Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

AERO CLUB -Reveilon


 photo Aquele-cheirinho-da-terra-molhada.jpg




Chegou  31 de Dezembro, almejava-se o baile da passagem de ano, a ocasião era única, um desfilar de gente linda, bem penteada, vestida e perfumada.

As mesas antecipadamente reservadas dispunham-se em redor da pista, para lá se dirigiam as gentes com os tabuleiros de guloseimas para festejar a meia-noite.

Os bailes, no aero-clube, eram inesquecíveis, na mesa que se tornava enorme pelo números de pessoas que se juntavam,  todos se divertiam, trocavam-se os pares nas danças num conviver saudável.

Foi ao som do tango “La Cumparsita”, que Judite sentiu que José a apertava mais e um turbilhão de sensações percorre-a, fica petrificada, quase sem respirar numa luta de sentimentos que lhe agrada.

Deixa-se ir, o cheiro do aftershave da face bem escanhoada, atordoa-a e sente que ele encosta o rosto ao seu. 

Na mão ele coloca-lhe  um lenço alvo protegendo da transpiração, nas costas imparável a sua mão.

Termina a dança e o silêncio é total.

Disfarça, na mesa onde todos conversam, e que não ouve porque uns olhos cor de mel não despegam dela.

Inicia outra música, de novo pede-lhe para dançar, mas sente as pernas tremer e recusa, diz-se cansada, procuram outro par e  na mesa aos poucos ficam apenas os dois.

Muda de lugar para seu lado, ela baixa os olhos e em silêncio por debaixo da mesa, sente o calor da mão, no joelho, apenas isso,  ele levanta-se e vai ao bar.

Regressa com um copo de whisky e uma Coca-Cola que lhe coloca a frente, indo sentar-se novamente afastado dela.

 Ninguém dá por nada, e a conversa na mesa flui normalmente.

O conjunto Alvorada continua com seu reportório de música para dançar, “Quizás, Quizás, Quizás”.

José  pega-lhe na mão e pede-lhe para ir dançar, não tem como recusar e novamente se juntam os corpos, num respirar acelerado, a letra da musica substitui-lhe as palavras: 

Estás perdiendo el tiempo
Pensando, pensando
Por lo que más tú quieras
¿Hasta cuándo? ¿Hasta cuándo?

Afasta-se e olha-a nos olhos o que a deixa ruborizada, ela  instintivamente encosta-se a ele até que a dança termine.

E dançou uma e outra e esquece as horas, até que batem as 12 badaladas e entram num novo ano.

Todos se levantam, abraçam e beijam indiscriminadamente num cumprimento de Boas Entradas no novo ano.

Brinda-se com finas taças de cristal cheias do liquido espumoso bem gelado, apenas se ouvindo o tilintar do vidro e os cumprimentos.

Como costume, tocam a valsa da Meia-noite, onde rodopiam alegremente festejando a chegada dum novo ano.

De seguida o tango dos barbudos sabe-se lá porquê.

Ninguém dá por isso, e sorrateiramente deixam a pista de baile, saem para o terraço com a desculpa de estar mais fresco,

Perdem-se nos abraços silenciosos onde as palavras estorvam, e ao som abafado da musica continuam  dançando sós,  juntinhos até ao nascer do novo dia.

No horizonte, já vai raiando, um enorme clarão , esse sol maravilhoso Africano, que jamais esquecerão! 

Feliz Ano 1967