Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

quinta-feira, 25 de abril de 2013

ONDE ESTAVA NO 25 DE ABRIL

 photo 25-de-abril-by-cantosdeportugal1_zpse5b84f6c.jpg
imagem da internet

Onde estava no 25 de Abril, perguntam ao povo bastas vezes os média.
Normalmente questionam gente jovem que encolhem os ombros pois ainda não seriam nascidos ou talvez fossem pequenitos e tudo lhes passou ao lado.
Já mulher e mãe de filhos estava feliz em Moçambique, cidade de Tete e recordo que pela manhã havia imensa gente com cara de caso de radio colado ao ouvido e, cochichando pelos cafés, baixinho não fosse algum bufo da PIDE ouvir.
Só pela noitinha á mesa do jantar se comentava que “havia milando” na Metrópole, as tropas tinham ocupado o terreiro do Paço.
Ora eu que nunca havia ido á Metrópole nem sabia como era  o terreiro do Paço desvalorizei o assunto até porque as notícias chegavam sempre curtas e nada esclarecedoras pela RSA, porque a radio portuguesa só transmitia o que deixavam.
E passaram dias, notava-se uma movimentação da tropa cansada duma guerra que nada lhes dizia, lutando de dia e sonhando á noite com o seu regresso,  andava eufórica, chegara esse dia o tal de regressarem a Portugal às suas famílias a casa porque Africa era para quase todos um inferno de onde não sabiam se voltariam vivos.
Ora famílias como nós que sempre por lá vivemos, que se lixasse a política tanto se me dava que fosse Portugal a mandar como Moçambique desde que vivêssemos em paz na nossa terra.
Mas assim não foi, esse tal do golpe de estado português, o dos cravos vermelhos pôs a tropa toda a sair de Moçambique e a entregar de qualquer maneira a segurança das populações sem garantia alguma dos direitos de cada um.
E vieram os acordos de Lusaca e todos os outros acordos entre quem regressara dum exilio para se sentar na cadeira do novo poder, havia que entregar as colonias rapidamente, a troco de quê não sei.(ou seja, sabemos todos)
Havia muita raiva e dor pelas lutas travadas com as tropas moçambicanas, e essa raiva não passa com a entrega de armas e agora, tomem lá, e fica tudo bem que nós vamos “pirar-nos” daqui para fora.
Ora depois de tanta chacina e luta numa guerra que acaba entregando tudo de mão beijada mais não se esperava que a vingança nos de pele branca que heroicamente ficaram.
O medo acaba por se instalar entre as populações, estavam pior que antes com a PIDE que não deixava ninguém abrir boca, era com o regime novo de Moçambique sedento de poder.
Quem se não lembra do recrutamento para as machambas populares, as latrinas, as invasões casa dentro confiscando o que bem lhes apetecia.
Numa ilusão total começam a pensar na retirada para Portugal, na esperança de melhores dias de calmaria e entendimento para regressarem, mas acabam por ter mesmo que regressar a uma pátria desconhecida de “mal e Cuia” ou seja de caixotes de madeira cheios dos poucos haveres que podiam trazer e que acabariam em Portugal despejados num imenso espaço ao Deus dirá aguardando destino.
A tal da ponte aérea, empurrando-se para embarcar, depois de longo tempo de espera, sem nada nas mãos a não ser os filhos pequeno e a roupa do corpo.
O que se encontrou em Portugal para essa gente que deixara tudo para trás, nada, foram deixados as suas sortes com uns míseros patacos que lhes entregavam é chegada, sem eira nem beira num desespero total.
39 Anos passados, uns mais que os outros foram-se acomodando e fizeram vida, muitos dos mais velhos morreram de saudade e raiva contida por deixarem toda uma vida para trás e caírem neste Portugal que nunca reconheceu seus filhos.
Do 25 de Abril. realmente há liberdade, não há guerra com soldados armados, mas há guerra contra a fome o desemprego a miséria, gente corrupta mafiosa etc.
Que liberdade, a de andar livre nas ruas desempregado a procura de comida nos caixotes do lixo, sem casa, dormindo ao relento procurando muitas vezes a morte como solução, sendo olhado de lado por outros países como os coitadinhos que tem de mendigar para pagar as dividas enquanto alguns culpados passeiam cheios de dinheiro roubado impunes a tudo.
Novamente despojado de tudo, pelas restrições e  impostos aplicados impiedosamente para cobrir erros de governação.
E la voltam os portugueses de “mala e Cuia” partirem para fora do país, muitos querendo retornar a Africa á procura do sonho de vida que um dia perderam.
Numa frase desesperada de um grande amigo meu imigrado dizia:
O “Amor” que tenho por esses comunistoides,… é bem profundo mas há outros “valores mais altos que se levantam”, e o futuro e a estabilidade emocional das minhas filhas é por agora a minha única meta. Não quero que elas sejam as filhas de um presumível assassino
Isto foi o que restou desse 25 Abril!