Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

domingo, 31 de dezembro de 2017

A VAIDADE DE FIM DE ANO

                                                       Foto da internet. Luisa Hingá



Foi há muito tempo, o telefone não parava, e a costureira que ainda não me tinha o vestido para o baile de fim de ano pronto. E o lugar da cabeleireira marcada a hora há já uma semana, estava em cima dela.

A Cabeleireira D. Maria José Simas morava na mesma rua da costureira D. Lurdes Ramalho, saio a correr à boleia do meu pai e peço para parar por minutos em frente a casa dela.

Subo as escadas duas a duas quase deitando os bofes pela boca, ao que ela logo que me vê diz estar um bocadinho atrasado.

O vestido era cor de rosa em chiffon, sem ombros mas preso a volta do pescoço simplesmente, mas a frente toda ela era bordada a mão com pedraria e missanga.

Olhei para ele entre mãos que seguravam a agulha rápida no enfiar das pedrinhas e borda-lo.

Achei lindíssimo, só pedi que o tivesse pronto quando voltasse da cabeleireira.

Impaciente já ouvia a buzina do Volvo que meu pai tinha, pela demora que ocorria.

Desço as escadas a correr com a possibilidade de me espalhar e já não poder ir ao baile.

Enquanto me leva a arranjar o cabelo, vou perguntando se havia reservado mesa para o réveillon.

Entro no salão e estava cheio, todas as senhoras se haviam lembrado de arranjar o cabelo tarde, desanimei ao mesmo tempo que ia pensando que poderia fazer dele pois era comprido roçando o meio das costas e eu não tinha mãos para fazer nada dele.

Já sol baixava quando chega a minha vez, mais um pouco e sairia de lá com um artístico penteado de fazer inveja a qualquer uma (isto nas miúdas era corrente).

Depois de pronta saio apressada apanhar o meu vestido, lindo de morrer, e levo-o para casa.

Quase não jantei, entrei vezes sem conta no meu quarto onde estendido cuidadosamente brilhava a minha joia da coroa.

Caramba não mais chegava a hora de sairmos de casa.

Peguei no pó de arroz, no blush nas sombras etc e comecei por ai, com todo o cuidado ia fazendo a maquilhagem, que tinha medo borratar com o calor que fazia.

Lá fora estendido ao fresco numa cadeira de lona meu pai parecia nada ter a ver com nada.

Chamei-o, disse-me que ainda era cedo. Não, jamais vestiria o meu vestido com a antecedência de sair de casa não fosse ele amarrotar-se.

E o relógio que resolvera também andar mais devagar, nunca mais eram as tais horas de sairmos.

Até que senti que ele se levantara calmamente para também se aperaltar, afinal havia um ano a sair do calendário e outro a entrar.

Saímos de casa, todos arranjados e perfumados, em direcção ao aero-clube.
Sinceramente quase me não sentei no carro, fazia força com os braços no assento da frente para não me sentar e não amarrotar o vestido.

Ufa! Como era longe de minha casa, além de que ao chegar o estacionamento de carros estava cheio, o que mais demorou, encontrar lugar para estacionar.

Quando por fim subi as escadarias principais, de vestido que brilhava como a lua, saltos altos e brincos compridos terminarem numa pérola, pensei estar num céu só meu.

Já a musica do conjunto tocava e a sala cheia de dançarinos, desiludiu-me pois pensei haver mais olhares para a minha beleza.

E dancei, dancei a noite toda deixando de me importar até com a transpiração que ia marcando o vestido.

Meia noite e o adeus ao ano velho com a chegada do ano novo era uma euforia sem igual.

Taça de champanhe na mão de braço levantado, e corria-se as mesas brindando com todos.

A música continuava, já o sol queria romper as trevas para dar lugar ao novo dia quando aos poucos iam saindo, ficando apenas aqueles que abraçados olhavam a bola vermelha que indicava o novo dia vir a ser bastante quente.

Era assim um dos fins de ano na terra onde nasci, e que me deixam muitas saudades.






quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

FELIZ ANO 2018



E está a chegar o novo ano 2018, faltam pouquíssimos dias, para o 2017 nos dizer adeus, e eu com todo o prazer acenarei um verdadeiro adeus pois não me deixou saudades.

Sei que cada um terá a sua opinião , e que é uma incógnita o que lá vem mas tenho uma esperança, talvez em vão, que será melhor.

As grandes catástrofes do nosso país, as gentes sem eira nem beira, os fogos, os acidentes, gentes sem medico que morrem sós, a fome e os sem abrigos que aumentam dia a dia, os idosos abandonados.

E as crianças vitimas dos mais horríveis crimes, as mulheres mortas dentro de um silêncio entre quatro portas, amedrontadas, espancadas , por medo ou pelo filhos que querem proteger a todo o custo, ou por se sentirem sós naquela guerra a qual acabam sempre por perder a vida.

Os grandes senhores que a descarada cometem crimes económicos e até hoje não são julgados nem castigados.

E tanta coisa que nem dá para falar de todas elas.

Ó povo português que no meio de tanta trapalhada se vai aguentando entre promessas políticas de que um dia viveremos num céu aberto, quase repetindo a máxima, das 7 virgens e potes de mel.

É por isto tudo que tenho uma vã esperança de que 2018 nos traga paz, empregos para todos, que não falte o pão na boca dos famintos, que todos tenham um tecto para morar, que as crianças tenham os mesmos direitos e escolas, e paz na terra. 

Entendo que quase repito a tal máxima acima referida , que é uma utopia, mas peço a Deus que de entre tanta miséria que iremos deixar para trás em 2017, algo mude em 2018 para melhor.

Feliz Ano Novo.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

E FOI NATAL


Este Natal engendrei um postal de Natal onde estou eu e meu marido, para desejar a todos amigos as boas festas.

Ao fazê-lo recordei os Natais de família quando os festejava em Moçambique, a alegria, mesa cheia de tudo à moda de cá e de lá, as receitas que minha mãe nunca esqueceu e eram como obrigatórias estar nas mesa nas festas cristãs.

Uma mesa cheia de gente quer na consoada quer no almoço seguinte, éramos muitos da minha família que se reuniam em volta da mesa quando não aparecia algum amigo que a nós se juntava pois estariam a cumprir o serviço militar e sentiam-se sós, razão pela qual ao entrar na porta de nossa casa encontrava sempre uma família pronta a recebe-los.

As famílias e amigos, hoje estas palavras parecem-me estranha.

E porquê?

O conceito família deixou de existir. Amigos sinceros poucos apenas os sobreviventes de lá.De cá não são iguais.

Porque a família apesar de já muitos terem partido foram ficando os filhos e netos que os substitui nos lugares vazios deixados pelos que partiram, mas já não se reúnem, pessoalmente uns com os outros, é nas comunicações modernas impessoais que desejam as boas festas, e cada um fica na sua casa uns sós outros com um filho ou outro.

Passam-se anos que nem nos vemos.

Na minha mesa de outrora eram normalmente 10 a 15 pessoas sentadas em frente das iguarias que estavam expostas na mesa, rindo, comendo e bebendo toda a tarde, levantavam-se para apanhar o fresco da tarde e regressavam para continuar o convívio. Nestes dias a mesa não se levantava, apenas a louça suja. Visitavam-se os vizinhos, abraçavam-se de sorriso aberto e coração nas mãos.

As prendas, essas não interessavam, qualquer boneca barata, ou o vestido de chita feito para a ocasião já nos dava alegria.

Hoje uma mesa de quatro quase dá para a ceia de Natal.

Dois velhos cheios de boas recordações, num jantar comum onde já não brilham as filhoses num prato, nem os frutos secos, nem os biscoitos, as sobremesas etc.

Apenas uma cama quentinha como outro dia qualquer os conforta..

É certo que o Natal passou de moda, senão é ver a quantidade de gente que viaja para bem longe como se este dia lhes não diga nada, no entanto é uma correria para comprar os presentes de Natal.

Para quê, se o maior presente é a família, e estarão ausentes?

Na minha mesa apenas estarão sentados dia 24 e 25 meus filhos, meus netos, e uma prima que é mais uma irmã.

Somos poucos, tudo faremos, como aliás nos anos anteriores que este dia não seja só trocar presentes que no fim das festas se metem numa gaveta e se esquece.

E haverá também aqueles abraços e beijinhos que dinheiro algum paga, e será a festa do nascimento de Jesus o Natal.

Na verdade, Jesus filho de Maria e José, também estavam neste dia, sós, apenas acompanhados pelos animais amigos que os ia aquecendo com seu bafo.

E foi Natal !





domingo, 10 de dezembro de 2017

PARABENS MIGUEL




À menina mãe, com apenas 20 anos nascia o seu primogénito.

Na mesma cidade e no mesmo hospital assistida pelo mesmo medico que foi da minha filha, deitada naquela cama de hospital com dores inexplicáveis, as dores de parto.

A meu lado meu marido jamais me largou a mão, tal era a aflição de me ver sofrer que apenas me dizia que bebesse o sumo de laranja que tinha á cabeceira, como se isso me aliviasse a dor.

Foram horas que só quem é mãe sabe, até que resolvem fazer-me uma cesariana pois o bebé era enorme.

Assim foi, as dores desapareceram e vi-me levada para supostamente a sala de operações pois com o que me deram a tomar pôs-me drogada.

Apenas acordei já no quarto com as enfermeira dizendo:-It’s a big boy.

Sim a big boy pois nasceu com quase 4kg e meio.

O meu menino, o primeiro que me chegou ao colo todo embrulhado como era habito fazerem a todos, mas que desmanchei num ápice pois queria verificar se era perfeito ou me estavam a esconder algo.

Cabelinho louro olhos esverdeados, boquinha esfomeada procurando meu peito que sugava sofregamente.

Uma felicidade só.

O menino para quem todos da família canalizaram os mimos e cuidados.

O Batizado pelo Padre Castro, os meus amigos todos juntos olhando o meu filhote, sentia-me vaidosa que só uma mãe sabe ser.

Cresceu tirou o seu curso, casou e deu-me duas netas maravilhosas.

Obrigada meu Deus pelos filhos que me deste, o amor que entre nós ficou sempre.



Para ti meu filho Fernando Miguel, parabéns que este dia se repita por longos anos.

Este é o meu menino sempre.



quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

PARABENS LUIZINHA


Foi há uns anos, a 6 de Dezembro, gorda e inchada, meti-me num avião alugado em direção a Salisbury, ex Rhodesia onde tinha marcada uma cesariana para o dia 10 Dezembro , mesmo dia que o meu mais velho havia nascido em 1970.

Viagem fantástica, piloto simpático, chegada ao destino, prioritariamente dar a volta ás lojas todas da cidade, ver as novidades, a moda que chegava primeiro ali só depois a Tete, uma corrida cansativa mas estava feliz, no fim do dia a consulta com o médico que me havia de operar,
Dr. Lamprech excelente médico, observou-me e confirmou a data da operação para dia 10 como sempre combinado.

Fiquei em casa de amigos, jantamos, conversamos e fui deitar-me, fazendo planos para o dia seguinte, pois não tivera tempo de visitar tudo que queria.

Noite fora após o primeiro sono foram voltas e mais voltas com umas dores estranhas pois nunca pensei que fosse nascer o bebé.

Chamo por ajuda , ao que me respondem:
-Dorme que isso passa, foi de tanto andar.

Levantei-me e fui para a sala, as dores aumentavam enquanto fazia contas dos dias que faltavam para o acontecimento.

Não deu mais, fui ao quarto e disse o que se passava e com a determinação de que se não me levassem à maternidade chamava um táxi e ia sozinha.

Não sei quanto tempo demorou todos acordar apenas sei que num instante estava a porta da maternidade, onde logo fiquei .

A enfermeira telefona ao médico informando que eu dera entrada, e ele não acreditou pois horas antes havia estado comigo.

A apressadinha da menina não quis esperar e bateu à porta antes da hora marcada, sem ninguém contar e pela manhã já se ouvia o seu vozeirão pelos corredores e em todo lado.

It´s a girl! It´s a girl!

Diziam elas a toda a gente.

Sinceramente não estava muito acordada pois a anestesia da operação fazia-me um sono enorme.

Quando à tarde me puseram aquele embrulhinho nos braços, para a primeira “refeição” foi como se me dessem o melhor e maior presente do mundo.

Pequenita, refilona, com imenso cabelo, esperta, de olhinhos escuros, olhando para todo o lado como se quisesse descobrir o mundo.
.
Foi há uns anos, mas ou meus braços cresceram ou ela não cresceu, porque continua aninhar-se no meu colo, como quando nasceu, e eu enche-la de beijos
.
Ninguém sabe o que sente uma mãe com os braços cheios dos filhos aninhados como se fossem sempre pequenitos.

A vida corre e como os passarinhos, voaram, esvaziaram os espaço que sempre ocuparam nos meus braços, para dar o lugar aos netos.

Mas para a minha menina continua em aberto o lugar onde se enrola e me abraça sempre que vem a casa.

Hoje o dia é teu, e a vaidade é minha, por seres quem és, linda, lutadora, e muito amada.

Parabéns minha menina, minha lutadora desta vida que construíste sozinha,com coragem e sempre feliz.




segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

ATÉ SEMPRE MARIA ODETE

Quero recordar-vos assim.


Ainda estou incrédula, a noticia do desaparecimento de mais uma amiga do coração doeu como ninguém imagina. E as recordações vieram todas à cabeça.

A mãe era minha madrinha de batismo, mulher maravilhosa que vivia com toda a família numa casa ao lado da loja que tinha no Mussacama.

Em frente um grande largo por onde passava a estrada e onde uma enorme mangueira fazia a delicia dos “moanas” e a nossa também que nos lambuzávamos com as mangas amarelinhas e doces.

Era um lugar só, apenas as gentes autóctones se via diariamente.

Nos dias da carreira que fazia entre Tete e Zobué, conduzida pelo Sr. Matos pessoa anafada mas sempre bem disposto era o único branco que víamos semanalmente.

Era ele que trazia o correio que ligava esta gente a um mundo longínquo bem como alguns bens alimentares escassos no lugar pois não havia loja nem supermercado que valesse.

Foram passando os anos, ou nós lá ou eles em Tete, era uma família autêntica apesar de na verdade não era.

Nas férias em Tete nada se passava, então era para lá que íamos pois juntava-se uma malta que brincadeiras não faltavam.

Só da minha madrinha era cinco mais duas de ferias, era maravilhoso.

Tinham um cozinheiro chamado “Chambo” que nos aturava quando nos lembrávamos de invadir o seu espaço com um grande fogão a lenha, e inventávamos todo o tipo de cozinhados muitas vezes intragável, enquanto o velho cozinheiro a um canto abanava a cabeça resignado com os meninos no seu espaço privilegiado.

Inventávamos sim para passarmos os dias nas marotices e gargalhadas.

A entrada da casa havia uma varanda fechada, local escolhido para durante a hora após almoço quando o sol era quente, jogarmos as cartas numa batotice incrível, mas logo baixasse o sol la íamos para o quintal correr atrás das galinhas etc.

Seguindo esta entrada da casa uma enorme sala de jantar onde à luz do petromax nos entretínhamos com o jogo do loto ou qualquer outro, a feijões.

Logo ao lado a sala de visitas, alto que ai era para as noites finas, quem não achava muita graça era a minha madrinha pois deixávamos tudo fora do lugar.

Abríamos uma arca de onde tirávamos vestidos que já não usava e um xaile preto também já coçado pelo tempo.

Sentadas nos sofás o teatro começava, normalmente era a Odete que cantava o fado, a luz das velas após apagarmos o petromax que deixava o resto da casa as escuras.

Mas era ou não era a sério e o ambiente estava criado.

Quem não pertencesse ao elenco ficava no sofá a aplaudir e ao acabar o sarau já minha madrinha e marido se tinham ido deitar fugindo à nossa loucura.

Dormíamos todas no mesmo quarto o que quer dizer que dormir só muito mas muito tarde entre partidas e guerra de almofadas.

A Marília que é da minha idade, num dia mais quente enchemos a banheira, mas queríamos tomar um banho como víamos nos retratos das revistas, ou seja com muita espuma, vai daí e tomamos mesmo mas com a espuma de um pacote de Omo que quase despejamos todo.

Enfim eram ferias maravilhosas, corríamos todos os cantos da loja, púnhamos o alfaiate que sossegado trabalhava na varanda da loja a fazer vestidos etc para as crianças.

Sim porque um dos prazeres que tínhamos era percorrer livremente as aldeias indígenas, e se tivesse nascido algum bebé, levávamos pano, sabão açúcar e sal à mãe.
Em troca faziam questão de nos presentear com colheres de pau e outras coisas que trabalhavam em madeira com a velha faca afiada numa pedra.

Devo dizer que esta permuta era de total desconhecimento da minha madrinha .
Ela ficava na loja e o marido saía logo pela manhã para uma pomar de doces laranjas e outras frutas que tinha bastante afastado de casa e por esse razão fugíamos a esta incursão por carreiros feitos pelos próprios ao passarem mato fora.

Sei lá que mais fazíamos, tudo, andávamos á solta felizes até o dia que meu pai nos ia buscar.

Que boa recordação tenho destes tempos, ferias no meio do mato mas as mais felizes que tivemos.

Regressamos a esta terra e espalhamo-nos, deixamos de nos ver.

Ainda abracei e estive com a Suzete que vivia feliz com os filhos em Campo Maior. Tambem faleceu.

O Carlos penso estar ainda no Brasil.

A Marilia, fomos a casa uma da outra, nesse tempo foi como que um Adeus  à minha madrinha pois faleceu sem mais a ver, ela está diz-me um amigo vizinho, bem.

O Fernando foi para a tropa, lá se encantou por uma moça e foi para o Brasil onde faleceu.

Agora tu Maria Odete também partiste, quase não quis acreditar pois esperava encontrar-te um dia para matarmos saudades.

Tanto há ainda para contar e recordar daqueles tempos que quase dava para escrever um livro, mas Deus chamou-te para junto de todos os teus, na certeza que contigo levas os bons momentos desta vida.

Mais uma estrela brilha no céu.

Até sempre.





terça-feira, 28 de novembro de 2017

ESTATUAS E FERIAS


Gosto de estátuas, quantas pessoas são  esquecidas após a morte mesmo até mesmo em vida e lembradas em estátuas bem trabalhadas que perduram longos anos.

Eu como gosto de poesia, há dias estive junto a estátua de Nestor Alamo, situada junto a catedral de Las Palmas.

Confesso que não conhecia a sua obra, nem sequer o senhor no entanto vários residentes locais simpaticamente iam parando e dizendo que era de um grande escritor, musico e poeta.

Realmente junto a ele uma cadeira com livros abertos e bem dispostos como que indicando ao passante que seria um homem de letras.

Curiosidade levou-me á Internet saber mais em pormenor quem era a personagem, pessoa culta , disponível a mil ofícios em especial a musica e poesia.

Tirei o retrato junto a ele por ser mais um amigo de ferro que vim a conhecer sem o esperar.

Mais a frente a meio da marginal da cidade a estátua de uma senhora aperaltada olhando o mar. Estátua de Marya Sanches mulher em traje folclórico cantante das festas, pelo menos fiquei a saber como se vestiam tipicamente as pessoas naquela cidade.

O homem que calmamente lia o seu livro num jardim. Benedito Perez Galdó 

A estátua do pescador e o homem arranjar o peixe.


Isto sem falar nos imensos museus e igreja a visitar.

Respirar-se calma, esquece-se a vida como se estivesses noutro mundo.

É assim que vejo as minhas ferias, não estar uma semana esticado ao sol na praia nada me diz. 

Uma semana depois o bronze da paria vai-se, e se com sorte não apanhar um escaldão.

Uma vida depois lembramos-nos da beleza da cidade e suas historias.

Assim ja aconteceu em varias cidades incluso a nossa, que cativa tanto turismo estrangeiro.

Adoro este tipo de ferias!





Acácias, muitas de todas as cores.

sábado, 25 de novembro de 2017

O 7º ANIVERSARIO

Tão pequenas que eramos, e como recordo todos os que estão nesta foto.

Foi no meu aniversário, 7 anitos, vivíamos no Moatize, e a festinha não podia deixar de ser feita.

A mesa com o bolo de aniversario e mais iguarias próprias para a criançada estava posta na larga varanda que naquele tempo todas as casas tinham.

Mas era no imenso quintal com um enorme canteiro em frente à casa onde existia uma parreira, que adorávamos brincar.

Era as corridas, à apanha, à macaca depois chamada neca, ao ovo podre, uma roda onde em volta andava uma de nós de lençinho na mão, onde deixasse cair teria que apanha-lo logo e continuar o joga, senão era o ovo podre. Tantos jogos ao ar livre nos prendia, nem os brinquedos faziam falta.

Naquele tempo já o meu pai tinha a maquina de filmar que usava em todas as ocasiões importantes a registar.

Este era um deles, o aniversario da filha mais velha, o seu “bijou” e filmou toda a festa.

Lembro-me o pai de cócoras para apanhar todos os miúdos pequenitos e maquina em frente á cara, calções de caqui e balalaica, filmando livremente para mais tarde recordar.

Esse e outros filmes ando a tentar coloca-los na versão mais moderna para poder ver pois foi filmado em Super 8 que hoje já ninguém ou quase ninguém tem maquina de projectar para se ver os mesmos.

A brincadeira foi até tarde, e quando chegou a hora de apagar as velas já a noite descera, o que não invalidou que se fizesse a dita filmagem, do momento solene do apagar as velas, tendo para isso improvisado a ligação de um farol a uma bateria iluminando tudo, lá ficou registado o momento.

Como anseio um dia poder mostrar estas e outras imagens.

Esta foto , tirada penso que há chegada dos meus amiguinhos à festa, pois ainda estávamos com a roupa bem engomadinha e limpinha, alguém tirou esta foto.

Recordo nela, o Marcel, filho do director da Carbonifera, a Maria Amaral, as minhas grandes amigas as irmãs Cravo, a Geninha Castro eu e a minha irmã.

Registado que foi este momento de há tantos anos quis reparti-lo com meus amigos desse tempo e ainda de hoje.

Tenho esperança de um dia ainda poder abraçar a Betinha Cravo e irmã que tanto brincamos em crianças e há dias as encontrei neste mundo de internet.

Foi lindo este meu aniversario, dos muitos que passaram este é o meu preferido e inesquecível.


Obrigada pai, onde estejas por sempre teres registado os melhores momentos das nossas vidas.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

OS PORTUGUESES E AFRICA

Jacarandas

Anda uma luta forte e feia dentro da minha alma.

Há uns anos uns milhões de Portugueses, emigraram para um país calmo, doce, farto maravilhoso , porque aqui em Portugal era o que se sabe, miséria, trabalho por um naco de pão seco , filhos descalços e roupa rota, casas de pedra no inverno geladas, escolaridade pouca ou nenhuma, uma luta pela sobrevivência.

Fizeram a sua vida com a mesma força com que a faziam em Portugal, mas viam nas mãos num mês o que ganhavam na terrinha num ano.

Mas não foi tudo um mar de rosas, sabe Deus ao que foram, o que tiveram que fazer para sobreviver em terras desconhecidas, com doenças que os deitavam por terra muitos desterrados no meio do mato onde só viam macacos e os pássaros cantar,

Foram anos de luta, enterraram toda uma vida naquelas terras, nasceram e criaram os filhos, e já velhos esquecidos da miséria que deixaram para vivirem felizes na terra que passou a ser a sua Pátria.

Anos depois viram gente a morrer numa guerra que poderia ser diferente, uma fuga obrigatória, novamente aos primórdios dos anos de suas vidas com a diferença que já muito do que deixaram ter desaparecido.

Chamaram-nos de RETORNADOS.

Muitos não eram nem nunca foram pois nasceram e sempre viveram lá sem cá nunca por os pés.

Em Africa, deixaram casas recheadas de tudo, quintais com árvores de fruto, empregos, investimentos etc que faziam daquele país a sua terra.

Fugiram” para onde pensavam refazer a sua vida, países vizinhos, pensando ser um outro futuro sem voltar as casas de pedra escura e fria e ao esforço de tirar da terra apenas o que dava para sobreviver.

Sim porque em Portugal também não havia nem há empregos e ganha-se uma miséria, sendo a saída como emigrante, e mais uma aventura.

Correram todos os países de Africa onde viveram muitos anos, mas mais tarde tiveram que sair ou digamos fugir dum governo facínora com um povo que apenas queria o que era dos brancos para depois nada fazerem com o que roubavam.

Mataram-se “farmeiro” a sangue frio, roubavam-nos do que novamente tiveram que construir ao ponto de ficarem sem nada e andarem nas ruas a pedir.

Invadem-se casas para roubarem, violarem e matar os donos.

Uma tristeza sem fim, até quando só Deus sabe.

Pior ainda é excepção à regra, aqueles que com o retorno no 25 de Abril por obra e graça de uma qualquer sorte, terem feito vida melhor que por aquelas terras e hoje se preciso for dar a mão a um desempregado conhecido das aventuras anteriores lhes fecharem as portas e até mesmo deixarem de os cumprimentar.

Que Portugueses somos nós, que pedimos para tudo e para todos, quando a nós mesmos numa fila eterna o IARN nos meteram 5.000$00 na mão e mandaram-nos à vida?

Hoje os “refugiados” que chegam á nossa terra, espera-os um apartamento mobilado e um determinado valor mensal para sobreviverem, até organizar a vida ou seja aprender a lingua e arranjar emprego, tem todas as mordomias e ao fim de uns dias, dão de “frosques” como é habito dizer.

Pois meus amigos ainda há muitos portugueses naqueles países de Africa que terão que vir com uma mão á frente outra atrás, porque repetiram o erro de tentar fazer vida por lá, e aí quero ver se, vindos de uma guerra, poderão chamar refugiados e ter as mesmas mordomias que tiveram os outros .

E olhem que há muitos e muitos no Zimbabué e na África do Sul que terão mesmo que sair ou encontrarão a morte numa paragem dum semáforo, num assalto ou até mesmo na rua.






domingo, 19 de novembro de 2017

TETE DA SAUDADE





Sinto uma tristeza tão grande, como se me tivessem roubado a alma.

Uma tristeza igual aquela que os colonos que partiam para Moçambique e deixavam os pais ainda novos de cabelos pretos e cheios de força e quando regressaram encontraram um velho cabisbaixo de cabelos brancos como se ninguém tivesse tratado dele durante a sua ausência.

Aconteceu-me o mesmo agora quando vi as fotos da minha cidade tiradas recentemente por amigas que a foram visitar.

Estive 30 anos ausente daquela terra mas na minha memoria ficou sempre a beleza das casas na avenida, as gentes que me abraçaram.

O colégio onde aprendi as primeiras letras até mesmo a igreja em que me casei.



Comigo foi a minha filha, para lhe mostrar o que era meu por nascimento aquela terra, assim encontrei quase tudo na mesma, algumas coisas mais velhotas mas havia passado 30 anos, as gentes as mesmas, as ruas os edifícios públicos e mesmo até as minhas casas pareciam novinhas, bem conservadas.

Fui mostrar os escritórios e a oficina do meu pai a minha filha, os presentes dono receberam-me de braços abertos puseram-me a vontade para matar as minhas saudades.


Dei a volta a cidade toda que por incrível que pareça já tinha um semáforo junto ao Gouveia da Rocha, na altura uma loja chinesa.

Passeei a pé pelas ruas indicando a minha filha os sítios por onde passávamos, entramos nas lojas indianas procurando capulanas, viramos na rua que vai dar a Pensão Alves, até a casa onde estavamos alojadas.

Mostrei-lhe onde era a mesquita e de quando em vez parava em frente a uma loja e contava-lhe por exemplo onde havia comprado a minha mala de canfora, o sari cor de rosa com brilhantes espalhados que depois fiz um vestido e passagem de ano, a loja do Bega, Do Valy Ossman grande amigo de meu pai, e até mesmo o casamento de uma filha para a qual fui convidada etc etc


Os escritórios da Mina eram na antiga Foto Sousa onde se tiravam as fotos mais “ins” na cidade, e para meu espanto num compartimento ainda estava o cenário, o holofote e a “chaise longue” que usavam para ficar como fundo na foto.

Revivi toda a minha vida. Voltei feliz porque parecia te-la deixado no dia anterior e haviam passado 30 anos.

Esta semana duas amigas foram a Tete, as fotos que vi estava tudo abandonado, as casas que resistiram pintadas de corres garridas, os passeios cheio de buracos, as estradas alcatroadas desapareceram.

Que aconteceu na minha cidade mataram-na, abandonaram-na para olharem mais pela cidade nova que nasceu do outro lado da ponte?

Ninguém tratou dela, deixam-se cair os prédios mais emblemáticos, numa cidade que já foi importante.

Pois estou triste, mas continuarei a escrever memorias dos tempos felizes naquela terra.

Entrada da cidade, ao fundo a Serra da Caroeira.

Avenida Principal

Rádio Clube

avenida da Univendas

Um amigo antigo

Ainda o carro nas bombas de gasolina

Casa do Betinho e Sr.Carreira



Farmacia de Tete

Univendas


Malambeira.