Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

sábado, 25 de novembro de 2017

O 7º ANIVERSARIO

Tão pequenas que eramos, e como recordo todos os que estão nesta foto.

Foi no meu aniversário, 7 anitos, vivíamos no Moatize, e a festinha não podia deixar de ser feita.

A mesa com o bolo de aniversario e mais iguarias próprias para a criançada estava posta na larga varanda que naquele tempo todas as casas tinham.

Mas era no imenso quintal com um enorme canteiro em frente à casa onde existia uma parreira, que adorávamos brincar.

Era as corridas, à apanha, à macaca depois chamada neca, ao ovo podre, uma roda onde em volta andava uma de nós de lençinho na mão, onde deixasse cair teria que apanha-lo logo e continuar o joga, senão era o ovo podre. Tantos jogos ao ar livre nos prendia, nem os brinquedos faziam falta.

Naquele tempo já o meu pai tinha a maquina de filmar que usava em todas as ocasiões importantes a registar.

Este era um deles, o aniversario da filha mais velha, o seu “bijou” e filmou toda a festa.

Lembro-me o pai de cócoras para apanhar todos os miúdos pequenitos e maquina em frente á cara, calções de caqui e balalaica, filmando livremente para mais tarde recordar.

Esse e outros filmes ando a tentar coloca-los na versão mais moderna para poder ver pois foi filmado em Super 8 que hoje já ninguém ou quase ninguém tem maquina de projectar para se ver os mesmos.

A brincadeira foi até tarde, e quando chegou a hora de apagar as velas já a noite descera, o que não invalidou que se fizesse a dita filmagem, do momento solene do apagar as velas, tendo para isso improvisado a ligação de um farol a uma bateria iluminando tudo, lá ficou registado o momento.

Como anseio um dia poder mostrar estas e outras imagens.

Esta foto , tirada penso que há chegada dos meus amiguinhos à festa, pois ainda estávamos com a roupa bem engomadinha e limpinha, alguém tirou esta foto.

Recordo nela, o Marcel, filho do director da Carbonifera, a Maria Amaral, as minhas grandes amigas as irmãs Cravo, a Geninha Castro eu e a minha irmã.

Registado que foi este momento de há tantos anos quis reparti-lo com meus amigos desse tempo e ainda de hoje.

Tenho esperança de um dia ainda poder abraçar a Betinha Cravo e irmã que tanto brincamos em crianças e há dias as encontrei neste mundo de internet.

Foi lindo este meu aniversario, dos muitos que passaram este é o meu preferido e inesquecível.


Obrigada pai, onde estejas por sempre teres registado os melhores momentos das nossas vidas.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

OS PORTUGUESES E AFRICA

Jacarandas

Anda uma luta forte e feia dentro da minha alma.

Há uns anos uns milhões de Portugueses, emigraram para um país calmo, doce, farto maravilhoso , porque aqui em Portugal era o que se sabe, miséria, trabalho por um naco de pão seco , filhos descalços e roupa rota, casas de pedra no inverno geladas, escolaridade pouca ou nenhuma, uma luta pela sobrevivência.

Fizeram a sua vida com a mesma força com que a faziam em Portugal, mas viam nas mãos num mês o que ganhavam na terrinha num ano.

Mas não foi tudo um mar de rosas, sabe Deus ao que foram, o que tiveram que fazer para sobreviver em terras desconhecidas, com doenças que os deitavam por terra muitos desterrados no meio do mato onde só viam macacos e os pássaros cantar,

Foram anos de luta, enterraram toda uma vida naquelas terras, nasceram e criaram os filhos, e já velhos esquecidos da miséria que deixaram para vivirem felizes na terra que passou a ser a sua Pátria.

Anos depois viram gente a morrer numa guerra que poderia ser diferente, uma fuga obrigatória, novamente aos primórdios dos anos de suas vidas com a diferença que já muito do que deixaram ter desaparecido.

Chamaram-nos de RETORNADOS.

Muitos não eram nem nunca foram pois nasceram e sempre viveram lá sem cá nunca por os pés.

Em Africa, deixaram casas recheadas de tudo, quintais com árvores de fruto, empregos, investimentos etc que faziam daquele país a sua terra.

Fugiram” para onde pensavam refazer a sua vida, países vizinhos, pensando ser um outro futuro sem voltar as casas de pedra escura e fria e ao esforço de tirar da terra apenas o que dava para sobreviver.

Sim porque em Portugal também não havia nem há empregos e ganha-se uma miséria, sendo a saída como emigrante, e mais uma aventura.

Correram todos os países de Africa onde viveram muitos anos, mas mais tarde tiveram que sair ou digamos fugir dum governo facínora com um povo que apenas queria o que era dos brancos para depois nada fazerem com o que roubavam.

Mataram-se “farmeiro” a sangue frio, roubavam-nos do que novamente tiveram que construir ao ponto de ficarem sem nada e andarem nas ruas a pedir.

Invadem-se casas para roubarem, violarem e matar os donos.

Uma tristeza sem fim, até quando só Deus sabe.

Pior ainda é excepção à regra, aqueles que com o retorno no 25 de Abril por obra e graça de uma qualquer sorte, terem feito vida melhor que por aquelas terras e hoje se preciso for dar a mão a um desempregado conhecido das aventuras anteriores lhes fecharem as portas e até mesmo deixarem de os cumprimentar.

Que Portugueses somos nós, que pedimos para tudo e para todos, quando a nós mesmos numa fila eterna o IARN nos meteram 5.000$00 na mão e mandaram-nos à vida?

Hoje os “refugiados” que chegam á nossa terra, espera-os um apartamento mobilado e um determinado valor mensal para sobreviverem, até organizar a vida ou seja aprender a lingua e arranjar emprego, tem todas as mordomias e ao fim de uns dias, dão de “frosques” como é habito dizer.

Pois meus amigos ainda há muitos portugueses naqueles países de Africa que terão que vir com uma mão á frente outra atrás, porque repetiram o erro de tentar fazer vida por lá, e aí quero ver se, vindos de uma guerra, poderão chamar refugiados e ter as mesmas mordomias que tiveram os outros .

E olhem que há muitos e muitos no Zimbabué e na África do Sul que terão mesmo que sair ou encontrarão a morte numa paragem dum semáforo, num assalto ou até mesmo na rua.






domingo, 19 de novembro de 2017

TETE DA SAUDADE





Sinto uma tristeza tão grande, como se me tivessem roubado a alma.

Uma tristeza igual aquela que os colonos que partiam para Moçambique e deixavam os pais ainda novos de cabelos pretos e cheios de força e quando regressaram encontraram um velho cabisbaixo de cabelos brancos como se ninguém tivesse tratado dele durante a sua ausência.

Aconteceu-me o mesmo agora quando vi as fotos da minha cidade tiradas recentemente por amigas que a foram visitar.

Estive 30 anos ausente daquela terra mas na minha memoria ficou sempre a beleza das casas na avenida, as gentes que me abraçaram.

O colégio onde aprendi as primeiras letras até mesmo a igreja em que me casei.



Comigo foi a minha filha, para lhe mostrar o que era meu por nascimento aquela terra, assim encontrei quase tudo na mesma, algumas coisas mais velhotas mas havia passado 30 anos, as gentes as mesmas, as ruas os edifícios públicos e mesmo até as minhas casas pareciam novinhas, bem conservadas.

Fui mostrar os escritórios e a oficina do meu pai a minha filha, os presentes dono receberam-me de braços abertos puseram-me a vontade para matar as minhas saudades.


Dei a volta a cidade toda que por incrível que pareça já tinha um semáforo junto ao Gouveia da Rocha, na altura uma loja chinesa.

Passeei a pé pelas ruas indicando a minha filha os sítios por onde passávamos, entramos nas lojas indianas procurando capulanas, viramos na rua que vai dar a Pensão Alves, até a casa onde estavamos alojadas.

Mostrei-lhe onde era a mesquita e de quando em vez parava em frente a uma loja e contava-lhe por exemplo onde havia comprado a minha mala de canfora, o sari cor de rosa com brilhantes espalhados que depois fiz um vestido e passagem de ano, a loja do Bega, Do Valy Ossman grande amigo de meu pai, e até mesmo o casamento de uma filha para a qual fui convidada etc etc


Os escritórios da Mina eram na antiga Foto Sousa onde se tiravam as fotos mais “ins” na cidade, e para meu espanto num compartimento ainda estava o cenário, o holofote e a “chaise longue” que usavam para ficar como fundo na foto.

Revivi toda a minha vida. Voltei feliz porque parecia te-la deixado no dia anterior e haviam passado 30 anos.

Esta semana duas amigas foram a Tete, as fotos que vi estava tudo abandonado, as casas que resistiram pintadas de corres garridas, os passeios cheio de buracos, as estradas alcatroadas desapareceram.

Que aconteceu na minha cidade mataram-na, abandonaram-na para olharem mais pela cidade nova que nasceu do outro lado da ponte?

Ninguém tratou dela, deixam-se cair os prédios mais emblemáticos, numa cidade que já foi importante.

Pois estou triste, mas continuarei a escrever memorias dos tempos felizes naquela terra.

Entrada da cidade, ao fundo a Serra da Caroeira.

Avenida Principal

Rádio Clube

avenida da Univendas

Um amigo antigo

Ainda o carro nas bombas de gasolina

Casa do Betinho e Sr.Carreira



Farmacia de Tete

Univendas


Malambeira.