Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

AERO CLUB -Reveilon


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Chegou  31 de Dezembro, almejava-se o baile da passagem de ano, a ocasião era única, um desfilar de gente linda, bem penteada, vestida e perfumada.

As mesas antecipadamente reservadas dispunham-se em redor da pista, para lá se dirigiam as gentes com os tabuleiros de guloseimas para festejar a meia-noite.

Os bailes, no aero-clube, eram inesquecíveis, na mesa que se tornava enorme pelo números de pessoas que se juntavam,  todos se divertiam, trocavam-se os pares nas danças num conviver saudável.

Foi ao som do tango “La Cumparsita”, que Judite sentiu que José a apertava mais e um turbilhão de sensações percorre-a, fica petrificada, quase sem respirar numa luta de sentimentos que lhe agrada.

Deixa-se ir, o cheiro do aftershave da face bem escanhoada, atordoa-a e sente que ele encosta o rosto ao seu. 

Na mão ele coloca-lhe  um lenço alvo protegendo da transpiração, nas costas imparável a sua mão.

Termina a dança e o silêncio é total.

Disfarça, na mesa onde todos conversam, e que não ouve porque uns olhos cor de mel não despegam dela.

Inicia outra música, de novo pede-lhe para dançar, mas sente as pernas tremer e recusa, diz-se cansada, procuram outro par e  na mesa aos poucos ficam apenas os dois.

Muda de lugar para seu lado, ela baixa os olhos e em silêncio por debaixo da mesa, sente o calor da mão, no joelho, apenas isso,  ele levanta-se e vai ao bar.

Regressa com um copo de whisky e uma Coca-Cola que lhe coloca a frente, indo sentar-se novamente afastado dela.

 Ninguém dá por nada, e a conversa na mesa flui normalmente.

O conjunto Alvorada continua com seu reportório de música para dançar, “Quizás, Quizás, Quizás”.

José  pega-lhe na mão e pede-lhe para ir dançar, não tem como recusar e novamente se juntam os corpos, num respirar acelerado, a letra da musica substitui-lhe as palavras: 

Estás perdiendo el tiempo
Pensando, pensando
Por lo que más tú quieras
¿Hasta cuándo? ¿Hasta cuándo?

Afasta-se e olha-a nos olhos o que a deixa ruborizada, ela  instintivamente encosta-se a ele até que a dança termine.

E dançou uma e outra e esquece as horas, até que batem as 12 badaladas e entram num novo ano.

Todos se levantam, abraçam e beijam indiscriminadamente num cumprimento de Boas Entradas no novo ano.

Brinda-se com finas taças de cristal cheias do liquido espumoso bem gelado, apenas se ouvindo o tilintar do vidro e os cumprimentos.

Como costume, tocam a valsa da Meia-noite, onde rodopiam alegremente festejando a chegada dum novo ano.

De seguida o tango dos barbudos sabe-se lá porquê.

Ninguém dá por isso, e sorrateiramente deixam a pista de baile, saem para o terraço com a desculpa de estar mais fresco,

Perdem-se nos abraços silenciosos onde as palavras estorvam, e ao som abafado da musica continuam  dançando sós,  juntinhos até ao nascer do novo dia.

No horizonte, já vai raiando, um enorme clarão , esse sol maravilhoso Africano, que jamais esquecerão! 

Feliz Ano 1967



sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Os soldados

imagem da internet

Moçambique continuava com a guerra, os militares iam sendo substituídos conforme as comissões de serviço terminavam.

José chegara da Metrópole, franzino dentro de uma farda de camuflado e com olheiras profundas denotando um imenso cansaço, motivado pela longa viagem até aos confins duma Africa nunca imaginada.

Eram muitos, um batalhão de homens dentro de berliets que iam chegando no vagaroso batelão que os fazia atravessar o Rio Zambeze.

Mais uns solavancos na rampa junto á mãe d’água e eis que por fim chega á cidade.

Os olhos deparam-se logo com um edifício de varanda virada para o emboque, cheio de meninas que atrevidamente lhes acenava.

Foi de espanto a surpresa, continuam até ao fim da avenida onde se situava o quartel, que seria o términus da viagem naquele dia, pelo menos para alguns pois outros seguiriam dias depois para outros destinos onde existiam acampamentos militares.

Anoitecia cedo naquelas terras, até que todos se acomodassem nas casernas, e fizessem o reconhecimento do quartel, o dia terminaria inevitavelmente com o corpo pedindo descanso.
Domingo, era o dia seguinte á chegada, uma alvorada bem cedo tira-os da caserna, uma formatura para revista às tropas, um mata-bicho na messe e tarde livre.

Desciam a avenida aos magotes, já de farda esverdeada e boina militar, num descobrir a cidade, os tascos e os cafés.

O calor já aperta, e a cidade quase morta, atiram-nos para um qualquer lugar a emborcar “2M” e “Laurentinas”, acompanhadas dos pratinhos de petiscos característicos da terra.

Perguntam ao empregado, indicações sobre a cidade o que não levam a melhor pois o entendimento da linguagem não funciona, e acabam por desistir e resolverem conhecer aos poucos a cidade.

Foram passando os dias e os meses, arranjando conhecimento e falando das saudades de quem haviam deixado em Portugal.

José deixara noiva, com imensas promessas feitas, um amor que se dizia eterno e reforçado nos aerogramas que trocava.

Nos primeiros tempos era o desespero da chegada dessas missivas, que foram enchendo uma caixa de lata que havia arranjado para as guardar sigilosamente, longe de quem as pudesse apanhar e ler o que daí viria o gozo entre eles na caserna.

Com receio disso, e com a caixa já bem cheia, entrega-a à guarda de uma jovem com quem havia feito amizade.

Judite, morena de cabelos longos, olhos castanhos, elegante nos seus 18 anos promete guarda-la, e levando-a para casa colocando num canto do guarda-vestidos escondida de possíveis curiosidade lá de casa.

Jamais a abriu, no entanto foi estranhando que ele jamais lhe pedira para ali colocar mais.

Mas isso que importava, a amizade foi crescendo as tardes ao fresco em conversas banais, as idas á matiné, os picnics ao fim de semana á Caroeira ou Boroma, as patuscadas no Mufa sempre acompanhado de malta amiga, eram divertidas, a música os risos enchiam os tempos que estavam todos juntos.

Os bailes, esses, eram inesquecíveis, sentavam-se numa mesa que se tornava enorme pelo números de pessoas que se juntavam, divertiam-se todos trocavam-se os pares nas danças num conviver saudável.

E foi passando o tempo, já amainara as saudades da Metrópole, estava-se bem na cidade, a população era simpática, sentia-se quase em família e a guerra custava menos a passar.

Á tardinha, la desciam ao centro e por ali ficavam num convívio que aos poucos foi despertando outros interesses.

Afinal, as moças apesar de recatadas, eram diferentes mais desinibidas, conversavam e riam numa alegria incomparável.

Já pensava em ficar por ali em acabando a comissão.

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terça-feira, 24 de dezembro de 2013

E FOI NATAL!




D.Emilia vai contando os dias que faltam para o Natal.

Nunca fora visitada pela cegonha, era apenas ela e o marido.

Naquele fim do mundo onde nasce e morre o dia sem ver família ou amigos deixa-a num frenesim na esperança de data que irá receber alguém.

Os Silvas, que moram na cantina mais perto da sua, havia combinado passar esse dia Natal com eles.

Entra e sai da loja que se situa quase colada a habitação deitando os olhos á estrada ou açambarcando toda a zona envolvente como que esperando algo de novo.

Mas não, a quietude a que já se habituara, era apenas quebrado pelos ruídos próprios do mato. Um velho cruzava a estrada de bicicleta, uma negra de capulana envolvendo nas costa uma criança de tenra idade dormitando, caminhava vagarosamente equilibrando á cabeça uma trouxa maior que o normal.

 Nada de novo, e recolhe novamente ao interior do estabelecimento, sem antes dar um palavra ao alfaiate que cadenciadamente dava ao pedal na velha maquina de costura.

- Depressa que há mais 3 capulanas para embainhares.

Ao que ele responde: - sim senhora vou despachar.

Por detrás do velho balcão de madeira que separa da grande parte das prateleiras onde se encontram as peças de chita arrumadinhas, misturadas com barras de sabão, laminas, pacotes de sal e outras coisas apreciadas pelos nativos, uma cadeira a espera.

Ali se senta até que chegue o marido que fora à machamba que sustenta os dois.

O tempo passa vagarosamente, vai recordando os Natais passados em família, numa terra de muita gente, onde a azáfama da época era bem diferente.

- Amanha para o almoço com os Silvas vou fazer um arroz de cabidela, um arroz doce e umas doçarias como as da minha terra.

Num ápice levanta-se da cadeira e chama pelo “mwana” que entrara como ajudante do cozinheiro e que também anda pelo quintal a tratar da “bicheza”.

- Do cimo da escadaria traseira que dava para o quintal grita:

Apanha esse galo pedrês e leva ao Xambo (cozinheiro da casa há muitos anos) e apanha também ovos que houver.

Ao cozinheiro vai-lhe dando as directrizes do que tem que preparar para o almejado almoço de Natal.

Procura na gaveta da papelada umas folhas soltas com algumas receitas que trouxera quando veio para África.

Amarelecida pelo tempo e uso que já tinham, a receita almejada das filhoses, foi encontrada.
Deitou mãos a obra e sem dar conta do tempo que passara, já haviam “fintado” e tendidas para no azeite corarem e caírem do alguidar de açúcar com canela.

De faces vermelhas do calor e de olhos brilhantes, leva uma a boca e fecha os olhos saboreando o gosto da saudade do Natal da aldeia.

E basta isto, não terá árvore de Natal nem presente naquele fim de mundo, mas pela manhã sente o abraço do marido e um beijo mais longo.
Ouve a missa na rádio, prepara-se para colocar a melhor toalha na mesa do almoço, e a louça guardada para estas ocasiões.
Coloca o vestido que usara na festa do último Natal e passa um batom o que já há muito não fazia.
O almoço decorre calmamente, conversam numa avidez de novidades, falam da politica, da vida, sentados ao fresco na varanda de casa enquanto o néctar dos copos os deixa felizes.

Os “mwanitas” passam a correr, brincando de um lado para o outro, e D.Emilia vai-lhes dando um “sweet” (de açucar branco com risca vermelhas), que agradecem com gritinhos e passando palavra num instante iam duplicando.

A noite foi caindo, a solidão volta, mas foi um dia diferente até que chegue  o amanha e torne a ser o que há anos era.



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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Natal

imagem da internet



“Faço parte do pequeno grupo dos que não gostam do Natal.
Não gosto deste cheiro a partilha forçada, a prédios que se iluminam quando estão tantas vezes vazios, as varandas com figuras que piscam, mas que não sabem o nome do vizinho do lado.
Não gosto da opulência nas mesas de famílias que estão juntas apenas uma vez por ano.
Acho pouca piada às horas infindáveis na cozinha para preparar o bacalhau ou o polvo
ou o peru que tem data marcada para rechear. Adoro fazer as filhós como a minha avó
mas fico triste por passar o tão famoso dia e acabar por não ter tido tempo para as
comer."

Estas foram palavras repescadas por ai de alguém que tem todo o direito de opinar sobre o Natal.

Pego nelas porque acho que tem toda a razão, o Natal não é o que descreve mas por incrível que pareça passou a ser!

Nesta noite que deveria ser uma noite de total disponibilidade para privar com toda a família, abrir os corações e deixar fluir o sentimento.

Ter uma mesa simples com as coisinhas que mais gostam para matar saudades da cozinha da mãe, uma refeição quente e uma sobremesa.

Á meia- noite, um bolinho de natal, umas filhoses.

Não é mesa de pobre é mesa de paz, não vai sobrar comida até ao Ano Novo, que depois irá para o lixo pois que nesse dia volta tudo ao mesmo na confecção das refeições.

No pinheiro de Natal apenas os brinquedos para as crianças.

É tão bonito vê-los abrir os presentes, aqueles olhitos regalados brilhando de alegria, sentar junto deles no chão e ajuda-los perceber o quanto amor foi posto nesses embrulhos.

Recordo que um dos muitos Natais que tive, uma boneca apenas estava junto a árvore de Natal, era loura de cabelos cacheados, vestido comprido cor-de-rosa, foi o encanto da minha vida.

Mais de meio seculo ainda a tenho comigo estimada, mesmo depois de tanto brincar com ela, e recorda-me coisas tão lindas desse dia.

Não interessa ter muitos brinquedos pois por serem tantos não se dá valor a nenhum e acabam num canto do quarto.

É tempo para passear, conviver e abraçar quem mais gostamos. Estar em paz a gozar este dia.

Afinal é o dia de Natal, o dia da família!


domingo, 15 de dezembro de 2013

Não vou querer ser idosa!


imagem da internet


Sentada á secretaria, no local onde trabalho vejo uma velhinha corcunda com dificuldade de mudar os pés no seu andar cansado, de braço enfiado no de uma senhora bem mais nova que a obriga a caminhar.

Sem parar dá voltas e voltas a piso do centro comercial, talvez num exercício físico que pense necessário á saúde da dita idosa, ou talvez por estupidez.

Um idoso é uma pessoa que já viveu muitos anos puxando pelo seu físico no dia-a-dia. Uns mais que outros dependendo do modo de vida que tenha passado.

Esta senhora de que vos falo tem cara de pessoa que trabalhou na vida domestica açambarcando toda a responsabilidade de gerir uma vida apoiando terceiros, numa correria diária entre a casa e o campo onde cultivaria talvez o sustento da casa.

As pernas cansadas de tanto peso que suportaram estão agora com dificuldades de se mover, mas a dita acompanhante continua a exigir que caminhe.

Arrasta os pés, na cara uma ruga de dor e um arfar cansado.

Já me apeteceu aborda-las mais que não fosse para que a velhinha ganhasse golgo enquanto ali estivesse a “deitar conversa fora”.

Ao que chega um idoso, ou só e abandonado ou sujeito a ordens de terceiros.

Acho que não vou querer ser idosa!

sábado, 14 de dezembro de 2013

OS LIVROS


“Eu, por exemplo, gosto do cheiro dos livros. Gosto de interromper a leitura num trecho especialmente bonito e encostá-lo contra o peito, fechado, enquanto penso no que foi lido. Depois reabro e continuo a viagem. (…) Gosto do barulho das páginas sendo folheadas. Gosto das marcas de velhice que o livro vai ganhando: (…) a lombada descascando, o volume ficando meio ondulado com o manuseio. Tem gente que diz que uma casa sem cortinas é uma casa nua. Eu penso o mesmo de uma casa sem livros.” Martha Medeiros


Biografias por Encomenda




Algures numa página do Facebook este pequeno trecho.

Na altura comentei-o, ao mesmo tempo que acordaram em mim sentimentos esquecidos há muito, tal como um velho amor que se recorda.

Dei comigo a procurar livros que já se encontravam guardados na estante mais alta e que há muito de lá não saíam

Felizmente a leitura foi algo que naturalmente se impos na família, afinal Africa, pela sua temperatura tórrida, tinha a “mania” de convidar todos a longas sestas e nem sempre seriam para dormir.

No fresco do ar condicionado, era o livro que tínhamos por companhia, que nos levava além da imaginação.

Um dos primeiros livros que me foi oferecido tinha cerca de 10 aninhos. Um livro de Walter Anderson “ A CAIXA MAGICA”, contos de encantar de reis e rainhas, príncipes e princesas, escravas e senhores numa fantasia magica.

Estima-o com todo o cuidado, era o melhor livro encadernado que tinha. Um dia pediram-me emprestado, deixaram-no á chuva e devolveram-mo assim.





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Feio e estragado continua guardado carinhosamente

Com o passar dos anos foram os romances que passaram acompanhar-me nas longas sestas.

Dr. Jivago, família Forsyte etc.

Os amores e desamores no meio de num jogo de palavras que sem querermos participávamos tomando partido dos intervenientes como se nos fossemos o protagonista.

Dai o salto para os livros de poesia, poemas de saudade, de amor traduzido em palavras que me extasiava.

E lia, lia tudo que estivesse ao meu alcance.





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Escritores bons (que ainda hoje releio) e os nem tanto (o que acabava por deixara a meio por falta de interesse).

E assim fui enchendo as estantes de livros que tenho sempre á mão para me fazerem companhia.

Mia Couto, Pepetela, Aniceto Afonso, João Paulo Borges Coelho, Carlos Vale Ferraz, e todos que me falam de Africa



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Para os mais esquecidos, sugeria a leitura de “Os Colonos”, porque hoje recordam apenas a vida fausta e boa e nem sempre assim foi.

Outros abriram caminho para que isso acontecesse.


Partiram de mãos vazias. Enraizaram-se e amaram a terra. Mudaram África e foram mudados por ela. Uma história de paixões e desilusões, mas também de heroísmo e sobrevivência.
Ouvimos com frequência dizer, ao longo das últimas décadas, que a nossa descolonização foi mal feita. Mas poucos lembram que a colonização não correu melhor. O que aconteceu, afinal, aos colonos que partiram para terras de África? Sem traumas ou preconceitos, este romance acompanha a epopeia dos madeirenses que fundaram o Lubango, no Sul de Angola.
Na segunda metade do século XIX, esgotado o filão brasileiro, os olhos de Lisboa dirigiram-se para o interior africano. Era tarde. O ultimato britânico avizinhava-se. Através da história da família Zarco e da fundação da cidade de Sá da Bandeira, narram-se neste romance as vidas de gente humilde que procurou um futuro melhor. Vidas carregadas de esperança e do desejo de vencer. Gente que lutou e amou, intensamente, e que na maioria dos casos morreu pobre.







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Por tudo isto, os livros são meus companheiros, transportam-me a vivências passadas, o cheiro do papel, as anotações que vou colocando a lápis, os parágrafos marcados, e o que se encontra guardado dentro dessas paginas.

Ontem mesmo ao rebuscar um livro encontrei entre paginas um botão de rosa seco já quase a desfazer-se, oferta de alguém muito importante certamente, e que ali deixara o seu perfume á época.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

CERIMONIAS DE AFRICA


imagem da internet


Muita gente se admira com a morosidade de se efectuar o funeral de alguém em AFRICA.
Recordo os batuques daquelas terras longínquas, quando pela noite rasgavam o silêncio.

Gritos lancinantes abadados pelas cadências dos tambores e o gesticular dos braços e o bater dos pés no chão que rodopiavam em redor da fogueira.

Escorria-lhes o suor pelos peitos que pendiam caídos cobertos de pó que se ia levantando pelo patinhar no batuque.

E toda a noite corria a dor nas veias e no corpo, enquanto rodava a caneca do pombe ou outra bebida alcoólica que lhes turvava a cabeça.

Já pela manha, o som foi-se esvaindo, apenas a porta da palhota onde jazia o morto, ainda havia gente sentada chorando baixinho, talvez pelo cansaço da noite ou pelas lagrimas esgotadas.

Dali sairia numa tarimba de paus, o corpo enrolado numa capulana, em direcção ao buraco que havia sido aberto junto a arvora dos espíritos num local que se dizia santo.

Findo o funeral antes mesmo de o descansar dos acontecimentos, ali se sentavam os parentes para decidir dos bens do falecido e da mulher que ficara viúva.

Pouco ou nada fora deixado mas como responsáveis ali estavam para cumprir ou fazer cumprir os seus costumes.

Á morte do marido há as cerimonia para a união entre o irmão do falecido e a viúva.

Restantes bens passam para seu herdeiros neste caso, filhos e irmãos mais novos.

As cerimónias são presididas pelo curandeiro e as mulheres mais velhas da família.

Levam semanas com muitas regras e proibições até que se libertem de todas para que não haja maldições a cair no futuro.

Afinal as gentes evoluem e estudam, ficam doutores mas quando morrem apesar de não darem nas vistas a base do luto é a mesma, cerimonias dias e dias até que considerem que o morto poderá descansar em paz.

Africa no seu todo!







terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Parabens meu filho

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Depois de aqui falar do aniversário de minha filha, eis que hoje venho falar do aniversário do meu primogénito.
Em terras quentes e lindas dum país que existiu como sendo a Suíça de Africa, nasceu meu primeiro filho.
Que falar da alegria do nascimento de um filho?
Uma bênção, algo que preencheu totalmente o coração de uma menina de apenas vinte aninhos.
Sou grata a Deus pelos seus nascimentos!
 Fernando Miguel, hoje pai de duas meninas, já sentiu a maravilha destas bênçãos, um enorme beijo de parabéns, que Deus lhes tudo de bom desta vida.
Sou feliz rodeada dum amor de família, por isso hoje também estou em festa.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Hoje estou muito feliz.

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Hoje estou muito feliz.

Que dizer de uma mãe que há uns anos nesta mesma hora sofria as dores mais atrozes para receber nos braços uma filha.

Veio ao mundo num país e numa cidade linda, a Rhodesia na altura, Salisbúria.

Os jacarandás deram-lhe as boas vinda cobrindo o chão de lindas flores.

Hoje tenho a felicidade de a ter junto de mim, dar-lhe imensos beijinhos abraça-la, mima-la.

Por isto não me demoro mais na escrita, vou preparar o jantar onde estaremos todos reunidos numa comunhão de amor, e alegria.

Parabéns minha filha, que todos os espinhos da vida se transformem em flores para que caminhes feliz com esse teu sorriso lindo que nos enche de orgulho.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Que mundo este!

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imagem da internet

Uma das lembranças boas que tenho de Tete era um velhinho de bengala na mão, acompanhado de seu cão que passava diariamente á minha porta.

De seu nome João Mendes, descia a rua caminhando vagarosamente de sorriso aberto despontando por debaixo do bigode bem aparado, e barba feita, cumprimentava todos que com ele se cruzassem.

Nós garotas, achando graça lá estávamos junto a vedação do quintal à espera que ele passasse para lhe dizermos bom dia e afagarmos por momentos o canito seu amigo inseparável.

Tinha como companheira uma senhora negra que se incumbia de o trazer bem arranjado, limpo alimentado o que fazia dele um homem feliz.

Á tarde após o almoço, estendia-se na cadeira de lona na varanda colonial, onde uma brisa fresca se cruzava refrescando-o enquanto dormitava a sesta até o calor passar.

Perto numa mesa de madeira pequena, estava a moringa tapada com um copo de borco coberta por um pano bordado com flores garridas a ponto pé de flor, e ladeado de um piqué de crochet rosa.

A função era cobrir das moscas e deixa-la protegida do calor.

De quanto em vez João Mendes matava a sede naquela frescura de água e recostava-se novamente deixando que o tempo passasse calmamente.

E os dias iam passando, acarinhado e sempre assistido por uma alma  caridosa que o acompanhou até que partiu.

Morreu feliz.





Meio seculo depois, noutro país, vejo da minha janela  um outro idoso, que passa diariamente a minha porta, andrajoso só arrastando os pés cansados, ar carrancudo que nem cumprimenta.

Vive só numa casa de pedra onde a luz e o frio atravessa por entre frinchas que já nada os impede.

A um canto uma lareira com brasas quase apagadas, que o aquece nos dias frios.

Uma enxerga com cobertores velhos onde se enrola na noite, e passa frio.

Come do que lhe dão as vizinhas ou apanha no lixo.

Tem uma pequena reforma que mal chega para a farmácia, mas vai dando para comprar pão e pouco mais.

A tarde senta-se numa pedra ao sol, com um olhar perdido talvez pensando nos filhos emigrados.

Ninguém se lembra que existe, e assim vai andando esperando que a morte o leve, fechado em recordações de uma vida dificil e uma velhice igual.

Que mundo este!





quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Que dor esta!

imagem da internet
 
 
Há dores de alma, amor, paixão, de ciúmes, do corpo ...
Uns mais que outros mas todos sofrem as suas dores, umas com epílogo feliz, outras nem tanto.
Com o passar dos anos, as dores que eram pequenas ou suportáveis vão-se agravando, passando a ser mais doridas, mais insuportáveis, acomodando-se como fazendo parte de nós mesmo.
As do corpo passam a ser, minimizadas por pilulas medicinais que por vezes curam um mal e causam outro.
As dores de amor há muito se esfumaram, substituídas por companheirismo doce e insubstituível, de quem nos acompanha há longos anos, ou ausência delas devido a partida inesperada desta vida.
As dores de alma também se não curam, amenizam-se com uma lagrima, uma nostalgia que toma conta de nós e nos faz fechar o coração para o mundo que nos rodeia.
Faz-nos companhia nas longas noites de insónia ou nas tardes invernosas em que se perdem no olhar ausente enquanto sibila o vento e cai a chuva.
Mas com o avançar da idade , cai o silêncio em nós e uma nova dor nasce.
Aquela dor, quando se sentem a mais na vida dos filhos a quem tanto deram, por quem tantas lagrimas verteram, e agora uma total ausência de atenção e cuidados, muitas vezes num abandono total.
Que dor esta, sem cura e que dói e mata com a solidão!
 


quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Que é feito do meu Moçambique

A guerra tinha terminado, fazia quase um ano. Não tínhamos entendido a guerra, não entendíamos agora a paz. Mas tudo parecia correr bem, depois que as armas se tinham calado. Para os mais velhos, porém, tudo estava decidido: os antepassados se sentaram, mortos e vivos, e tinham acordado um tempo de boa paz. Se os chefes, neste novo tempo, respeitassem a harmonia entre terra e espíritos, então cairiam as boas chuvas e os homens colheriam gerais felicidades.

Mia Couto. O ultimo voo do flamingo: 114.


Moçambique levou 30 e tal anos a recompor-se, curou as feridas da guerra, iniciou um período de reconstrução, e fez dele novamente o paraíso na terra.

As suas praias as suas gentes, o clima e tudo mais passou a ser novamente o destino que qualquer viajante deseja ou até mesmo o retornar as origens as gentes saudosas dum país onde sempre haviam sido felizes.

O que havia sido abandonado por força das circunstâncias e culpa de um acordo português mal elaborado, foi-se deteriorando durante anos até que aos poucos ultrapassou tudo e renasceu para um futuro auspicioso.

Moçambique estava no rumo certo, estradas novas, cidades reconstruidas, investimento nacional a estrangeiro por todo o lado, um país com uma potencial riqueza dos seus recursos, com um PIB de fazer inveja a muitos países
.
Chegam agora notícias de uma instabilidade total no país, envolvendo lutas bélicas pelo poder dum governo legítimo eleito pelo povo.

Talvez aproveitando esta fragilidade, os bandidos instalam-se á vontade, fazendo roubos, e raptos de gentes. Mais ainda executam-nas quando a coisa corre mal.

Sr. Presidente do meu país, não deixe que isto aconteça, não permita o regresso á guerra que só aterroriza as gentes, e atrasa o seu desenvolvimento, ordene que se faça uma caça aos raptores de modo a que não haja medo de viver em Moçambique. 

Não deixe que Moçambique perca tudo que conseguiu nestes anos, ser o tal paraiso na terra.

Eu e todos os Moçambicanos esperamos isso de si, queremos paz na nossa terra.



domingo, 20 de outubro de 2013

As festas da minha semana

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Turma 5º ano com uma professora Dr-ª Manuela Paz

Não é preguiça, nem esquecimento deste cantinho que tenho para aqui colocar o que me vai na alma e no pensamento mas outras razões muito importantes não me deixaram “espaço de tempo” para o fazer.

Na verdade por um lado estive a curtir o almoço Tetense, que já lá vai mas carregou-me as baterias por uns tempos porque amizades como aquelas já não há, e é sempre grato receber aqueles abraços quentinhos de saudade.

Tirar as ferrugens dos ossos numa marrabenta que desta vez foi dançada de um modo especial, rir de alegria na companhia de mais velhos e mais novos, sentir aquela musiquinha do passado é sem dúvida o melhor remedia.

Enquanto puder la estarei anualmente a beber do positivismo da minha gente, todos iguais e todos amigos, e este ano muita gente nova que já não via há uns bons 30 e tal anos
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Marrabenta e alegria

Depois as pequenas mazelas que já vão aparecendo á Senhora minha mãe que tenho o privilégio de estar a viver junto de mim há muitos anos.

Os joelhos que já dão sinais de desgaste ao fim de 86 primaveras de uma vida de trabalho e mudanças, marcam qualquer um.

Esticando bem os meus dias, em vésperas de aniversário lá foi fazer mais uma infiltração no joelho direito que lhe permitirá mais um tempo de qualidade de vida.



No dia seguinte já estava melhor para festejar o seu aniversário.
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A mais nova da familia,  bisneta Margarida Isabel

Ninguém tocou no telefone, era vê-la feliz recebendo os cumprimentos de muitos familiares, de longe e de perto mas feliz por falar com todos.

Á noite tinha contabilizado os telefonemas, e marcado falta aos que se “esqueceram” e não deveria ter acontecido, um véu de lagrimas espreitaram seus olhos já cansados mas depressa recuperou.

Acontece com quem é mais novo quando mais nesta idade que como dizem voltamos a ser crianças.

Na verdade foi sempre uma lutadora, nas boas e nas más horas empurrou a vida á sua maneira o que não foi fácil pois como todos sabem, recomeçar do nada ao fim de muitos anos quando deixou Africa, e ser o apoio de todos foi complicado.

Sempre presente criou filhos, netos e ainda bisnetas, enganando a idade com a uma terapia de ocupação do tempo.

Não é  velhice não, recuso aceitar que ela está velhinha pois tem mais força que eu própria no dia a dia.
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Obrigada minha mãe por estares sempre presente ao meu lado e de todos nós.

O tempo e a tua historia de vida ficará para exemplo futuro .