Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

sábado, 29 de novembro de 2014

CARLOS MARTINS


Passaram muitos anos,mas recordo ainda em garota ver a cidade onde nasci com ruas de terra batida, poucas as casas novas e a cidade pacata.

Aos poucos foi crescendo sem quase darmos conta, abriam-se ruas para uns lados onde o mato roçava a cidade, onde se passeavam os animais selvagens que se faziam ouvir pela noite quente cacimbada.

Brancos eram já alguns que se aventuraram a fazer vida numa terra onde desde sempre apelidaram de inferno, tal eram as temperaturas altas que se sentiam.

Tete no passado era apenas terra de passagem, ninguém se fixava por lá mesmo que a cobiça dos metais preciosos tentassem as gentes, ou mesmo o rio por onde passava á altura os barcos que a ligavam a outras paragens.

Mas aos poucos movidos pela aventura, localização ou negócios foram ficando por lá.

Morei sempre ao cimo da avenida numa casa que meu pai comprou e aos poucos arranjou num estilo colonial de varanda a toda a volta, onde o fresco corria nas noites de canícula, e de dia se molhava o chão de cimento para refrescar.

Era grande, deu mesmo para aprender a patinar na varanda, livremente.

Na altura a rua em frente, era estreita de terra, ainda com uma ponte rudimentar junto ao bairro da polícia muito mais tarde construído do lado esquerdo quem ia para o centro.

Aos poucos fui tendo vizinhos, a familia Martins com tres filhos que passaram a ser os meus amiguinhos, e que me valeram ainda um ralhete da minha mãe pois para ir brincar com eles saltei a vedação de arame que separava as nossas casas e rasguei a saia rodada que trazia de um vestido quase acabado de estrear.

Mais adiante os Marta, filho único, rapazinho vaidoso sempre de cabelo muito bem penteado, que implicavamos por não o deixar jogar a bola.

Os Madalenas, lutadores, com muitos filhos onde passei muitas tardes brincando sobre o olhar atento da mãe.

Por ali mais uns moradores que por ora não falo aqui pois de tão antigos ninguem recorda.

E ao domingo passeava-se por ali ou até ao rio Revugué onde a brincadeira era  na areia quando o rio ia baixo.

Era a nossa tarde de praia, corríamos desalmadamente brincando as apanhadas, rindo até á exaustão, até as mães estenderem a toalha no chão onde colocavam bolinhos, sandes e laranjada que à chegada eram enterrada na água do rio para se manter fresca.

E o dia passava alegremente.

Hoje olho em redor, os mesmos amigos mantém-se apenas faltam os que partiram, com muita mágoa minha.

Carlos Alvarinho Martins partiu esta semana, mas estará sempre neste grupo que hoje aqui recordo.