Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

domingo, 28 de dezembro de 2014

Novo ano 2015



E mais um ano está prestes acabar, não que fosse o pior mas uma ano cheio de muitas lutas para conseguir chegar a bom porto.


A vida não é como queremos mas como podemos, e para isso já estamos “catedráticos” em perder e lutar contra tudo para repor as esperanças muitas vezes já escassas.

É que perder algo por que lutamos trabalhando arduamente durante anos, em jovem é uma coisa com a nossa idade é outra.

Já as forças vão sendo poucas, e as maleitas vão aparecendo mesmo quando pensamos que “nós” nada nos chega.

Para quem veio do outro lado do atlântico há muitos anos ainda jovem, e começou tudo de novo partindo de um ponto tão básico e difícil construindo uma nova vida com o intuito de repor o que havia perdido, já a coisa não foi fácil.

Foi necessário um grande esforço e um apertar de cinto, aprender a viver sem muita coisa a que vinha habituado, a contar as moedas, a reprogramar toda uma economia dentro de nova possibilidade.

Nem vou aqui recordar esses tempos difíceis, apesar de ainda ir rebuscar algumas dicas de quando em vez quando perdemos involuntariamente aquilo que tínhamos e outros nos bloquearam.

São outros tempos que a idade já não é a mesma e as tais maleitas disso mesmo nos vão recordando.

Antes, pegávamos numa força interior que nem sei de onde possa ter vindo e partíamos para novas conquistas que nos faziam esquecer o perdido e conseguíamos.

Hoje sentados lado a lado vamos tristemente falando de tudo que passamos, perdemos e ganhamos nesta luta constante, mas já sem muitas forças para tudo repor.

Por tudo isto ainda vou tendo a esperança de um dia me deixarem ter a vida calma pela qual lutei, e a reforma decente para a qual toda a vida descontei.

É isto que espero do novo ano que vai entrar, que me deixe gozar com saúde e paz  e que possa ver meus filhos felizes e meus netos crescer.

A imagem acima, foi de um tempo muito feliz com meus filhos ainda pequenitos tirada num país já desaparecido.


sábado, 6 de dezembro de 2014

45 anos



Foi em 1967,ou talvez não!

Já nem recordo a data apenas sei que era jovem, muito jovem, quando te conheci.  

Havias chegado à cidade como militar.

Encantaste-me, entre conversas e brincadeiras namoramos. 

O tempo foi passando, regressaste à Metrópole, e quando já pensava ter-te perdido voltaste.

Talvez o  destino estivesse marcado, e acabamos caminhando lado a lado pela vida fora, entre bons e menos bons momentos fomos andando.

Hoje 07 Dezembro 14 fazemos 45 anos desta longa  caminhada, não estamos sós mas acompanhado dos filhos e netos.

Que Deus nos acompanhe por mais alguns anos. 




domingo, 30 de novembro de 2014

TERRA PERFUMADA




A chuva, essa chuva que trazia os meus cheiros de Africa.

O cheiro a terra molhadas, que apaziguava a alma das gentes e o calor que sentíamos.

No chão quente, as pingas grossas levantavam uma poeira "resmungona" como que querendo sacudir do seu espaço a intrusa recém- chegada.

E caía grossa, num repente que muitas vezes nos apanhava na rua.

Quando acontecia, era um correr para o abrigo mais próximo, até que ela passasse.

Dentro do carro parado junto à mãe de água, ali esperávamos olhando o rio que corria desalmadamente levando consigo troncos boiando ao sabor da corrente e tudo mais que encontrava pelo caminho.

Durava pouco ou continuava pela noite fora, apagando o fogo das queimadas que já limpavam os terrenos para as culturas,ora tornando-se forte formando rios de água que tudo levava à frente.

As cheias, quando aconteciam levavam consigo todo o pecúlio das gentes dos campos, as frágeis habitações de paus e capim, as culturas, e os animais que os ajudavam na sobrevivência.

Cobriam-se as estradas de lama, por onde fugiam as gentes de “catundos” na cabeça e filhos as costas refugiando-se das águas que ocupavam seus lugares.

Mas era belo o cenário das chuvas tropicais, e escreviam isso mesmo.

TERRA PERFUMADA

Cheira-me a pó de terra vermelha,
A rio forte que corre velozmente,
Cheira-me á florescência da mangueira
A pêra goiaba, a maçaniqueira

Cheira-me a chuva diáfana e bondosa
e sinto encostado ao embondeiro
a natureza, o alimentar da minha alma.

Deixem-me ficar assim absorto
Aqui, onde a vida me ofereceu
A terra que viu nascer,
Tudo o que sou e tudo o que é meu.

Um bonito poema escrito à época pelo sargento que me namorava, hoje meu marido.

Essa terra e essa chuva que nos lavava a alma e nos deixava felizes, vendo depois  o desabrochar dos "capins", das culturas, tornando tudo mais verde, voltando á normalidade.

Era o ciclo da vida.!


sábado, 29 de novembro de 2014

CARLOS MARTINS


Passaram muitos anos,mas recordo ainda em garota ver a cidade onde nasci com ruas de terra batida, poucas as casas novas e a cidade pacata.

Aos poucos foi crescendo sem quase darmos conta, abriam-se ruas para uns lados onde o mato roçava a cidade, onde se passeavam os animais selvagens que se faziam ouvir pela noite quente cacimbada.

Brancos eram já alguns que se aventuraram a fazer vida numa terra onde desde sempre apelidaram de inferno, tal eram as temperaturas altas que se sentiam.

Tete no passado era apenas terra de passagem, ninguém se fixava por lá mesmo que a cobiça dos metais preciosos tentassem as gentes, ou mesmo o rio por onde passava á altura os barcos que a ligavam a outras paragens.

Mas aos poucos movidos pela aventura, localização ou negócios foram ficando por lá.

Morei sempre ao cimo da avenida numa casa que meu pai comprou e aos poucos arranjou num estilo colonial de varanda a toda a volta, onde o fresco corria nas noites de canícula, e de dia se molhava o chão de cimento para refrescar.

Era grande, deu mesmo para aprender a patinar na varanda, livremente.

Na altura a rua em frente, era estreita de terra, ainda com uma ponte rudimentar junto ao bairro da polícia muito mais tarde construído do lado esquerdo quem ia para o centro.

Aos poucos fui tendo vizinhos, a familia Martins com tres filhos que passaram a ser os meus amiguinhos, e que me valeram ainda um ralhete da minha mãe pois para ir brincar com eles saltei a vedação de arame que separava as nossas casas e rasguei a saia rodada que trazia de um vestido quase acabado de estrear.

Mais adiante os Marta, filho único, rapazinho vaidoso sempre de cabelo muito bem penteado, que implicavamos por não o deixar jogar a bola.

Os Madalenas, lutadores, com muitos filhos onde passei muitas tardes brincando sobre o olhar atento da mãe.

Por ali mais uns moradores que por ora não falo aqui pois de tão antigos ninguem recorda.

E ao domingo passeava-se por ali ou até ao rio Revugué onde a brincadeira era  na areia quando o rio ia baixo.

Era a nossa tarde de praia, corríamos desalmadamente brincando as apanhadas, rindo até á exaustão, até as mães estenderem a toalha no chão onde colocavam bolinhos, sandes e laranjada que à chegada eram enterrada na água do rio para se manter fresca.

E o dia passava alegremente.

Hoje olho em redor, os mesmos amigos mantém-se apenas faltam os que partiram, com muita mágoa minha.

Carlos Alvarinho Martins partiu esta semana, mas estará sempre neste grupo que hoje aqui recordo.


sábado, 8 de novembro de 2014

A despedida.

      ( imagem da internet)

Maria caminhava só sem dar conta por onde andava, fazia frio apenas um xaile de malha fina, caía pelas costas enquanto as mãos o cruzavam sobre o peito num aconchego que não sentia.

O outono chegara abruptamente quando ainda os raios de sol eram quentes e a aqueciam, ou pensava ela que sim
.
Tinha saído bem cedo de casa, caminhava a beira-rio sobre um tapete de folhagem multicor caída das árvores que se despiam aos poucos, abafando – lhe o ruído dos passos caminhando em silêncio e sem destino.

Pela rua prostitutas e noctívagos arrastam-se como podem num regresso a casa tardio, com o corpo a pedir descanso.

Maria recebera de amigos um telefonema, Luís havia partido.

Mal percebia o que lhe diziam, saltando da cama, incrédula pede que lhe repitam tudo novamente.

Partira, o grande amor de sua vida, partira como, em viagem talvez pensava ela, e na impossibilidade de ele a avisar pedira a alguém que o fizesse.

Sente-se sufocada, precisa caminhar apanhar o ar fresco da manhã enquanto tenta perceber se teria sido apenas um sonho mau, mas algo lhe diz que não.

Havia estado dois dias antes nos seus braços, gozando um amor proibido apenas realizado entre as quatro paredes de um quarto de hotel. 

Amavam-se intensamente esquecendo o mundo lá fora, não havia exigências nem cedências, era um amor dum mundo só deles e assim tinha que ser por imposição da sociedade.

Um segredo apenas a dois que durava há muitos anos, um amor que nascera quando jovens e ao qual a vida trocou as voltas num desencontro perdido entre a guerra.

Casualmente numa noite junto ao cais do  Sodré haviam-se reencontrado quando ela apanhava o comboio para Cascais, trocaram poucas palavras mas bastou para avivar sentimentos adormecidos.

 A vida tem destas coisas.

Durante muitos anos passaram a viver intensamente esse amor, alimentado por uma paixão incontrolável, sem cobranças nem promessas, num universo só deles sem que nunca ninguém tivesse sabido.

Na última noite, deitados na cama ainda quente, abraçados e entre beijos intermináveis, Luís coloca-lhe no dedo um anel bem simples apenas três pedrinhas quase invisíveis num aro fino de ouro branco.

Maria estranhou, pois nunca houvera troca de presentes entre eles, e antes que o questione sobre a oferta, ele sussurra-lhe ao ouvido entre palavras meigas:

-Não perguntes nada usa-o sempre se puderes.

Fora há dois dias apenas, ainda sentia o cheiro do aftershave nas suas roupas, os lábios quentes quando a beijava.

Sente as lágrimas frias correrem pelo rosto, não quer chorar apenas fechar-se nas recordações dos dias passados com ele, enquanto olha a mão onde tem o anel, e chora.

Chora baixinho sente que parte dela definha em cada lágrima que caí.

Regressa a casa, começara a chover e sente um frio terrível.

Afunda-se no sofá e deixa que as horas passem, quer vê-lo pela última vez mas teme que a dor a faça revelar o seu segredo.

E no dia seguinte, bem cedo despede-se dele, quando ainda pouca gente o velava na pequena igreja do bairro, no secretismo que sempre os envolveu sussurra-lhe ao ouvido algo imperceptível, numa despedida sentida.


Ninguém mais viu Maria.!



sábado, 25 de outubro de 2014

TETE ANTIGO


Descobri  pelos caminhos da internet fotos de Tete muito antigas.

Nem sei de que ano possam ter sido tiradas no entanto já à época era uma cidade bem delineada com edifícios fantásticos que vale a pena apreciar.

É que toda a minha vida recordarei estes locais onde tantas vezes passei e onde fui feliz.

A velha igreja se S.Tiago Maior, imponente que perdura até aos dias de hoje.



Ainda o transporte era os  riquexós , passando pela sombra das acácias .


A cidade vista do cimo do Forte de S.Luis talvez o ponto mais alto da cidade.



Em frente ao Dominó ainda se encontram estas casas agora bem velhinhas.

 O imponente  hotel Silva que por longos anos serviu as gentes de Tete e por fim o Estado Português, acabando por cair de velho.


Estou certa que algumas destas construções sejam do tempo das “Donas”.

Para quem se não lembre, as mulheres daquele tempo tinham um notável protagonismo na região do vale do Zambeze possuindo extensos territórios chamados “prazos” obtidos por concessão da coroa ou por sucessão. De poder grande económico, viviam em casas apalaçadas rodeadas de criadas e bem estar.


Curiosos pela historia ? 

http://www.humanas.ufpr.br/portal/cedope/files/2011/12/As-donas-de-prazos-do-Zambeze-Pol%C3%ADticas-imperiais-e-estrat%C3%A9gias-locais-Eug%C3%A9nia-Rodrigues.pdf

domingo, 12 de outubro de 2014

Encontro Tetense em Coimbra


Mais um ano dos muitos que passaram desde que chegamos a Portugal, e ontem mais uma vez nos junta para matar a imensa saudade daquela terra e dos grandes amigos que de lá trouxemos.

Realmente foi uma excelente ideia descentralizar este encontro, o que permitiu as gentes do Norte que estar presente.

Estamos todos de parabéns, o almoço correu muito bem, a sala estava cheia chegando a faltar lugares para tanta gente o que de imediato se remediou.

A alegria e amizade que pairou durante todo o almoço e que está patente nas centenas de fotos que se tirou disso dão provas.

Gente amiga com quem privamos diariamente, que nos transporta aos dias felizes que vivemos em Moçambique.

Que dizer de um encontro com professores que ainda se lembravam das traquinices que fizemos quase meio século após.

Como é uso dizer-se todos os caminhos foram dar a Coimbra.

Amigos foram de autocarro comboio etc.

Consta no entanto que o maquinista que transportou esta turma animada pediu demissão de seguida…. (brincadeira)

A tentativa dos colegas de carteira tirar uma foto actual para a posteridade não foi possível, pois pela grande risota apenas fica a recordação de que apesar da idade estamos irreverentes como naquela época.

E a marrabente, essa jamais falta mas desta vez ajudada por uma animadora fantástica, ninguém tinha mazelas da idade e ali estiveram no meio da pista de dança abanarem os corpos aos sons da nossa terra,

Simplesmente fantástico.

Talvez não acreditem mas recebi imensas chamadas de quem não pode ir ao almoço e que ao ver as fotos ficaram com imensa pena.


Até para o ano, pois lá estarei porque acho que estes encontros são autênticos elixires da juventude.

sábado, 4 de outubro de 2014

É ESTE O MEU MUNDO.

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Estou perdendo com a idade, os dentes, os cabelos, a visão que já se turva, a pele firme e clara que tinha.

Crio sobre o lábio superior rugas, em volta aos olhos mais profundas, caem-me as peles das faces que teimam manter-se agarradas fazendo sulcos profundos, as mãos afiladas cobrem-se de manchas escuras, pequeninas como sardas mas aos poucos vão cobrindo todo espaço.

Doem as costas já curvadas, as pernas já de si cansadas, teimam em ficar sentadas.

Olho a janela pela manhã, e o sol brilha tal e qual como antigamente, mas cá dentro está nebuloso, ou será da minha vista já cansada.

Abro o roupeiro de cheiro a naftalina, que protege lindos vestidos de outrora, e procuro um bem largo e comodo que não me tolha os movimentos ao subir ou descer, e que não me incomode com apertos.

Pelas costas apesar de verão, coloco um xaile ou um casaco que me acomoda dum frio que não existe mas que sinto.

Calço aqueles sapatos já deformados, mas que não me trilha os pés nem incomoda os joanetes que teimam em fazer-me companhia.

Olho o espelho outrora lindo de cercadura dourada, também já lascada pelos anos.

Devolve-me um rosto triste e um cabelo esbranquiçado que penteio devagar que o tempo é longo.

No rosto nada de pinturas, apenas um creme que não deixe o sol ou o ar queimar-me.

Atravesso a sala passo pelo meu retrato em cima do piano, ainda jovem linda de sorriso nos lábios e braços longos como se abraçasse o mundo.

Não me reconheço mas sorrio sempre como se uma companheira me esperasse diariamente dando-me os bons dias.

Ao lado a foto de um jovem de olhos cor de mel, louro que já me partiu, pego nele e beijo docemente dando os bons dias como se ali estivesse presente.

Vou balbuciando palavras de amor perdidas no tempo como se ele me ouvisse.

Desço as escadas até á rua, as mesmas que há anos ali estão e que juraria estarem sempre a multiplicar-se, dada a dificuldade de as utilizar.

O ar quente da manha já avançada bate-me no rosto, e caminho sem rumo. Vou parando aqui e ali olhando as vitrinas ou cumprimentando alguma conhecida até ao café do Sr. Manuel.

Ao ver-me entrar sorri e pergunta atenciosamente:- O mesmo do costume?

Aceno sorrindo enquanto me dirijo a mesa também do costume como se estivesse reservada sempre para mim.

Vem o chá e a torrada, pão de forma barrada com manteiga e “jam” de cereja, uma atenção de quem me conhece gostos há muito tempo.

Já não uso açúcar devido aos diabetes mas sou incapaz de dispensar o doce na torrada, o que me faz sorrir da “maroteira”.

Passo boa parte da manhã ali sentada, pois sinto-me acompanhada de muita gente que não me conhece mas basta os cumprimentos á chegada para me sentir assim.

Afinal em casa, estou só nem a vizinha do prédio vejo tal a azáfama diária de todos.

O calor aperta e regresso a casa, levando num saco, pão e uns pastéis que entretanto a D.Emilia da padaria me vendeu, será uma das refeições quando o apetite retornar.

Entro em casa, o silêncio atormenta-me e ligo o velho transístor enquanto rodopio pela casa dando um toque aqui outro ali no que estando no seu lugar acho desarrumado.

Por fim sento-me na cadeira de baloiço que propositadamente coloquei em frente á janela de onde vejo o Tejo em todo o seu esplendor, e dormito com a ideia que é o meu Zambeze que me visita diariamente nos meus dias de saudades e me deixa sonhar.

É este o meu mundo.






domingo, 14 de setembro de 2014

O AERO CLUBE

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Há muito que não escrevo aqui, mas porque isto de escrever é um vício, sempre que tenho á mão um papel e uma caneta lá estou eu a rabiscar ideias com as quais depois escrevo as minhas histórias

São apenas ossos do ofício que teimam em não me dar tempo para fazer o que mais gosto, pôr o preto no branco, as histórias que a minha memória teima em não esquecer.

Mesmo depois de tantos anos o meu amor por vidas passadas em terras não tão lindas como algumas cidades por este mundo fora, mas acolhedora e de gente muito boa e amiga teimam em permanecer dentro de mim para sempre.

Foi o que aconteceu hoje quando deparo com uma foto linda que mostra todo um complexo lúdico construído ao tempo na cidade de Tete.

Direi que para muito era o ex-libris da cidade, para ali convergia toda a sociedade disfrutando do belíssimo bar onde sentada na esplanada açambarcava toda uma paisagem linda com o rio aos pés e um pôr-do-sol de meter inveja a todo o mundo.

Era ali no alto e á direita de quem ia para o aeroporto que ele se impunha, oferecendo uma brisa de ar fresco nas tardes de canícula, sentados numa mesa ao fim da tarde frente a uma bebida gelada acompanhada como sempre de um petisco.

Eram as histórias e a boa companhia do Sr. Ferreira da Silva, homem letrado de muita boa conversa que nos acompanhava.

Aos fins-de-semana ali se reunia a família e amigos disfrutando da piscina, fantástica onde muitos aprenderam a nadar e ensinaram seus meninos.

E as festas? 



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Ora as festas foram memoráveis, passagens de ano, almoços de confraternização, casamentos e baptizados tudo ali era servido no maior requinte.

Já não falando nos amores e desamores que havia olhando o nascer do sol entre beijos e abraços mediando promessas de amor eterno.

Era assim naquele tempo, que nem a guerra nos mantinha em casa, talvez sentindo-nos protegidos pelo enorme embondeiro que nos recebia a entrada do complexo.


Belos tempos!!!

domingo, 13 de julho de 2014

O Pontiac Azul.



Hoje lembrei-me de um casal carismático da cidade, de Tete.

Já com alguma idade, viviam numa casa bem pertinho do rio, rodeado de sombra e suas bichezas que tratavam com muito carinho.

Não rara é a história que contavam sobre a visita de um médico a casa motivada por uma doença súbita, senão quando de baixo da cama um restolhar se ouviu ao que o medico questionando a proveniência de tal som, lhe explicaram que seria uma pobre pedrês que ali chocava seus ovos, se sentiria incomodada pela presença estranha.

Não lhe conheci filhos, mas penso que pertencia á família de um também residente em Tete.

Gente simples, sempre bem-disposta e com iniciativa.

Um belo dia aparece na cidade um Pontiac azul clarinho cheio de cromados num brilho de fazer inveja a muita gente, desfilou pela avenida bem devagar como que orgulhosamente exibisse a jóia.

O pessoal “Habitué” da esplanada do hotel Zambeze, pasmou com tal aparição, questionando todos da proveniência de tal raridade na cidade, senão quando reparam que ao volante se sentava um cavalheiro de fato de balaica impecavelmente branco, braço na janela com um imenso sorriso vaidoso.

Um espanto o carro que ao passar deixava todos a olhar com uma ponta de inveja.

Pessoalmente privei com a esposa, cheia de iniciativas ao saber da chegada do novo Governador á cidade, tomou a de  organizar um baile de boas vindas no salão de festa do Club da terra “o Sporting”.

Se bem o pensou bem o fez organiza a festança e convida 3 meninas a acompanha-la ao palácio de Suas Excelências para formalizar o convite.

Foi marcado o dia e a hora pelo seu secretário.

De entre as mensageiras eu também estava presente. (nem podia deixar de o ser), e no dia lá subimos as escadarias do edifício e encaminhadas para uma sala onde fomos recebidas.

Durante esse tempo passei a fazer sinais á menina de deslumbrada com o ambiente balançava as pernas imparavelmente sem se dar conta do que fazia.

Após os cumprimentos e boas vinda efectuamos o convite, ao que simpaticamente aceitou pouco antes da entrada de um criado fardado com uma bandeja de copos de laranjada fresquinha.

Pouco tempo depois as despedidas e o baile realizou-se, cheio de pomba e circunstância onde toda a elite esteve presente, ouve discurso e tudo.

Já não estarão entre nós, mas serão sempre recordados com boa gente que passou por aquela cidade.

O nome das personagens, essas deixo ao vosso cuidado.


sábado, 12 de julho de 2014

COMBOIO DE CASCAIS



A tarde já findava, fazia frio, no lusco-fusco da noite caminhava apressada de olhos postos no chão perdida nos pensamentos, tinha pressa ia apanhar o comboio para Cascais, senão quando sente que uma mão lhe prende o braço.

Acorda da dormência dos pensamento e procura saber que a prendeu das suas pressas.

A sua frente, com alguns anos mais, alguém que  perdera e  jamais esquecera ao longo de muitos anos.

Trocam olhares silenciosos e caem nos braços um do outro.

Sem palavras, apenas olhando-se nos olhos recordam tempos idos que a vida separou.

O comboio havia partido, ele pega-lhe pela mão atravessa a rua e sentam-se numa mesa da tasca onde encostados ao balcão marinheiros e velhos bebericavam o copo de um vinho carrascão.

Os homens olham de soslaio  como que reivindicando a presença de uma senhora no local.

Não seria o lugar ideal para este encontro mas nem se davam conta do que se passava em redor, e num balbuciar de palavras atabalhoadas e baixinho vão tentando falar sem quererem quebrar a magia que se havia instalado.

·        - Que é feito de ti, há tantos anos que te não via, desapareceste sem nada dizer.

E há tanto para falar e o tempo urge, ambos têm compromissos que lhes não deixam tempo para delongas, olham o relógio que não pára.

Sem nada dito e muito para dizer, prometem um encontro com mais tempo.

Já cai a noite e separam-se, ela já no comboio leva a mão ao peito como que tentando segurar  seu coração que bate acelerado.

Encosta a cabeça ao vidro gelado da carruagem fecha os olhos vê-se transportada para terras de Àfrica onde havia vivido aquele grande amor e recorda tudo, mais ainda os beijos e caricias do tempo de namoro.

O chiar da travagem da carruagem anuncia a chegada ao destino.

Com um sorriso melancólico, limpa uma lágrima que teimam em cair.

Caminha apressada, aconchega-se ao casaco de fazenda que recebera na cruz vermelha quando da chegada a Portugal, mas continua com frio.

No dia seguinte,  voltaria a passar no mesmo sitio será que iria encontra-lo novamente?

Não haviam trocado contacto telefónico algum.

Sem dar por isso chega a casa, num bairro social onde já nem os noctívagos se vêem na rua, sem dar por isso entra em casa.

O cansaço é muito, estende-se no sofá por momentos atirando com os sapatos a um canto, e perdendo a noção do tempo este vai passando até que lhe dá a fome.

Vai à cozinha prepara um café e uma sandes, que devora rapidamente.

De regresso ao sofá procura uma velha caixa de fotos que ainda não abrira desde que chegara daquelas terra. 

Rostos diferentes bem mais jovens, gentes que a vida  separou, enquanto vai passando uma a uma recorda tudo que teimara esquecer até que adormece no meio de tanta emoção.

Talvez um dia, quem sabe voltará a encontra-lo.






segunda-feira, 23 de junho de 2014

A PRENDA DE CASAMENTO



Talvez a Adelaide Martins ainda se recorde, eu lembrei-me hoje de mais uma história do nosso tempo de gaiatas.

Corria o ano de 1965 não sei precisar o mês mas recordo que não estava muito calor, o que talvez fosse na estação das chuvas.

Estudávamos no colégio, o único que existia á época.

Pejado de bons professores quer freiras ou militares em serviço ou até mesmo particulares ali lecionavam os alunos que de bem comportados até os houvesse na percentagem de 30% para os restantes que faziam das suas frequentemente.

Fazíamos as coisas mais marotas que se pode imaginar, numa cumplicidade entre internas e externas valendo apenas a presença forte de uma freira que todos ainda recordam pela sua seriedade e pulso de ferro com que geria o colégio. A saudosa Irmã Maria.

Era uma elite fantástica de muito bons professores, uns mais condescendentes que outros que nos iam transmitindo os saber para futuro de todos nós.

Professor Gonzaga, Drª Manuela Paz, Drª M.do Rosário Crispim, o hoje deputado do PS Vera Jardim, etc.etc. Por ultima a Drª. Maria dos Anjos Cipriano.

Esta última enamorou-se de um militar (alferes Mata) e marcaram o casamento.

Era primeira vez que tínhamos um casamento de professores, logo aí a turma do 5º ano, e que turma juntou-se para comprar a prenda de casamento.

A “vaquinha” foi feita e foram nomeadas duas representantes que se encarregariam de fazer a compra do presente.

Imagine-se que foram. Eu e a Adelaide Martins.

De dinheiro da algibeira da bata rumamos direito a casa Christos Luscos á época a mais conceituada pela diversidade de presente que tínhamos a escolha.

Após muito escolhermos chegamos ao consenso e comprou-se um par de cálices de cristal, lindíssimos com umas aplicações em metal dignamente expostas numa caixa de veludo azul.

Pagamos e pedimos que não fosse feito o embrulho pois deveria ser mostrado a toda a turma no que havia recaído a escolha do presente que todos participaram.

E assim foi no intervalo da aula, cuidadosamente abrimos  e orgulhosamente expusemos o presente para que todos apreciassem.

Não deixamos que ninguém tocasse neles, e acabada que fora a exposição fomos fazer o embrulho, senão quando reparamos que um dos cálices estava partido na fina ligação do pé de cristal.

Ficamos atónitas, e agora que fazer, certamente teriam acondicionado mal dentro da caixa.

Comprar outros seria impossível pois o presente era caro e não tínhamos como.


Sem nada dizermos fechamos a caixa cuidadosamente como se de nada tivéssemos dados conta e fizemos um lindo embrulho cuidadosamente decorado com um cartão de felicidades comprado para o efeito e assinado por todos.

Nesse mesmo dia  decidimos que seria entregue o presente não fosse o diabo tece-las e acabasse a outra taça também quebrada.

Lampeiras caminhamos até casa da professora que morava ainda com os pais no prédio que fazia esquina para a rua do Hospital, onde por debaixo funcionava um café.

Ela morava no 1º andar, subimos as escadas e pedimos licença para fazer a entrega do presente.

Não passamos da porta, seu pai que na altura era jornalista se me não falha a memoria, chama pela senhora que talvez não contando com a visita apareceu com a cara coberta de um creme branco ao que viemos a saber mais tarde que seria uma mascara de beleza.

Agradeceu o presente e despediu-se amavelmente de nós.

Saímos como meninas super bem comportadas, até chegarmos ao mais ou menos 50 metros da casa, desatamos numa risota, pois o presente estava entregue e se estava partido certamente a culpa seria sempre do lojista e não da simpatia das suas alunas.

Na aula seguinte agradeceu a toda a turma enaltecendo a beleza das peças que foram e muito bom gosto.

Acho que nunca ninguém soube deste episódio a não ser eu e a Adelaide Martins, companheira das maiores garotices da minha vida de estudante.