Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

terça-feira, 15 de novembro de 2016

DOÌ DOÌ´DA VOVÓ

Como explicar a uma garota de 4 anos que um hospital é onde se curam as pessoas quando tem doí doí ?

Pois não é fácil, entrar pela mão do pai e ver tanta gente de pijama com ar de dor e sofrimento deitados etc, mas ela baixou olhos e confiou na mão que a segurava.

Perdeu o medo porque na cama onde estava a avó apesar de tudo havia sorrisos e fluía a conversa normalmente.

Minha mãe esteve internada sujeita a uma cirurgia ao joelho, saiu há dois dias, na idade dela imagina-se as dores que terá que suportar, no entanto a pequenita não saia de ao pé dela, esfregando-lhe os braços com creme enquanto contava ao peripécias da escola.

E visitou-a algumas vezes só que para percorrer o caminho da enfermaria baixava os olhos , apenas isto.

De minha parte como é óbvio passava as tardes com ela falando de tudo e de nada, do presente e do passado, mesmo quando as visitas da amigas não lhe faltavam.

Algumas vezes dava comigo a pensar, que sensação terá uma mãe quando um filho lhe telefona apenas uma vez por semana perguntando se estava tudo bem.

Lembrou-me África, que quando algum ente querido falecia, as lágrimas não faltavam nunca enquanto lia as cartas, depois passava, e passava rápido , nem sentimentos havia porque não chegavam a saber da desgraça.

Apenas ao serão se comentava, coitado trabalhou tanto para criar os filhos e foi-se.

Este “coitado” será que incluía as dores que ele havia sofrido durante a doença, o sofrimento de quem os acompanhava dia a dia, lavando-dos dando-lhe de comer e as noites sobressaltadas não fosse dar-lhes alguma.

Sim, por la não havia lares onde os despejavam para não sentir tanto a decadência de quem toda a vida os criou e fez deles homens.

Pois apesar de pequenita e ainda não perceber as obrigações que um dia terá, pelo menos seus beijos e cuidados animam a avó.

Na verdade, um dia todos seremos velhos, e então darão valor a tudo que se possa fazer até mesmo um cumprimento, um pouco de conversa para não se verem  tantos, sentados a uma janela olhando o infinito como se só ele existisse no mundo, esperando que a morte os leve.