Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

sábado, 21 de outubro de 2017

NOVENTA ANOS DE VIDA DA MINHA MÃE




Como relatei no texto anterior ao chegar a casa dou com a minha mãe lavada em lágrimas.

Abracei-a e perguntei a razão ao que me disse ter pensado que poderíamos ficar no meio de qualquer estrada comidos pelo fogo como acontecera em Pedrogão.

Meu filho sempre ao lado dela e a falar connosco ao telemóvel dando-nos indicações ao minuto do que se passava no site da proteção civil, tão depressa indicava que a estrada estava desimpedida como fechada.

Enfim tudo isto para uma cabecinha de uma idosa baralha tudo e só descansou quando viu todos nós sãos e salvos ali junto a ela.

Acontece que tudo se desenrolou em véspera do seu nonagésimo aniversario, digamos que não foram horas felizes.

Mas cá estamos todos para tratarmos da festinha dela e a tristeza ficou para trás.

Pois é, a minha mãe fez 90 anos, maravilhosamente linda, de cabeça certinha recordando o que muitas vezes já eu me esquecera.

Viu-se assim no dia do aniversario rodeada pelos filhos que com ela vivem há muitos anos , os netos mesmo tendo minha filha vindo propositadamente, de Lisboa, para neste dia estar presente, a São uma sobrinha que é para ela como uma filha, e as bisnetas traquinas alegres rodeando-a de prendinhas feitas por elas mesmo, uma maravilha.

Ao jantar não poderia faltar o nosso camarão, e um leitão ainda a escaldar quando foi para a mesa o bom vinho etc

Depois as sobremesas, variadas,  e mais para o fim da noite o bolinho com as velas, pois aniversario sem bolo não é aniversario.(sic bisneta Margarida)

Uma festa maravilhosa, interrompida muitas vezes pelos telefonemas de quem nunca a esquece.

Toda a família fez questão de estar presente com um simples telefonema pois a impossibilidade de fazer a festa no fim de semana, não era possível. 

Toda a família não direi pois como todos os anos há sempre a neta que se esquece, mas um dia também será avó e verá o que doí.

Alias já no ano passado aqui contei que religiosamente ela aponta quem se lembra dela neste dia especial muito mais se aprimorou.

Não importa quando se não está só, quando em redor dela o amor de quem esta presente abafa os erros ou esquecimento dos outros.

De Tete onde morou meia vida ninguém se esqueceu, mesmo pelo facebook que lhe fui lendo as mensagens, o sorriso lá estava.

Bolas 90 anos de vida dedicada á família, acolhendo-os entre os braços para os alimentar ou adormecer, sempre presente junto a todos nós, três gerações, é uma maravilha.
Um bolo lindo!

Mesmo na espera de ser chamada para ser operada á outra perna que tantas dores lhe dão a andar quando da mudança de tempo, isto depois de duas operações seguidas este ano, é uma mulher valente.

Está linda, tal e qual como sempre a vi durante toda a vida, a nossa companhia diária a minha MÃE.

Feliz aniversario minha mãe, amiga, confidente, as vezes rabugenta mas é a vida.




Um brinde á mãe para que se repita por muitos anos.




 Com a neta Luiza Alagoa e a bisneta mais velha Maria Miguel 

 Com a bisneta mais nova. Margarida Alagoa

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

O FOGO DE OUTUBRO



Foi o fogo, um inferno que deixou muitas famílias desesperadas sem casa nem sustento.

Eu andava por estradas e caminhos a fugir dele, apenas ouvíamos “esta´” encerrado este caminho. Perguntávamos qual a solução para chegarmos a Viseu, minguem sabia, uns fugiam por um lado outros baralhados ficaram estáticos no vale de Penacova.

Ainda estava muito fresco o que acontecera em Pedrogão Grande, receamos que pudesse acontecer o mesmo a tantos carros a autocarros que ali estavam parados juntos uns aos outros.

Voltamos para trás para Coimbra tentando Mealhada, IC2 até Albergaria Velha A25. Estava fechada há meia hora ,desviamos para Sever do Vouga, mais m75 km, depois Covelo por caminhos municipais N333-3 mais quase 30Km.

Mas as estradas ladeadas de pinheiros e terrenos por limpar, com curvas e contracurvas que assustavam, até que após a tentativa de 65km andar por tudo que é caminho e já desesperados resolvemos regressar a Sever do Vouga e dormir por lá.(já havíamos feito 165km inglórios
Eram já uma da manhã, como eu todos os que andavam a tentar chegar ao Porto ou Viseu.

Procuramos onde dormir, estava tudo cheio por aqueles que se anteciparam a nós.

Minha filha dirige-se à GNR pedindo ajuda ou indicando caminho para de lá sair ou onde pudéssemos dormir.

Simpaticamente indicaram-nos uma Residencial meio fora do centro de Sever do Vouga, onde nos abriu a porta uma senhora já de idade que mesmo apesar de ser tão tarde se prontificou inclusive aquecer-nos rojões que tinha sobrado do jantar.

Numa mesa do restaurante da Residencial colocou-nos para comer, pão, queijo, pastelinhos de bacalhau, os rojões,leite etc além de fruta.

Meu Deus cansados nem fome tínhamos mas fomos agradecendo a todos os santos ainda haver gente boa neste mundo.

Um quarto triplo, limpissimo com a roupa da cama e atoalhados imaculado, foi cair nela e descansar.

O Canto da Coruja era o nome da Residencial, a dona chama-se Irene.

Não poderia passar ser nomear aqui quem nos valeu no meio daquele inferno.
Muito obrigada D. Irene, pela sua disponibilidade e simpatia, toda a sorte do mundo para si.

No regresso fomos vendo muita gente que passara a noite no carro.

Vinha de Lisboa de onde tinha saído às cinco da tarde para chegar no dia seguinte às 11 horas da manha.

Não há quem castigue estes incendiários que aos poucos vão matando Portugal, e as suas gentes.

O interior já estava deserto, apenas idosos esquecidos que arrastando os seus velhos ossos, cultivavam a sua horta para se alimentar, cuidava dos seus animais que morreram queimados, as casas ainda de pedra certamente onde o frio já entrava pelas frestas das pedras, agora nem isso têm.

Estão na rua, o Inverno está á porta que Deus os ajude e os homens os não esqueçam pois não tem solução para a vida.