Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

domingo, 29 de novembro de 2015

Os quadros de honra nas escolas.



http://www.ritaferroalvim.com/2014/07/abaixo-os-quadros-de-honra_7.html#.Vj8xyyHtmko
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Os quadros de honra podem criar bullyng nas escolas....

Após ler este artigo, fez-me lembrar o copo meio cheio e o copo meio vazio.

São opiniões que respeito mas também tenho o direito de ter a minha.

Acho bem que haja algo que incentive os alunos a progredir na escola e não banalizar o método de que todos têm que ser iguais para não haver diferença.

Mas as diferenças existem e sempre irão existir pois há crianças mais interessadas e as menos interessadas, há pais que acompanham os filhos e pais que se estão a marimbar.

Muitos pais chegam a casa e ocupam-se das crianças procurando saber como correu a escola, o que fizeram nesse dia e ajuda-los nos TPC  nem que os mesmos sejam apenas um desenho para pintar.

Outros há no entanto que preferem sentar-se de cerveja na mão em frente ao televisor a ver um qualquer resumo de futebol ou sair para tomar café dizendo que isso cabe á mãe que por sua vez está ocupada com mil tarefas de casa.

Qualquer ser humano gosta de ser incentivado seja de que maneira for, assim sente que tem um papel na sociedade que deve sempre melhorar.

Não é da sociedade portuguesa a história do “quadro de Honra”, em todo o mundo existe este método ou outro parecido para valorizar quem trabalha e quem anda por cá a ver andar os outros.

Cabe aos pais ajudar os que não façam a diferença para os igualar.

Lembro que quando meu filho entrou para a escola inglesa tinha 6 anos, já o livro da escola onde ele aprendeu a juntar as letras, diariamente vinha com uma estrela colada.

Havia-as douradas, prateadas, e azuis.

Por ser português a primeira semana trazia colada no seu livro a estrela azul que significava pouca aprendizagem, o que o deixou com pouca vontade de ir a escola, mas nas semanas seguintes foi alterando e pouco tempo após já trazia as estrelas douradas que corria a mostra-las logo que chegava da escola.

Deveu-se isto a conversa que o pai teve com ele, e assistência diária na escrita e leitura, o que o deixou em pulgas diariamente para apanhar o “autocarro para a escola”.

E assim foi durante toda a vida escolar.


No meu ver é um incentivo à aprendizagem e evolução do aluno a competitividade saudável na aprendizagem que mais tarde será na vida real.



A VELHA MAQUINA DE COSTURA


Ontem fiquei a olhar para a velha máquina de costura de minha mãe.

Quantas historias nela guarda, de tantos e tantos anos companheira das horas vagas, das tardes quentes de outrora.

Recuei muitos anos, quando vim de Africa, em casa da minha avó, na aldeia, no canto da sala junto a sacada virada para a rua, havia uma velha máquina de costura onde ela se sentava nas horas vagas.

Era o tempo de criar sete filhos, uma vida de trabalho na lavoura para que nada faltasse em casa. Meu avô negociante de gado com bastantes terras de cultivo tinha inevitavelmente de ter a ajuda de todos, em casa ficam apenas os mais pequenos aos cuidados da avó velhinha.

Era um amanhecer cedo e um deitar tarde, de inverno e de verão, desde as sementeiras às colheitas num azáfama tal que mal caiam na cama adormeciam.

Mas na sala ficava minha avó sentada à máquina, deitando fundilhos nas calças dos mais pequenos, transformando a roupa dos mais velhos para os mais novos e remendando outra.
Um dia correu no povo que não era bom coser à noite pois aparecia a costureirinha, 
personagem de outro mundo, uma alma penada que faltara ao cumprimento de uma qualquer promessa.

Segundo diversos testemunhos, ouvia-se distintamente o som de uma máquina de costura, das antigas, de pedal, assim como o cortar de uma linha e até mesmo, segundo alguns relatos, o som de uma tesoura a ser pousada. Um trabalho de costura, portanto. O som da máquina de costura a trabalhar podia vir de qualquer parte da casa, como a cozinha, o quarto de dormir, a sala de estar, o sótão, ou até mesmo de alpendres, enfim de qualquer divisão da casa.

Assim deixou a costura nocturna e foi nas tardes que conseguia livres que se sentava à costura.

Eram tempos difíceis, de racionamento de tudo, especialmente do açúcar, azeite, sabão, farinhas etc. e havia que trabalhar para o sustento da casa.

Minha mãe, seguindo ensinamentos aprendidos,  lembro-me de sempre ter havido também lá por casa uma máquina de costura.

Era uma máquina manual que a mãe colocava sobre a mesa e enquanto cosia, rodava a manivela com a mão.

Tempos depois já quando estávamos em Moatize meu pai comprou uma Singer de pedal, linda numa mesa com duas gavetas, uma cabeça elegante com a palavra SINGER em dourado.

Quanta tarde passei sentada no chão a olhar para os pés de minha mãe pedalando sincronizadamente enquanto de suas mãos saiam vestidos para nós.

E pedia que me deixasse sentar nela e coser, parecia tão fácil mas ela não me deixava com medo da agulha não fosse eu picar-me nela.

Mas foi persistindo até que um dia meu pai disse:- Deixa lá a miúda tentar!

A medo lá me sentei, quase meus pés não chegavam ao pedal mas estiquei-me toda e dei os primeiros pontos num pedaço de pano branco.

Senti que naquele momento crescera uns anos, já me sentia poderosa e capaz de avançar para outras habilidades.

E o tempo foi passando, aprendi com a minha mãe a cortar o tecido, alinhavar coser depois ver a obra feita.

E passávamos tardes e tardes juntas na costura fazendo depois os meus vestidos e saias.

Mas queria mais e aprendi a bordar num dos cursos que a Oliva ministrava, e sempre que podia lá estava o sincronizar do pedal com o arco de bordar numas cores vivas e lindas, em panos da louça, toalhas e lençóis.

Nessa altura meu pai comprou uma outra máquina da marca Oliva, eléctrica, com um móvel fechado parecia uma móvel de sala.

Mas a velha maquina Singer ficou lá em casa, era onde eu mais gostava de me sentar e trabalhar, era leve e havia-me habituado a ela até que me casei e um dia me deram mesmo a máquina.

Bolas quantas coisas nela fazia, as roupinhas dos meus filhos, os bordados nos bibes , etc.

Nunca me separei dela e ainda hoje tem um lugar no cantinho lá de casa.

E foi nela que minha filha aprendeu também a coser as roupas das bonecas e mais tarde as suas.

Já tenho outra Singer moderna eléctrica, faz mil pontos diferente, mas jamais me vou separar da minha velhinha Singer companheira de tantos anos.

A máquina de costura da minha avó, ela em vida disse:
-Quando eu morrer esta máquina fica para ti.

Quis a vida que nas partilhas dos herdeiros me não fosse dada a máquina, uma recordação que ficou para trás, mas esta Singer da minha mãe um dia será para a minha filha.