Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

50 ANOS DE MATRIMONIO




A imagem pode conter: 3 pessoas, incluindo Maria Alagoa, pessoas a sorrir, pessoas em pé



Naquele dia logo pela manhã , o corrupio havia começado .

Do meu quarto ainda na cama fui vendo pela fresta da porta, o vai vem de gente como se o dia tivesse deixado de ter as horas habituais .

Levantei-me, o quarto da minha mãe já estava impecavelmente arrumado e sobre a cama uma nuvem de tecido branco ocupava todo espaço .

Era o vestido de noiva!

Como que nada fosse comigo, fui ao duche fresquinho como se queria ao contrário da temperatura que já se fazia sentir lá fora .

Tomado o mata-bicho , saí porta fora como se nada fosse comigo, caminhei para a cabeleireira.

As horas iam passando e a calma mantinha-se, sai da cabeleireira e fui devagar vendo as montras.
Um carro apitou quase ao meu lado, de dentro um gesticular apressando-me pois já tudo me esperava em casa.

O calor que fazia ia desfazendo os canudos do cabelo que tinham sido cuidadosamente vincados.
Já em casa de ar condicionado no máximo , fui -me vestindo enquanto cá fora os padrinhos Isabel e João Senra iam controlando as horas.

Sai então do quarto toda aperaltada convencida que iria sair directamente para a igreja, eis senão quando me vejo em frente ao fotógrafo pronto para a sessão fotográfica !

Meu Deus mais um tempo infinito, foto de frente ao espelho, junto a “corbeille” das prendas, depois com os pais, irmã, padrinhos , amigos .... até que alguém me tirou de tudo aquilo para sair de casa.
Já estava atrasada mais de uma hora.,

Na rua e no Mercedes preto, esperava-me o choufer .

Em cortejo desfilava, seguida pelos familiares e convidados até a igreja onde já me esperavam todos.

Foi uma cerimónia linda, acompanhada pela lindíssima música tocada pela irmã Trindade, a troca de alianças e mais fotos dentro da igreja.

Já fora da igreja respirei o ar quente daquele dia enquanto sentia os abraços de felicitações de todos.
O vestido amassado, transpirado e o cabelo escorregadio , pedia um banho e um ar condicionado.

Nos meus 19 aninhos tudo aquilo era uma coisa que pela primeira vez me vi envolvida, sem imaginar que seria assim.

Houve festa, música , dança e mais fotos cortando bolo, com as meninas amigas, com família etc.
O restaurante encarregará-se de colocar ventoinhas para amenizar o calor.

Já fim de tarde, Fui puxada enfim pelo já marido para fora da festa .

Quando chegamos ao portão daquela que passaria a ser a “minha casa” , vi-me levantada no ar, ao colo do meu marido , até pisar a entrada da mesma.

Foi assim há 50 anos, hoje olho para trás e parece que foi ontem!
Hoje com uma temperatura mais fria , que nos convida ao aconchego ,recordo esse dia de mãos dadas com o marido, com uma família espectacular, filhos nora, genro e netas , um percurso de vida com bons e menos bons momento, mas conseguimos e aqui chegamos , meio século após .

Este dia escolhemos estar junto ao Deus que nos juntou, na casa dele , renovando os votos do início com a esperança que continuemos unidos e nos acompanhe até que ELE nos chame.

Vaticano 07 Dezembro 2019.

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

ANIVERSARIO DA MÃE 2019


 


 

 











Temos que reconhecer que não é fácil chegar ao 92 aniversario com a presença de espírito e clarividência total, é um privilegio.

Assim acontece com a minha mãe, dia 18 de Outubro com toda a alegria festejou o seu aniversario.
De cara feliz aguardava os telefonemas ,usuais nesta data, dos amigos e familiares, de telemóvel no bolso não fosse ela perder alguma chamada.

Nesse dia não a deixei entrar na cozinha, o que habitualmente faz pois todos os hábitos de uma vida repetidos faz trabalhar a cabecinha.

Para isso todas as semanas tenho que trazer as revistas das cusquices que lê de ponta a ponta, tratar do jardim, os seus cravos que adora, e que vai cortando para os colocar na jarra junto a fotografia do meu pai, das nozes que vão caindo, as idas ao cabeleireiro ao sábado a tarde como sempre fez desde os tempos de África.

Á tarde tem os filmes da sua televisão, sejam historias de amor , «coboiadas», ou qualquer outro programa sobre o mundo que nos rodeia, não esquecendo a sua novela.

Gosta de se vestir bem colocar os seus colares, ou lenços a enfeitar o pescoço , e fica linda.

Enfrentou em dois anos três operações das grandes, e recuperou como se tivesse 20 anos, nenhum dos médicos e enfermeiras acreditavam na sua idade.

Esta é a minha mãe que vive comigo há muitos muitos anos, aliás sempre viveu.

Coloquei a foto dela no facebook e ontem estive a ler as mensagens que ali colocaram, das pessoas amiga, conhecidos e família.

Ficou feliz e por estranho que pareça lembrava-se de todas as pessoas que lhe mandaram os parabéns até mesmo algumas amigas da minha filha que apenas conheceu no dia do casamento dela.

Como já venho a dizer em textos dos aniversários anteriores faltou alguém muito chegado de Lisboa, de tão perto e no entanto ou por esquecimento ou propositadamente o não fizeram o que lhe trouxe-lhe aquela lágrima teimosa que todos os anos deixa cair.

Mas entre família da casa fez-se a festa com uma bela refeição, com muitos docinhos e o bolo de aniversario, entre risos e alegria de quem estava presente.

Foi assim este ano, para o ano só Deus sabe se ainda estará presente , por isso mesmo festejamos sempre este dia.

Parabens minha Mãe.






terça-feira, 15 de outubro de 2019

ALMOÇO TETENSE 2019


Encontro Tetense 2019

Não é meu costume escrever sobre os nossos encontros das gentes de Tete
mas este de 2019 vou mesmo ter de o fazer.

Este é um almoço que as gentes de uma cidade pequena no norte do distrito de Tete, religiosamente marca presença todos os anos.

Como já ouvi muitos dizer era uma cidade onde se morria de calor, onde se estrelava um ovo ao sol, uma cidade para onde enviavam os deportados, os fugitivos à justiça etc etc.

Pois nesta cidade nasceu, cresceu e viveu muita gente boa, gente de coração que respeitavam todos e todos eram respeitados, onde se faziam grandes amigos que juntavam ao fim de semana à matine, ou na esplanada de um café apanhando o fresco da tarde, após o passeio dos tristes,quando o sol,  caía no horizonte junto ao rio.

Num repente esta gente separou-se, como se uma bomba tivesse caído no meio da cidade desandaram cada um para seu lado, e o destino Portugal.

Foi a independência de Moçambique.(não vou falar sobre isto)

Separaram-se todos, e refizeram a sua vida, mas a saudade, a amizade, de toda esta gente, fez com que se juntassem num almoço anual que se tem repetido até hoje e  lá vai quase meio século.

Estes encontros já de não justificam após meio século “ dizia alguém .

Como não, se foi aqui que fomos encontrando uns e outros espalhados pela cidades deste país, enquanto se ia assistindo aos poucos ao envelhecer dos mais velhos que já partiram e dos mais novos que agora continuam marcando o "ponto"neste evento.


Tudo se esquece e dentro de uma sala todos se reúnem, todos se abraçam com os olhos brilhantes de alegria ou uma lágrima que teima a cair, e almoçam e dançam como se estivessem naquela terra que deixaram há quase meio século, e grassa a felicidade.

Assim se foi encontrando todos ou quase todos com memorias transportando-as para os dias de hoje.

Aquele colega da carteira, do recreio das marotice diárias que o tempo e a vida separou de todos, e de repente ali está a nossa frente!

E assim foi este ano, do grupinho de estudantes do colégio de S. Jose de Cluny de Tete, já quase todos foram encontrados eis senão quando mais um aparece o Álvaro.

Encheu-me a alma ,  quase todos da foto de antigamente  apareceram.

Um menino magrinho de cabelo escuro e sempre pronto a acompanhar-nos que se perdeu dos companheiros há tanto tempo e hoje um excelente médico espadaúdo charmoso de cabelo grisalho mas com o mesmo sorriso e coração aberto de outrora.

Álvaro adorei ver-te passas a ser mais um de nós para sempre como há muitos anos numa cidade remota na memória de muitos mas que nos ensinou o significado da palavra AMIZADE um abraço a todos nós que vivemos para isto mesmo.




Foi aqui no Colégio, visitei-o há tempos e esta na mesma, mas hoje Universidade.

Entre amigos
Num Carnaval
 No colegio

                                        
Hoje 

sábado, 5 de outubro de 2019

A VIAGEM DE FORD





Partira de madrugada na velha carrinha Ford que já cansada de tanto trabalhar por vezes recusava-se a andar.

Era a primeira vez que fazia esta viagem, ele e um amigo sentado a seu lado que seria o informador da viagem, uma espécie de copiloto mas ao que parecia sabia tanto quanto o motorista .

De quando em vez lá paravam em alguma cantina para «mijar» e esticar as pernas.
Claro que sempre dava para deitar fora dois dedos de conversa enquanto iam saboreando uma cerveja e deitando conversa fora .

Os quilómetros passavam enquanto o sol ia caindo a pique e o calor apertava, já quase não aguentavam a temperatura dentro do carro.

Param debaixo de uma sombra à beira da estrada, tiram a camisa ficando apenas com a camisola interior cujas cavas já quase chegavam à cintura mas que os aliviavam um pouco o calor.

Molham a boca na agua no saco de lona pendurado á frente do carro como todos usavam, pois diriam que a agua era fresca com o deslocar do carro.

As estradas de terra não ajudavam muito pois a velocidade era cuidadosamente calculada em função da mesma.

Sorte na ser na estação das chuvas que com  matope seria bem diferente

Pela frente apenas a imagem de longas rectas de terra vermelha de onde se via subir as ondas de calor, e parecia não ter fim.

Lá pela noitinha chegavam ao destino, partidos, encalorados, e qualquer sitio para tomar um banho e cair numa cama era uma bênção dos céus.

Mas não sem antes jantarem e limparem a garganta do pó da viagem com mais umas «Manicas».

No dia seguinte seria o regresso já com a carga que foram buscar mas passando as mesmas torturas da viagem anterior.

Africa sempre Africa que deixa tantas saudades.




sábado, 28 de setembro de 2019

O PRIMEIRO ANIVERSARIO DE CASADOS



LUIZA E LUIS




Há um ano foi assim, a união de duas pessoas cheias de amor olhando o futuro com esperança




Hoje precisamente festejam o seu primeiro aniversario de casados em Nova York.




Que Deus os acompanhe pela vida fora, com a mesma felicidade de hoje.

São bodas de papel, que nele escrevam todos os seus desejos futuros e que se cumpram 

por muitos anos.


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terça-feira, 10 de setembro de 2019

OS INCÊNDIOS DE 2019


O tempo não me dá espaço para escrever mas dá-me espaço para pensar, e eu tenho sempre a cabeça ocupada com mil e uma coisa .

Ontem fui a aldeia, infelizmente para despedir-me de uma pessoa das minhas amizades de há muito tempo.

Pelo caminho ia vendo matas e matas de pinheiros bem como toda a aldeia limpa de matos , carumas , capins etc ,

Nessa aldeia onde a população é toda idosa que vive da parca pensão que mal chega para sobreviverem não fosse o que cultivam no quintal , já muito a custo .

Mas estes que deixaram de pouso muitas terras espalhadas pela aldeia e arredores tiveram que mandar limpar pois andou o polícia advertir toda a gente que se o não fizesse iriam pagar as multas .

Eu própria que tenho lá um cantinho que era do meu avô , tive que pagar ao tractorista para o limpar.

É assim foi os velhotes sem poder cumpriram a lei imposta pelo governo por causa dos fogos .

Mas os fogos duplicaram no país.

Pergunto , o estado limpou as matas que lhe pertencem ?

E o resto do que ardeu estavam limpas?

Não não está tudo por limpar que eu vi !

Afinal valeu a pena as populações das aldeias terem gasto o pouco dinheirinho e outros nem isso ?

E os incendiários como é ?

Identificando-nos e mandam-nos embora!

Que país é este, que governo e que justiça é a nossa?

Começo acreditar que tudo isto não passa dum negócio chorudo !

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

A visita do Santo Padre a Moçambique



05Setembro 2019


A visita do Santo Padre a Moçambique ultrapassou todas as expectativas.

Vi grande parte da reportagem sobre a chegada e a estadia em Maputo.

Foi em Maputo mas toda a província de Tete rejubilou com esta visita
como se dela dependesse o futuro e a esperança de todos os Moçambicanos.

Já deixei o pais há uns bons anos, mas foi apenas parte de mim pois a minha mente e o meu coração ficaram e ficaram para sempre no terra que me viu nascer, onde fui imensamente feliz, onde casei e tive meus filhos.

Foi com grande mágoa que deixei aquele país, não por vontade própria mas por nos terem obrigado a deixa-lo elas má políticas de Portugal.

Voltei lá trinta anos após, muito tempo havia passado mas quis retornar as minhas raízes e foi um momento de felicidade inarrável.

Ao sair do avião tive a tentação de beijar o solo daquela terra tão amada onde respirei o ar puro que vinha misturado com o odor do capim pisado e do calor que se fazia sentir.

Fui recebida pelos braços amigos das gentes que me não esqueceram, mais saudades se instalaram no meu peito.

A única tristeza que tive foi ver que muitos cristãos haviam-se afastado da nossa fé, trocando-a por outras que existiam ou chegaram de novo.
Diziam eles, na fraca cultura e ignorância, que o nosso Deus se havia esquecido deles.
Escolheram outra religião que os acolhia e ajudavam na terrível etapa em que ficaram economicamente uma vez que as missões e igrejas por aquela terra fora ficaram ao abandono como todos sabem por motivos óbvios, e relembro o padre Castro que perdeu a vida e tanto deu aqueles que nele e em Deus acreditavam.

Entendo as suas razões porque a fé e a crença estavam na altura debilitadas.

Ontem a chegada a Moçambique do Papa Francisco alegrou todo um povo que julguei perdido e esquecido do cristianismo.

Eram aos milhares, cantando e dançando , um mar de gente que se espalhava em redor do local onde chegou, uma fileira imensa ladeando as estradas apesar de já a noite ter caído.

Francisco levou a mensagem de Paz e reconciliação, e no pavilhão de Maxaquene deixou palavras que tocaram todos no coração. (discurso no fim da pagina para memoria futura).

Não esquece as vitimas dos ciclones e dirige-lhes palavras de coragem e conforto, bem como mensagem aos jovens.


Desde que chegou, Francisco tem saudado os esforços pela paz em Moçambique e tem apelado aos jovens para que sejam persistentes e protagonistas da pacificação.

Na sua intervenção, o Presidente moçambicano referiu que as palavras do Papa foram importantes para a «mobilizacão» de apoio e conforto moral.




Dia seguinte 06 Setembro 2019:


Papa Francisco chega ao Estádio do Zimpeto, em Maputo, para missa campal
(Estádio da Machava o local histórico de declaração da independência, em 1975, e aquele onde o Papa João Paulo II celebrou uma missa em 1988. )

Desde as 07 da manhã as gentes ja enchiam totalmente o estádio , chovia e a temperatura (cerca de 15 graus)

O altar coberto com uma capulana como que unindo todos na mesma oração.

O Papa Francisco chegou pelas 09:00 ao Estádio Nacional do Zimpeto, em Maputo, para a missa campal com que encerrou a visita ao país.

No interior do papa móvel, Francisco deu uma volta na pista de atletismo do estádio, benzendo todos os presentes, antes de se dirigir para o palco que hoje será o altar da celebração.
As bancadas iluminaram-se com o ‘flash’ de centenas de telemóveis, que se assemelharam a velas enquanto o papa móvel circulava.
Durante a missa, o Papa fará a sua última intervenção no país, no dia em que se assinala um mês após a assinatura de um acordo de paz entre Governo e Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), oposição.
Terminada a missa, perante grande ovação e lenços acenando a tão ilustre visita , seguiu para o aeroporto despedindo-se de todos os Moçambicanos.



DISCURSO DO SANTO PADRE

Muito obrigado pelas tuas palavras de boas vindas; muito obrigado também por todas e cada uma das representações artísticas que vós realizastes.
Vós me agradecíeis por ter reservado tempo para estar convosco. Que pode haver de mais importante para um pastor do que estar com os seus? Que há de mais importante para um pastor do que encontrar-se com os seus jovens? Vós sois importantes! Precisais de o saber, precisais de acreditar nisto: vós sois importantes! Porque não sois apenas o futuro de Moçambique, ou da Igreja e da humanidade; vós sois o presente: com tudo o que sois e fazeis, já estais a contribuir para ele com o melhor que hoje podeis dar. Sem o vosso entusiasmo, os vossos cânticos, a vossa alegria de viver, que seria desta terra? Ver-vos cantar, sorrir, dançar, no meio de todas as dificuldades que viveis – como justamente nos contavas tu – é o melhor sinal de que vós, jovens, sois a alegria desta terra, a alegria de hoje.
A alegria de viver é uma das vossas caraterísticas principais, como se pode sentir aqui! Alegria partilhada e celebrada que reconcilia e se torna no melhor antídoto capaz de desmentir todos aqueles que querem dividir, fragmentar ou contrapor. Como faz falta, nalgumas regiões do mundo, a vossa alegria de viver!
Obrigado por estarem aqui as diferentes confissões religiosas. Obrigado por vos animardes a viver o desafio da paz e a celebrá-la hoje como família que somos, incluindo aqueles que, não fazendo parte de nenhuma tradição religiosa, também estão a participar... Estais a fazer a experiência de que todos somos necessários: com as nossas diferenças, mas necessários. Vós juntos – assim como estais – sois o palpitar deste povo, onde cada qual desempenha um papel fundamental, num único projeto criador, para escrever uma nova página da história, uma página cheia de esperança, paz e reconciliação. Quereis escrever esta página?
Fizestes-me duas perguntas, mas acho que estão ligadas. Uma delas: Como fazer para que os sonhos dos jovens se tornem realidade? A outra: Como fazer para que os jovens se envolvam nos problemas que afligem o país? Vós, hoje, apontastes-nos o caminho e ensinastes-nos como responder a estas perguntas.
Exprimistes com a arte, com a música, com a riqueza cultural que mencionavas com tanta ufania… exprimistes uma parte dos vossos sonhos e realidades; em todas elas, se mostram modos diferentes de assomar-se ao mundo e fixar o horizonte: sempre com olhos cheios de esperança, cheios de futuro e também de ilusões. Vós, jovens, caminhais com dois pés como os adultos, mas, ao contrário dos adultos que os mantêm paralelos, vós colocais um atrás do outro, pronto a arrancar, a partir. Vós tendes tanta força, sois capazes de olhar com tanta esperança! Sois uma promessa de vida, que traz em si um certo grau de tenacidade (cf. Francisco, Exort. ap. pós-sinodal Christus vivit, 139), que não deveis perder nem deixar que vo-la roubem.
Como realizar os sonhos, como contribuir para a solução dos problemas do país? Gostaria de vos dizer: não deixeis que vos roubem a alegria. Não deixeis de cantar e expressar-vos de acordo com todo o bem que aprendestes das vossas tradições. Que não vos roubem a alegria! Como vos disse, há muitas maneiras de olhar o horizonte, o mundo, o presente e o futuro. Mas é preciso acautelar-se de duas atitudes que matam os sonhos e a esperança: a resignação e a ansiedade. São grandes inimigas da vida, porque normalmente nos impelem por um caminho fácil, mas de derrota; e a portagem que pedem para passar é muito cara… Paga-se com a própria felicidade e até com a própria vida. Quantas promessas de felicidade vazias, que acabam por mutilar vidas! Certamente conheceis amigos, conhecidos – ou pode mesmo ter acontecido convosco – que, em momentos difíceis, dolorosos, quando parece que tudo lhes cai em cima, ficam prostrados na resignação. É preciso estar muito atento, porque esta atitude «faz com que te encaminhes pela estrada errada. Quando tudo parece estar parado e estagnante, quando os problemas pessoais nos preocupam, as dificuldades sociais não encontram as devidas respostas, não é bom dar-se por vencido» (Ibid., 141).
Sei que a maioria de vós gosta muito de futebol. Recordo um grande jogador destas terras que aprendeu a não se resignar: Eusébio da Silva, a pantera negra. Começou a sua vida desportiva no clube desta cidade. As graves dificuldades económicas da sua família e a morte prematura do seu pai não impediram os seus sonhos; a sua paixão pelo futebol fê-lo perseverar, sonhar e continuar para diante... chegando a marcar 77 golos para este clube de Maxaquene! Não faltavam razões para se resignar…
O seu sonho e vontade de jogar lançaram-no para diante, mas igualmente importante foi encontrar com quem jogar. Bem sabeis que, numa equipa, não são todos iguais, nem fazem as mesmas coisas ou pensam da mesma maneira. Cada jogador tem as suas caraterísticas, como podemos descobrir e desfrutar neste encontro: vimos de tradições diferentes e inclusive podemos falar línguas diversas, mas isto não impediu de nos encontrarmos. Muito se sofreu e continua a sofrer, porque alguns se julgam no direito de determinar quem pode «jogar» e quem deve ficar «fora do campo», e que passam a vida dividindo e contrapondo. Hoje vós, queridos amigos, sois um exemplo e testemunho de como devemos agir. Tu perguntavas-me: Como empenhar-se pelo país? Tal como estais a fazer agora, permanecendo unidos independentemente daquilo que vos possa diferenciar, procurando sempre a oportunidade de realizar os sonhos por um país melhor, mas… juntos. Como é importante não esquecer que «a inimizade social destrói. E uma família destrói-se pela inimizade. Um país destrói-se pela inimizade. O mundo destrói-se pela inimizade. E a inimizade maior é a guerra. E hoje vemos que o mundo se está a destruir pela guerra. Porque são incapazes de se sentar e falar. Sede capazes de criar a amizade social. Não é fácil; sempre é preciso renunciar a qualquer coisa, é preciso negociar, mas, se o fizermos a pensar no bem de todos, podemos fazer a experiência maravilhosa de deixar de lado as diferenças para lutar juntos por um objetivo comum. Quando se consegue encontrar pontos coincidentes no meio de tantas divergências e, com esforço artesanal e por vezes fadigoso, lançar pontes, construir uma paz que seja boa para todos, isso é o milagre da cultura do encontro» (Ibid., 169).
Recordo o provérbio que diz: «Se quiseres chegar depressa, caminha sozinho; se quiseres chegar longe, vai acompanhado». Trata-se sempre de sonhar juntos, como estais a fazer hoje. Sonhai com os outros, nunca contra os outros; sonhai como sonhastes e preparastes este encontro: todos unidos e sem barreiras. Isto faz parte da «nova página da história» de Moçambique.
Jogar juntos ensina-nos que, inimiga dos sonhos e do compromisso, não é apenas a resignação, mas também a ansiedade. Esta «pode tornar-se uma grande inimiga, quando leva a render-nos, porque descobrimos que os resultados não são imediatos. Os sonhos mais belos conquistam-se com esperança, paciência e determinação, renunciando às pressas. Ao mesmo tempo, é preciso não se deixar bloquear pela insegurança: não se deve ter medo de arriscar e cometer erros» (Ibid., 142). As coisas mais belas formam-se com o tempo e, se algo não te saiu bem à primeira, não tenhas medo de voltar a tentar, uma vez e outra. Não tenhas medo de te equivocar! Podemos equivocar-nos mil vezes, mas não caiamos no erro de parar porque há coisas que não correram bem à primeira. O pior erro seria abandonar, por causa da ansiedade, os sonhos e a vontade de um país melhor.
Por exemplo, tendes diante dos olhos aquele belo testemunho dado por Maria Mutola, que aprendeu a perseverar, a continuar a tentar, apesar de não ver cumprido o seu anseio da medalha de ouro nos três primeiros Jogos Olímpicos que disputou; sucessivamente, na quarta tentativa, esta atleta dos 800 metros alcançou a sua medalha de ouro nas Olimpíadas de Sidney. A ansiedade não a deixou absorta em si mesma; os seus nove títulos mundiais não a fizeram esquecer-se do seu povo, das suas raízes, mas continuou a olhar pelas crianças necessitadas de Moçambique. Como o desporto nos ensina a perseverar nos nossos sonhos!
Gostaria de acrescentar outro elemento importante: não deixem de fora os vossos idosos.
Também os vossos idosos podem ajudar para que os vossos sonhos e aspirações não estiolem, não sejam arrebatados pelo primeiro vento da dificuldade ou da impotência. Os idosos são as nossas raízes. «Pensai bem! Se uma pessoa vos fizer uma proposta dizendo para ignorardes a história, não aproveitardes da experiência dos mais velhos, desprezardes todo o passado olhando apenas para o futuro que essa pessoa vos oferece, não será uma forma fácil de vos atrair para a sua proposta a fim de fazerdes apenas o que ela diz? Aquela pessoa precisa de vós vazios, desenraizados, desconfiados de tudo, para vos fiardes apenas nas suas promessas e vos submeterdes aos seus planos. Assim procedem as ideologias de variadas cores, que destroem (ou desconstroem) tudo o que for diferente, podendo assim reinar sem oposições. Para isso, precisam de jovens que desprezem a história, rejeitem a riqueza espiritual e humana que se foi transmitindo através das gerações, ignorem tudo quanto os precedeu» (Ibid., 181). As gerações anteriores têm muito a dizer-vos, a propor-vos. É verdade que às vezes nós, os idosos, o fazemos de forma impositiva, como advertência, metendo medo; ou pretendemos que façais, digais e vivais exatamente como nós. Vós tereis de fazer a vossa própria síntese, mas escutando, valorizando aqueles que vos precederam. Não foi isto o que fizestes com a vossa música? Ao ritmo tradicional de Moçambique, a marrabenta, incorporastes outros modernos, e nasceu o pandza. O que escutáveis, o que víeis cantar e dançar a vossos pais e avós, assumiste-lo como próprio. Este é o caminho que vos proponho: um caminho «feito de liberdade, entusiasmo, criatividade, horizontes novos, mas cultivando ao mesmo tempo as raízes que nutrem e sustentam» (Ibid., 184).
Todos estes são pequenos elementos que podem dar-vos o apoio necessário para não vos encolherdes nos momentos de dificuldade, mas abrirdes uma brecha de esperança; brecha que vos ajudará a pôr em jogo a vossa criatividade e encontrar novos caminhos e espaços para responder aos problemas com o gosto da solidariedade.
Muitos de vós nasceram sob o signo da paz, uma paz laboriosa que passou por momentos diversos: uns mais claros e outros de provação. A paz é um processo que também vós sois chamados a fazer avançar, estendendo sempre as vossas mãos especialmente àqueles que estão a passar momentos difíceis. Grande é o poder da mão estendida e da amizade que se joga no concreto! Penso no sofrimento daqueles jovens que chegaram cheios de sonhos à procura de trabalho na cidade, e hoje estão sem teto, sem família e sem encontrar uma mão amiga. Como é importante aprendermos a ser uma mão amiga e estendida! Procurai crescer na amizade também com aqueles que pensam de maneira diferente, para que a solidariedade cresça entre vós e se torne na melhor arma para transformar a história.
Mão estendida, que nos lembra também a necessidade de nos comprometermos com o cuidado da nossa Casa Comum. Sem dúvida alguma, fostes abençoados com uma beleza natural estupenda: florestas e rios, vales e montanhas e tantas praias lindas.
Infelizmente, há poucos meses sofrestes o embate de dois ciclones, vistes as consequências do descalabro ecológico em que vivemos. Muitos abraçaram já o imperioso desafio de proteger a nossa Casa, contando-se entre eles tantos jovens. Temos um desafio: proteger a nossa Casa Comum. Aqui tendes um belo sonho para cultivar juntos, como família moçambicana, uma bela luta que pode ajudar-vos a permanecer unidos. Estou convencido de que vós podeis ser os artesãos desta mudança tão necessária: proteger a nossa Casa Comum, uma casa que é de todos e para todos.
Permiti que vos comunique uma última reflexão: Deus ama-vos e, com esta afirmação, estamos de acordo todas as tradições religiosas. «Para Ele, és realmente valioso; tu não és insignificante. Importa-Se contigo, porque és obra das suas mãos. Por isso, presta atenção e lembra-Se de ti com carinho. Precisas de confiar na recordação de Deus (…), a sua memória é um coração terno e rico de compaixão, que se alegra em eliminar definitivamente todos os nossos vestígios de mal. Não quer guardar a conta dos teus erros e, em todo o caso, ajudar-te-á a aprender alguma coisa também com as tuas quedas. Porque te ama. Procura ficar um momento em silêncio, deixando-te amar por Ele. Procura calar todas as vozes e alarido interior, e para um momento nos seus braços amorosos» (Ibid., 115).
Este amor de Deus é simples, quase silencioso, discreto: não esmaga, nem se impõe; não é um amor estridente nem exibicionista; é um «amor feito de liberdade e para a liberdade, amor que cura e eleva. É o amor do Senhor, que se entende mais de levantamentos que de quedas, mais de reconciliação que de proibições, mais de dar nova oportunidade que de condenar, mais de futuro que de passado» (Ibid., 116).
Eu sei que vós acreditais neste amor que torna possível a reconciliação; porque acreditais neste amor, tenho a certeza de que tendes esperança e que não deixareis de percorrer com alegria os caminhos da paz.
Muito obrigado e, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim.
Que Deus vos abençoe.





sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Esquecida


~





Há quanto tempo aqui não venho...

Pois nem sempre é  possível ter disponibilidade para me recolher neste cantinho só meu 

para por em dia os meus pensamentos e recordações.

Outros deveres me chamaram que me obrigaram a esquecer os meus prazeres que mais 

não é que refugiar-me na escrita onde esqueço tudo e vivo  com o que  aqui coloco.

Passou muito tempo e tanta coisa aconteceu, mas prometo regressar novamente com a 

assiduidade que aqui vinha.

Até breve




quarta-feira, 20 de março de 2019

MOCAMBIQUE HOJE

MOÇAMBIQUE






Hoje é o dia da Felicidade , dizem os entendidos, no entanto não comungo desta opinião.

Nem eu e certamente muito dos que tem no peito um coração e não uma pedra.

A felicidade não é apenas e só o sentimento que a devem do amor a um companheiro ou a coisas pessoais, é uma estado de espírito que abrange toda uma vida.

Pessoalmente todos os dias agradeço a Deus a família que tenho, o meu marido os meus filhos seus conjugues e netos. Pois sou uma feliz arda com a minha gente, adoro-os e mais não quero que o amor que nos une a todos, bem como o pão nosso de cada dia.

Mas a felicidade no meu coração não é apenas isto, abrange muito mais e por isso hoje não estou feliz.

Como posso estar feliz perante a desgraça dos outros?

Não não estou feliz mas sim muito TRISTE.


Como uma pessoa se pode sentir feliz no dia de hoje quando os meus irmãos de Moçambique sofrem atrozmente com a tempestade que assolou o país?



Pensem bem, quem nasceu como eu em terras de África onde, ai sim, fui imensamente feliz onde comprovei 30 anos após ter deixado a minha terra, pode sentir-se feliz nos dias de hoje?

Eu brinquei com eles, andei na escola, sentei-me a roda da fogueira onde a panela do feijão fervia em cima de quatro pedras, embalei bebés recém-nascidos no meu colo, ensinei a ler os moanas filhos do cozinheiro, eram meus irmãos.

Tenho o privilegio de ter amigos que me foram informando diariamente das situação dessas gentes, partilhei algumas fotos com os amigos e informações que ia recebendo.

Milhares de pessoas sem teto à chuva e ao frio com os filhos nos braços e cima de árvores e nos telhados das casas vendo as aguas a subir e apenas eles e Deus?

Como me sinto feliz se soube que dezenas de bebes morreram nos berçários e muitas mães internadas para parir os seus filhos, acabaram por morrer também com a tempestade e as aguas inundando tudo?

E as palhotas(casas rudimentares em África) que em situação normal acolhia uma família durante anos e foram levadas pelo temporal como folhas de papel?






Meu Deus o sofrimento desta gente sem tecto sem comida sem local seguro que os salve?

É caso para dizer, e as crianças senhor, porque lhes dás tanta dor?

A cidade da Beira, que era linda com umas praias fantásticas que recordo de tantas vezes lá ir, está completamente destruída, foram os telhados, as estruturas de pavilhões as árvores tudo do avesso?

E a chuva continua, sem dó nem piedade e as gentes desprotegidas as crianças à fome , sede e frio porque não tem ligações a parte alguma.

As «machambas» lindas, prestes a dar o milho, tudo destruído.

Aquela zona era o celeiro de Moçambique.

Penso nos tempos próximos, a fome espreita e certamente a cólera a malária e outras doenças comuns a situações destas, chegarão.

Que Deus olhe por estas gente que tanto precisam dele.
Se fosse mais perto, lá estaria a ajudar aquela gente, mas espero sinceramente que tudo que dão para estas gentes lhes cheguem às mãos que bem precisam.

Que Deus castigue aqueles que desviem qualquer bem em proveito próprio ou deixem em armazém apodrecendo tudo aquilo que poderá agasalhar ou matar a fome a uma pessoa.








segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

RECORDAR O PASSADO





Faz um frio que convida a estar dentro de casa, remexendo memórias guardadas mas não esquecidas

É mexendo em gavetas e caixas antigas que nos vem às mãos recordações de uma vida vivida umas vezes difícil outras nem tanto.

São tantas as lembranças que boas ou más gosto de as recordar.

Remexendo papeis guardados encontrei duas folhas de agenda escritas pela minha filha com a idade de 8 anos.

Ainda uma pequenita mas sempre com uma vontade enorme de tudo aprender, e neste caso era sentada na banca enquanto cozinhava as refeições.

Um dia não se sentou na banca mas encostou-se de caneta na mão fazendo mil perguntas e olhando o que fazia foi escrevendo, uma duas folhas e mais.

Perguntei depois o que estava escrevendo e mostrou-me, achei uma graça imensa e deixei que ela continuasse a escrever a sua curiosidade ou seja o que ia vendo.

Fui deixando que ela participasse mais activamente na cozinha, como quando fazia rissóis, que ela passava por ovo e meu filho pelo pão ralado.

Assim os tinha ali perto de mim sem andar na rua sabe Deus a fazer o quê.

No Inverno de lareira acesa espetavam maçãs num espeto de ferro que meu pai havia feito para os churrascos. Colocavam junto as brasas e assavam,maçãs que seria o seu lanche.

Assim envolviam-se entre os TCP e a vida quotidiana da casa, o que lhes veio depois ajudar num futuro.

Mas voltando à minha filha encontrei como já havia dito, as folhinha que acima divulgo, uma receita da sopa e como fazer um refogado.

Acredito que a escrita das receitas por ela um dia lhe serviriam de ajuda e aconteceu.

Eu e o pai trabalhávamos longe, até chegar a casa já eles tinham adiantado o jantar, colocavam uma panela ao fogo o que ajudava no jantar logo que chegasse.

Já crescida foi para Barcelona estudar na universidade, um primeiro afastamento que nós mães a separação nos turva o pensamento, e portou-se muito bem .

Estava num apartamento com mais duas colegas.

Nunca ficou sem comer, aplicou todos os conhecimentos fazendo-se uma dona de casa fantástica.

Fizeram vários amigos de outros países, e algumas vezes batiam à porta de saco na mão com frango ou outra coisa qualquer pedido que ela o fizesse no forno. Uma convivência saudável, umas amizades que ficaram para toda a vida.

Nada disto teria acontecido se não a tivesse tido junto a mim ensinando-lhe o muito que hoje sabe.

Uma menina que soube entrar na vida sabendo tudo que pertence a uma mulher fazer em casa, até costurar.

Apesar de muitas revés na minha vida, o meu núcleo familiar nunca foi descurado.

Hoje tenho uma ligação fantástica com os meus filhos apesar de já terem as suas vidas independente.

Um amor incondicional. Obrigada meu Deus.