Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

domingo, 6 de janeiro de 2013

A Partilha de alimentos

Photobucket

Tenho assistido diariamente ao quanto o português é benevolente para com o seu próximo nestes momentos de grande crise.
Basta um organizar um peditório e todos acorrem partilhando assim o que tem com os que não têm.
É ver armazéns cheios de bens alimentares, roupa, brinquedos, calçado que diariamente vão distribuindo pelos que precisam.
Apenas gostaria de entender o critério com que se fazem as partilhas dos bens, isto porque os Media mostram pessoas que semanalmente levam 4 a 5 pacotes de arroz, o mesmo de massa etc. etc.
Ultimamente vejo reportagens de ajuda alimentar onde é distribuída comida já confeccionada, o que também não percebo o critério desta ajuda.
Concordo, com todas as ajudas, mas não entendo o “como” são repartidas.
Ora uma família de 3 ou 4 pessoas comem numa semana 5 kg de arroz, ou 3 garrafas de óleo?
E a facilidade de irem de “Tupperware ” buscar diariamente a comida.
Com tantas voluntarias no terreno, não seria bom que começassem um “workshop” como se diz hoje porque no antigamente seria, “ensinar” as pessoas como confeccionar os seus próprios alimentos sem haver desperdícios?
É que tenho impressão que esta não será a melhor maneira de ajudar esta gente necessitada, porque se sobra comida feita de um dia para outro deitam fora, e vão buscar fresca no dia seguinte.
Se for produtos alimentares, de que lhes vale ter 4 kg de arroz em casa e mais nada para fazer?
Dum pão no Alentejo de outros tempos, fazia-se a sopa, o segundo e sobremesa que enchia a barriga a toda a família.
No Norte uma boa panela de sopa matou a fome e criou muita boa gente.
Quando cheguei das Africas, passei por esses caminhos, e não foi fácil porque vinha duma vida farta e boa.
Também estive nas filas do IARN a receber farinha, óleo, leite em pó, arroz que vinha da Europa para ajudar os pobres coitados dos desalojados e tive que reaprender a viver, só que tive bons “professores”, as gentes que ca viviam e estava habituada a que uma folha de couve desse para fazer o comer dum rancho de miúdos esfaimados.
Nada se perdia, tudo se aproveitava.
Aprendi, na falta de batata engrossar a sopa com pão duro, a fazer uma cebolada com legumes que acompanhava a batata cozida.
Se sobrasse metia-se dentro um arroz que acompanhava com “nada”, e se sobrasse ainda desse arroz, misturava-se uns ovos, uma cebola e salsa picadinha, e saíam pasteiszinhos, que eram uma delícia.
Uma lata de sardinha dava para uma refeição á vontade, dividia-se em pedacinhos, picava-se uma cebola, e misturava-se com polme de farinha, tipo pastéis da horta.
Ao domingo, comprava-se um franguinho um luxo para muitos, desmanchava-se o dito.
Tiravam-se os peitos, as pernas e as asas, A Carcaça ia para dentro da panela ferver o que dava uma excelente canja, o resto era partido miudinho para que chegasse a todos, e estufado porque com molho sempre rende mais. Chegava a dar para 3 refeições.
Dizia uma velhota que Deus a tenha, e que tinha a seu cargo 5 netos, o que interessa é o gosto!
Ia-se ao talho pedir ossos para a sopa sempre a temperava e bem.
Porque havia crianças, e para que não dessem conta do que se estava a passar, tudo se fazia para não faltar os docinhos.
Aprendi a fazer o bolo de água, com apenas tres ovos.
Filhoses ou fritas como aqui se chamavam, com farinha, fermento casca de limão e agua. Bem tendidas e fritas em oleo, envolvidas em açúcar, adoravam.
Ao pequeno-almoço, era as migas de café, como não gostava fazia papas aveia “Porridge” ou de farinha de milho, ora mais grossa que chamavam “de ralão” ou farinha mais fina que a sobrarem podiam bem ser a sobremesa do almoço colocando açúcar queimado por cima. Quase parecia pudim.
Ao lanche, o pão era com marmelada ou doce das frutas "tocadas" da epoca.
E muito mais que levaria muito tempo a descrever, e assim se passaram muitos dias até a vida endireitar.
É que continuo a ver comida deitada fora nos contentores do lixo, sacadas de pão e panelas de comida.
Ah já me esquecia, os brinquedos, inventavam-se- bonecas e bolas de trapos. Era uma brincadeira pegada, na rua a jogar á macaca ou as “apanhadas”.

Como diz o proverbio chinês:
"Antes de dar comida a um pobre, dá-lhe uma vara e ensina-lhe a pescar."