Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

domingo, 10 de janeiro de 2016

A chuva!

Chove e faz frio, enrolo-me mais entre os lençóis de flanela quentinhos e olho a janela do quarto.

O vidro molhado deixa ver a chuva forte que caí, não gosto desta chuva húmida e fria .

Recordo outras épocas de chuva de que tanto gostava.

"Noutras terras, cheirava a chuva, aquele cheiro a pó de terra molhado que entra pelas narinas e nos acalma.

Começava de mansinho e caía quente e nos abraçava beijando-nos com seus pingos mais grossos, e estendíamos os braços e a recebíamos prazerosamente, entre sorrisos e danças, chapinhando nas poças, até que alguém gritasse:-

Saí da chuva!

Eram chuvas quentes, bem-vinda, os campos estavam secos os matos já quase sem pasto para a bicheza que neles habitam, o povo olhava para os campos na esperança de ver um rebento verde  nos campos que  semeara.

E as crianças que correm à chuva e dançam à rodam e brincam enquanto se molham nos pingos mornos que caem.

As mulheres correm a recolher as coisas que espalhadas em redor das palhotas não se poderiam molhar, e recolhem-se com as crianças.

À porta os rostos alegres espreitam a chuva cair, uma tentação para as brincadeiras.

Quase sempre demorava pouco tempo mas por vezes caía mais e mais forte e incomoda mas precisa e tocam os tambores de alegria.

A estrada que por ali passa torna-se um rio e vai deixando a terra vermelha tão molhada que tudo se cobre de lama por onde a agua passa.

E a canalha que ao primeiro interregno correm e escorregam no matope brincando entre gritos de alegria.

Não era triste a época das chuvas, era alegre para os todos.

Dias depois era ver o chão cobrir-se de verde os capins rompiam os campos rebentavam dos milhos semeados, os animais em manadas bebiam nas poças deixadas, era sinal que não haveria fome.

E lavava-se o corpo e a alma, naquela chuva morna e boa, que também enchia o rio, para logo de seguida abrir o sol."

Há dias que aqui chove sem parar uma chuva fria que apenas enche os rios que nos dá a água no resto do ano, uma chuva que nuns anos vem fora de tempo e tudo estraga, noutros anos não cai e tudo morre da seca.

Uma chuva que irrita nos molha os casacos pesados que usamos para o frio, um vento que nos empurra e parte os guarda chuvas, onde o sol se não vê dias seguidos.

Não gosto destas chuva, nem desta terra queria voltar aos meus embondeiros onde o tempo me ajuda a sorrir, me liberta do peso das roupas e posso caminhar descalça pelos caminhos de matope de terra vermelha.