Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Obrigada D.ISABEL CUNHA.




O frio dá para nos recolhermos mais dentro de casa e mexer em coisas esquecidas que dorme em sossego há quase 50 anos.

Reformada há 2 anos e com outras obrigações que tenho, no calor não dá para despejar uma mala onde guardo muito do que não uso.

Mais que não fosse para arejar o que ali foi guardado na mala “demodé” diz hoje a juventude, em canfora com gueixas em madrepérola a alinda-la, comprada no Valy Ossman há muitos anos para ali colocar o enxoval que qualquer noiva levaria no dia do seu casamento.

Como hoje ninguém quer casar muito menos habituadas aprender como se borda um lençol, muito menos como se prega um botão ou se faz uma bainha, riem-se do nosso passado onde pacientemente a Irmã Doroteia nos ensinava.

Talvez fosse a vantagem de ter sido sempre educada em colégios.

Em casa ao lado da minha mãe nas tardes quentes de Africa havia sempre uma peça de roupa que precisava um pontinho e era ao lado dela que muitas vezes fazíamos e desfazíamos até estar impecavelmente feito.

Ora voltando ao inicio do que escrevi, sentei-me no cadeirão foi tirando de dentro da mala peça por peça, sendo que muitas vezes parei para relembrar as historias que guardavam.

Como muitas de vós se lembra essas malas tinham um tabuleiro onde se colocavam as minúcias que poderiam perder-se entre as peças por debaixo guardadas.

Pois logo aí encontro recordações mas não mexi nelas, fui primeiro a mala em si.

Lençóis de bainha aberta, bordados a linha de seda, feito e desfeito porque ao meu lado a Irmã Doroteia achava não estar perfeito.

Panos da louça e do pó, naperons de tecido bordado, rendas, colchas de setim etc. Lembro-me perfeitamente dos instantes que de mãos lavadas antes de iniciar qualquer trabalho e dedal no dedo. Dizia ela que “costureira sem dedal cose pouco e em mal.” Um dito popular.

Ora quando começo a mexer no tal tabuleiro, amorosamente estavam guardados dois mini naprons que me fizeram vir as lágrimas
os olhos.

Peguei neles fechei os olhos e recordando de onde haviam vindo eles.

Quando do meu casamento a determinadas pessoas fui pessoalmente entregar o convite a D.Isabel Cunha. Muitos se lembrarão de quem estou a falar.

Recebeu-me maravilhosamente conversamos imenso tempo e no meio destas conversas frente a uma chávena de chá que simpaticamente me havia oferecido, fala-se no enxoval ao que me pergunta se tinha algo de renda de Veneza.

Não, não tinha pois não era muito conhecida por aquelas terras.

Com seu sorriso nos lábios levanta-se e diz-me:
- Não tens mais, vais ter.

Digerir-se a uma gaveta e traz-me dois naperons de renda de Veneza dizendo que me haveria de dar muita sorte.

Fiquei completamente sem palavras, apenas a abracei em agradecimento às suas palavras e oferta que tirou dela para me dar e complementar o meu enxoval.

Passaram anos e nunca mais a vi mas deixou a sua marca em mim a maravilhosa vizinha que me sensibilizou e deixou a sua marca para toda a vida.

Imaginando que já tenha partido rezo-lhe uma oração de agradecimento e ouvir-me-a certamente com o mesmo sorriso que nunca esquecerei.

Obrigada D.ISABEL CUNHA.