Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

sábado, 7 de março de 2015

OS SACOS PLASTICOS.

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imagem da internet

De idade avançada caminhava D. Inês arrastando os pés, equilibrando-se entre dois sacos de plástico que transporta nas mãos.

Baixinho vai remoendo palavras imperceptíveis, de testa enrugada zangada com a vida e com os anos pesados de trabalho já passados.

Toda a vida comprara na loja do bairro o necessário para confeccionar a sua alimentação diária, até porque aproveitava e dava dois dedos de conversa com quem estivesse por lá o que a tirava de uma solidão de velhice que já vivia há muito.

Naquele dia o merceeiro cobrou os sacos plásticos, uma norma desses políticos que alem de lhe roubarem na reforma agora até os saquitos onde sempre levou a hortaliça e o arroz lhe queriam cobrar.

Pois que 20 escudos (ainda calculava o valor dos 10 cêntimos pela moeda antiga) fazia-lhe falta para outras necessidades.

Chegando a casa, sentada na soleira da porta aproveitando os raios de sol ainda mornos, deita mãos a obra enquanto se recorda velhos tempos de menina la aldeia, que via a mãe a fazer as taleigas onde guardavam os cereais que colhiam e levavam ao moinho.

Não era difícil, bastava uma tira de pano e uni-la pelos lados, recorda ela, ainda consigo fazer igual mais pequenos que lhe desse jeito a carregar as compras, e não se haviam de rir dela.

E assim fez, na velhinha máquina de costura que deixara de cozer há muito, fez o primeiro saco cortado de uma saia que já não vestia, depois outro de uma pano branco que por casa andava, e outro e outro.

Tomou-lhe o gosto e até mesmo os foi enfeitando ora com uma flor bordada rustíco, ou com um folho em volta.

Como o tempo não custava a passar, entretida entre tesoura linha e agulhas.

Na mercearia já lhe chamam a D.Ines dos sacos pois já oferece alguns às amigas na troca de ideias novas e modelos.




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imagem da internet

O último, vira ela numa revista, bastava colocar um botão e ficavam dobradinhos.

E assim foi aproveitando tecidos que dormiam no fundo de uma gaveta, queimando a solidão e revivendo tempos idos.

Aí daqui não levam eles nem um tostão em troca de um simples saco plástico, dizia ela de olhos brilhantes e sorriso maroto.


E assim os sacos plásticos perdiam para esta gente que apesar da idade deram volta ao assunto.