Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Fotos antigas

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Hoje deu-me para a saudade!

Isto acontece sempre que estou de ferias impossibilitada de sair devido ás intempéries.

Pego nas velhas fotos que se encontram perdidas dentro de uma caixa e vou passando uma a uma.

Já velhinhas muitas delas perdendo a cor, vão acordando tempos passados que se encontravam adormecidos na memória.

Memorias boas, outras nem tanto.

Encontrei fotos tiradas quando da minha chegada a Portugal, fotos da decadência da vida para a qual nos empurraram, numa aldeia perdida num vale fora de toda a civilização, rodeada de gente boa trabalhadora, com mãos gretadas tez queimada pelo sol, habituados á vida dura do cavar e semear os campos, tratar do gado, comer do que tudo isto lhes dava.

Eram felizes, reconheço-o mas para mim foi um choque.

Jamais tinha estado em Portugal não fazia a mínima ideia de como era viver nestas terras, onde o calor eram bom mas o frio insuportável.

Onde poucas eram as casas que tinham casas de banho, onde se cozia o pão no forno da aldeia no meio de tanta caruma e giestas pelo caminho, se cozinhava em panelas diferentes das nossas, de ferro e com pernas numa lareira sempre acesa que tinha que ser alimentada com a lenha que transportava nos braços trazida das lojas.

As casas escuras de pedra, os colchões de folhelho, o peso das mantas de trapos, á mesa uma malga de sopa e um comer tão diferente do nosso.

Hoje acho tudo normal mas naquele tempo foi um período de grande sofrimento,

No meio e tudo isto duas crianças de olhitos arregalados de espanto olhando-nos como que quisessem entenderem o porquê de tudo.
E as gentes, que nos olhavam de soslaio pois eram os retornados que habituados a boa vida fazia-nos bem saber o que a vida custava.

Um autentico “apartheid” entre brancos de cá e de lá.

Meu pai como timoneiro de toda a família agarrou em nós e levou-nos para a cidade, um apartamento alugado, apenas com as camas, uma mesas quatro bancos um fogão e um frigorifico.

O que se pode comprar na altura.

Foram tempos muito difíceis, houve separação da família, á procura de emprego, muitas lágrimas, uma luta intensa ate chegarmos onde hoje nos encontramos.

Se foi tudo mau, talvez mas no meio de tudo isto ficou a força e a união familiar o amor entre nós e a forma como lutamos sem nunca nos perdermos,

Por isso olho hoje para esta foto com muito orgulho e saudade.