Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

UM GRANDE HOMEM

Há poucos dias foi o dia de todos os Santos depois dos fieis defuntos, aquele dia que há quem visite seus familiares e amigos que partiram enfeitando a ultima morada dos mesmos, e aqueles que lá vão apenas para se juntarem e conversarem alto e bom som como se estivessem num clube.

É a educação 25 de Abril, que deixaram de respeitar um lugar santo onde se interioriza toda uma vida passada e se reza para que estejam junto ao Senhor nosso Deus.

Mas não é sobre isto que queria falar apesar de estar interligado.

Neste dia depois de colocar as flores novas e viçosas, e arranjar a campa do meu saudoso pai, alem de lhe rezar as orações usuais, sentei-me a um canto da campa a conversar com ele, como se de uma visita se tornasse.

Sei que falo para uma pedra mas no meu intimo olho a sua foto e tenho a certeza que me ouve.

É nestes momentos que mais estou ligada a ele, como se não tivesse partido, recordando a vida passada e presente.

Afinal eu era a menina dele que me acarinhava quando fugia do chinelo de minha mãe, que passou a viver comigo anos a fio, até que já não podendo andar lhe fazia a barba e cortava o cabelo.

Ficava lindo, mesmo que no seu rosto apenas se visse um ténue sorriso que sempre me levou a pensar que eram saudades do passado. Era uma tristeza que o consumia, e isso via-se sempre que olhava para uma foto antiga.

Nasceu no Rio de Janeiro, cedo ficou sem mãe, um dia prometo contar esta historia de vida.

Talvez por isso nos ensinou o que era a “família” .

De minha parte ai de quem toque nela, como diria o brasileiro, viro bicho.

Mas nessa conversa deste dia recordei tempos idos , e noutras coisas, que trazia atravessada na garganta e outras que muita alegria me deram .

Há dias alguém escreveu que meu pai havia sido mecânico da câmara.

Vejam lá o que se diz quando se não sabe.

Meu pai foi o pai que nunca nos deixou faltar nada, nem colégios para estudarmos nem nada deste mundo, preciso fazer justiça, até porque ser mecânico não é desprestigiante, pois foi a profissão que lhe ensinaram em miúdo para se safar na vida.

Mas os anos passaram, e muitos.

E pareceu-me ouvir um sibilar dizendo que não ligasse a essas coisas.

Mas não, seguindo os seus ensinamentos, informo que sempre o conheci, como um industrial com uma oficina mesmo na rua principal onde empregavas 5 pessoas que efetivamente arranjavam os carros.

Mas não me esqueci também que tinhas o seu escritório onde trabalhavam 3 pessoas entre elas o avô da Luísa Menezes, um excelente contabilista.

Foi representante das companhias de transportes entre o Malawi e a Rhodesia, bem como os autocarros que transportavam pessoas etc.

Cahora Bassa foi nos escritórios que se iniciaram as primeiras obras.

Na Câmara foi sim, vereador que olhava pelo pessoal que estava destribuido pela cidade, como por exemplo o fiscal dos terrenos, que obrigavam a ter os quintais limpos etc, e que todos respeitavam e comprovo pelas fotografias abaixo.

Já partiste meu pai mas acredito que estás sempre junto a mim, e jamais deixo que falem da tua vida sem a conhecer.

Foi uma hora de conversa sobre coisas boas e menos boas, e despedi-me com muita saudade.

Até um dia que nos juntemos algures por ai nessa viagem que todos farão.

Acendi as velas, mais uma vez compus as flores e despedi-me com um padre nosso e com um beijo na sua foto como sempre fiz.

Descansa em paz, cá estarei para repor a VERDADE das nossas vidas, porque foste UM GRANDE HOMEM..