Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Uma vida cheia de nada.


Photobucket
Das minhas lembranças do passado, dum país colonizado, eram as frequentemente diferenças abismais de classes económicas.
Grosso modo entre determinada classe social, a mesa era sempre farta, mas os  menos afortunados  faziam uma refeição por dia baseada na  “Xima” farinha de milho, muitas vezes acompanhada de “muliu” couve, ou “xibamba” feijão, que cozia horas infindas em panelas de barro encarrapitadas em quatro pedras sobre o fogo de paus de “micaia” trazidos á cabeça das mulheres, dos campos junto as “machambas”.
Os que viviam mais junto á cidade, era porque trabalhavam a servir o “mezungo”, e traziam as famílias para casas de capim,-“palhotas”, num zona delineada á esta população e de nome “temba”. Eles tinham que esticar o parco vencimento para se alimentarem, e raras vezes dava para comprar roupa ou uma capulana a mulher. Vestiam-se das roupas usadas que o patrão lhes dava, mais que não fosse para não parecer mal ter um empregado andrajoso.
E, era usual veremos as crianças que vagueavam pela cidade, encostados as varandas dos cafés, “vendo comer” os outros enquanto suas barrigas se revoltavam de fome.
Mas ninguém aceitava esta verdade, porque ignoravam esses casos de gente “inferior” como se não existissem chegando mesmo a “enxota-los” para que não incomodassem consciências, se é que as havia.
Nem sei como sobreviviam estas crianças, que nem iam á escola, rotas descalças de olhos tristes, ignoradas por uma sociedade de barriga cheia que não conhecia a palavra caridade.
Um dia para esses meninos escrevi assim:
Menino franzino, cabedula rasgada
Descalço, faminto, sujo perdido
Escondido na cidade como que a medo
Dormia na rua, á cacimba e sem esteira
Estendia a mão e a quinhenta pedia.
Mwana perdido que todos corriam
Á pancada ao desprezo de todos fugia.
“Quinhenta patrão!”, ninguém o ouvia,
E o menino pedia e chorava em vão
Por uma quinhenta , que ninguém deu
A moedinha branca precisa pró pão

(http://mariaalagoa.blogspot.pt/)

Entretanto viemos para a Portugal, um país para muitos desconhecido,  empurrados pelas politiquices dum governo que mais não fez que entregar, ou vender de mão beijada a terra que nos viu nascer, e deixou todos abandonados, mas ficaram muitos dos intervenientes desta permuta de bolsos cheios.

Quase quarenta anos passados, e a história repete-se, ou seja neste momento, a situação deste país mais não é que a repetição do passado, políticos de bolsos cheios, povo na miséria, a ser “colonizados” e a entregarem o que resta dum império de seculos.
Vende-se bancos, instituições públicas, companhias aéreas enfim todas as “jóias da coroa” o que é dum país soberano, a estrangeiros.
E já se vê crianças “vendo comer” os outros, vagueando pela rua, vivendo um inferno de vida, que não têm culpa,
 A fome, é o pior dos males, não se cura, não se engana, não se esquece, e para a matar tudo se faz, rouba-se, revolvem caixote do lixo,  lutam por um bocado de pão seco que seja, ou restos que outros não comeram e se preciso for mata-se.
Nesta Europa tão desenvolvida, explora-se o povo, tiram-lhe os parcos haveres, o emprego a honra, as pensões de reforma, por impostos para pagar as loucuras dos governantes.
Mais uma vez, ninguém tem coragem de julgar os responsáveis, que como sempre saem por cima ainda a rirem da desgraça alheia.
Que fazer das famílias abandonadas á sua sorte desempregadas, com dívidas no padeiro e na loja do bairro, com crianças esfaimadas, e sem nada que lhes dar.
Repetindo o meu poema apenas mudando algumas palavras
Menino franzino, roupa rasgada
Descalço, faminto, sujo perdido
Escondido na cidade como que a medo
Dorme na rua, á chuva e ao frio
Estende a mão e a esmola pede.
Menino perdido que todos ignoram
Á pancada ao desprezo de todos foge.
“Moedinha senhor!”, Ninguém o ouve,
E o menino pede e chora em vão
Uma esmola, que ninguém deu
A moedinha precisa para um pão!

É frustrante, o que se vê hoje neste Portugal.!