Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

segunda-feira, 23 de junho de 2014

A PRENDA DE CASAMENTO



Talvez a Adelaide Martins ainda se recorde, eu lembrei-me hoje de mais uma história do nosso tempo de gaiatas.

Corria o ano de 1965 não sei precisar o mês mas recordo que não estava muito calor, o que talvez fosse na estação das chuvas.

Estudávamos no colégio, o único que existia á época.

Pejado de bons professores quer freiras ou militares em serviço ou até mesmo particulares ali lecionavam os alunos que de bem comportados até os houvesse na percentagem de 30% para os restantes que faziam das suas frequentemente.

Fazíamos as coisas mais marotas que se pode imaginar, numa cumplicidade entre internas e externas valendo apenas a presença forte de uma freira que todos ainda recordam pela sua seriedade e pulso de ferro com que geria o colégio. A saudosa Irmã Maria.

Era uma elite fantástica de muito bons professores, uns mais condescendentes que outros que nos iam transmitindo os saber para futuro de todos nós.

Professor Gonzaga, Drª Manuela Paz, Drª M.do Rosário Crispim, o hoje deputado do PS Vera Jardim, etc.etc. Por ultima a Drª. Maria dos Anjos Cipriano.

Esta última enamorou-se de um militar (alferes Mata) e marcaram o casamento.

Era primeira vez que tínhamos um casamento de professores, logo aí a turma do 5º ano, e que turma juntou-se para comprar a prenda de casamento.

A “vaquinha” foi feita e foram nomeadas duas representantes que se encarregariam de fazer a compra do presente.

Imagine-se que foram. Eu e a Adelaide Martins.

De dinheiro da algibeira da bata rumamos direito a casa Christos Luscos á época a mais conceituada pela diversidade de presente que tínhamos a escolha.

Após muito escolhermos chegamos ao consenso e comprou-se um par de cálices de cristal, lindíssimos com umas aplicações em metal dignamente expostas numa caixa de veludo azul.

Pagamos e pedimos que não fosse feito o embrulho pois deveria ser mostrado a toda a turma no que havia recaído a escolha do presente que todos participaram.

E assim foi no intervalo da aula, cuidadosamente abrimos  e orgulhosamente expusemos o presente para que todos apreciassem.

Não deixamos que ninguém tocasse neles, e acabada que fora a exposição fomos fazer o embrulho, senão quando reparamos que um dos cálices estava partido na fina ligação do pé de cristal.

Ficamos atónitas, e agora que fazer, certamente teriam acondicionado mal dentro da caixa.

Comprar outros seria impossível pois o presente era caro e não tínhamos como.


Sem nada dizermos fechamos a caixa cuidadosamente como se de nada tivéssemos dados conta e fizemos um lindo embrulho cuidadosamente decorado com um cartão de felicidades comprado para o efeito e assinado por todos.

Nesse mesmo dia  decidimos que seria entregue o presente não fosse o diabo tece-las e acabasse a outra taça também quebrada.

Lampeiras caminhamos até casa da professora que morava ainda com os pais no prédio que fazia esquina para a rua do Hospital, onde por debaixo funcionava um café.

Ela morava no 1º andar, subimos as escadas e pedimos licença para fazer a entrega do presente.

Não passamos da porta, seu pai que na altura era jornalista se me não falha a memoria, chama pela senhora que talvez não contando com a visita apareceu com a cara coberta de um creme branco ao que viemos a saber mais tarde que seria uma mascara de beleza.

Agradeceu o presente e despediu-se amavelmente de nós.

Saímos como meninas super bem comportadas, até chegarmos ao mais ou menos 50 metros da casa, desatamos numa risota, pois o presente estava entregue e se estava partido certamente a culpa seria sempre do lojista e não da simpatia das suas alunas.

Na aula seguinte agradeceu a toda a turma enaltecendo a beleza das peças que foram e muito bom gosto.

Acho que nunca ninguém soube deste episódio a não ser eu e a Adelaide Martins, companheira das maiores garotices da minha vida de estudante.



domingo, 22 de junho de 2014

MAÇANICAS


Eram muitas pelos matos e nos quintais da cidade.

Lá estavam cobertas de pequenas folhas de onde iriam emergirir maçãs muito pequenas como berlindes a que chamávamos maçanicas.

Havias amarelado com um raiado avermelhado, grandes e carnudas ou miudinhas, mas doces e gostosas.



E subíamos á árvore para as apanharmos, enchíamos os bolsos delas, e repartíamos com as outras crianças.

Tinham um cheiro característico, duravam pouco na árvore, até passarem ao ponto máximo de maturação e caíam.



Nessa altura colocava-se a secar ao sol daquela  África que as deixava mais doces e se guardavam para o resto do ano.

Não falando do doce, que guardavam em vidros de boca larga com tampas coloridas, numa cor avermelhada escuro que faziam as delicias dos lanches.



Passado tanto tempo, salivo de saudades desta fruta.