Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

segunda-feira, 13 de julho de 2015

OS CAFÉS E BARES DE TETE



Há dias encontrei um amigo de longa data e sentados ao fresco do cair da tarde fomos recordando velhos tempos onde as horas eram maiores e os dias mais pequenos no entanto havia tempo para tudo.

Na verdade foi uma terra abençoada, que nos deixa imensas recordações.

Numa conversa descansada veio à baila os pontos de encontro ou digamos antes os locais de convívio à época:-Bares e cafés de Tete, e acreditem que fiquei a saber mais agora que sabia sobre os imensos locais onde se podia encostar a barriga ao balcão e matar a sede com uma cerveja estupidamente gelada e sempre acompanhados por um amigalhaço ou beber uma “mazagrin”, uma coca -cola ou simplesmente um café.

Eles existiam por toda a parte, e eram seleccionados para os mais remediados ou para os mais pobres, pelo hábito de saber estar naquela hora os companheiros da “Má-língua” ou alguma miúda que andassem de olho nela.

Por companhia a boa cerveja moçambicana como a Laurentina, a 2M  ou a Manica, era ao gosto do freguês, na certeza porem que não eram baptizadas.

Indispensavelmente as geladinhas vinham sempre acompanhadas pelos pires de tremoços, amendoins ou mesmo um petisco melhor ao fim de tarde como a dobrada bem picante, cheia de palitinhos nela espetados e alinhados, com um aspecto e sabor do outro mundo. Era usual ser este o petisco do bar Soares Pereira ao fim da tarde sobre as mesas de ferro pintadas de verde, com quatro cadeiras da mesma cor com base e encosto de chapa.

Mais a cima à esquerda o Bar Alves e mais abaixo à direita o Bar Central propriedade de um velho residente que passou a ter o seu nome “ Bar Melo” ou pensão Melo, onde muitos magalas e pessoal trabalhador passavam as tardes na sombra fresca da varanda, ou jogando matraquilhos mesa já a descambar mas que funcionava perfeitamente nas apostas do vencedor do jogo que acabava sempre por pagar uma rodada á malta.

Pela Circunvalação, o Copacabana e o Pic nic, balcão de linóleo mesas de madeira onde se esparramavam na conversa enquanto descansavam ao fim do dia.

Houve um bar castiço “O China” bem a beirinha do rio onde os camarões e o peixe frito fazia as delícias da malta. Quando o rio enchia é que era o cabo dos trabalhos. Mas era engraçado ao anoitecer aquelas luzinhas acesas como que perdidas no meio do rio.

Depois o Almadia, o Beira Alta.

Não me lembrei em qual deles se saboreava os passarinhos fritos que o velho João coxo caçava pela manhã e se degustavam pela tarde.

Aproveitando o movimento e bem juntinho aos cinemas lá estava o “Domino” mais elegante já com ar condicionado e um homem culto à frente Sr. Ferrão que me não lembro como lá foi parar mas acompanhava todas as conversas com um conhecimento extraordinário enquanto pelas mesas interiores no ar condicionado se instalavam a toda a hora fosse pelo café, ou pelo excelente whisky ao fim da tarde ou saboreando a bela tosta mista com uma coca-cola ou um Vinto bem fresco.

E era no final das secções dos filmes que se enchia a esplanada até altas horas da noite em conversas entre amigos ou conhecidos.

Alias quem chegasse àquela terra, tornava-se logo um amigo

Pela localização, junto ao colégio, também ponto de encontro de muitos namoricos entre o intervalo das aulas.

Mais adiante, altaneiro os “Carlettis”, mais frequentado pelos funcionários públicos, famílias ou gente que ali se deslocava aos escritórios do Dr. Tramela Conde, ou ao do Sr. Mário de Corte Real Chaby.
Aqui os pastéis de bacalhau e as chamussas eram do melhor que havia.
Muitas festas se fizeram aqui, casamentos baptizados ou bailaricos.

As gentes de trabalho, camionistas etc. poisavam no Bar Freitas pouso certos de quem calcorreava as estradas e chegava com o estomago a dar horas e as gargantas secas do pó das picadas.

Ora já para o fim e para receber os frequentadores da missa aos domingos, no fim da Avenida General Bettencourt onde foi edificada a Catedral da cidade, la estava o Zambe.

Sossegado diria eu ao domingo pois os homens fiéis a religião não falta ali á hora missa, com a desculpa de estar a igreja cheia ou outra desculpa qualquer.

Na mesma avenida mais para meio o café Zambeze que muito já se falou, local recatado talvez por ser um hotel e demasiado exposto á rua. Era no entanto aqui onde os homens de negócios tratavam da vidinha deles, e se algo ficava pendente acabavam a noite no Aero Club, olhando a noite estrelada e o Zambeze calmo.

De seguida quase em frente as Obras Públicas a Marisqueira, onde o marisco era rei.

Por fim a Caravela e o Bracarense onde os pastéis de nata faziam as delícias de todos.

Se algum dos meus leitores se lembrar de mais coisas pois diga, sempre complementa esta cronica da nossa terra.

Não falo nas modernices nocturnas que apareceram mais tarde tais como “Costa Cigano” ou o Maxime pois o que por lá se passava era falado no secretismo total talvez para que as mulheres não se apercebessem onde os maridos se perdiam entra copos de whisky marado ou com outras bebidas bem como os amendoins pagos a preço de camarão importado.

Muitas famílias se desfizeram à conta das noitadas onde a dança e as bailarinas os deixavam embasbacados.