muito bem escritas com uma letra certinha, outras nem tanto, mas que entre elas guardaram através do tempo exactamente o que queriam transmitir , fossem elas brejeiras ou de cariz mais serio mensagens de amizade, conquista de corações recados de amores tudo o que guardavam.

E guardaram tão bem que ainda sinto o cheiro de perfume que usualmente lhes acrescentavam bem como flores secas chamando atenção para um qualquer dia que se haviam encontrado.


Flores que colocavam entre as paginas de um livro até que secassem, e se tornassem o símbolo de um momento mais especial.

E vou abrindo e relendo uma a uma, fecho os olhos e revejo toda essa gente que enviou as ditas, e as lembranças caem em catadupa, umas fazem-me sorrir outras deixam-me os olhos marejados de lágrimas.

Uns que já partiram mas ficou a sua marca eterna na folha alva de papel apenas sobressaindo a tinta de caneta “Pelikan”, outros a distancia separou-nos pela imposição da vida.

E era assim naquele tempo, a corrida à caixa postal, abrir o envelope com um gancho do cabelo rasgando apenas a lateral do envelope, depois abstrair de tudo e todos e beber avidamente as palavras nelas contida, ate dobrar a meio e esconder no bolso da bata ou num seio.

Relia-se mil vezes a mesma coisa, até chegar a altura de as arrumar direitinhas numa caixa perdida no fundo escondido do guarda-fatos.

Hoje já não se escreve uma carta, é “cafona” coisas de velhos, apenas se escrevem mensagens cheias de palavras codificadas que não deixam rasto nem saudade pois sucumbem a um simples “delete” do telemóvel.

É tão bom ler e escrever, sentir o peso da folha de papel apenas manchada pela escrita indelével mas tão cheia de sentimentos.

Pois é acontece a quem guarda tudo, e depois encontra o mundo.