Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

sábado, 25 de abril de 2015

O 25 DE ABRIL 2015




Foi há muitos anos, ainda jovem mas já com dois filhos nos braços, uma vida feliz pela frente quando num repente fiquei sem nada.

Sem bens, sem futuro e sem esperança em nome dum de 25 de Abril da liberdade.

Aos poucos demos conta que havíamos sido ignorados, ao vermos os militares a regressar à Metrópole, enquanto íamos lendo as notícias dos acordos assinados á pressa para entrega das ditas províncias ultramarinas.

Pessoa de poucas ideias políticas não me dei conta do que mais tarde viria, 
apenas me senti num olho de furacão que todos atingia e num repente tal deixou todos sem nada.

Sem rumo sem saber o que fazer, apenas um diz que não diz empurrando muitos para um abismo desconhecido, que viria mais tarde tornar-se um futuro penoso, alias muito penoso.

Toda a vida da pacata cidade onde vivia, passou à corrida às tábuas de madeiras, aos caixotes e contentores.

Os sorrisos desapareçam, as pessoas isolaram-se as lágrimas eram constantes, e começaram as primeiras famílias a deixar Moçambique.

Havia no entanto os resistentes que nem queriam pensar em largar tudo de uma vida e partir para desconhecido mas que rapidamente foram mudando de ideias.

Tudo em nome de uma liberdade fortemente festejada, mas ao que víamos naquela terra longínqua deixara apenas lágrimas.

E foram todas ou quase todas as famílias com meia dúzia de bens metidos às pressas em sacos e malas, filhos agarrados às saias a caminho de uma cidade de onde iam saindo aviões cheios de gente como se fossem Lixo para os despejarem num destino desconhecido entregues a si próprios.

Passaram muitos anos, a luta foi titânica nem todos venceram, mas trabalharam muito como poucos imaginam para reconstruir uma vida destruída deixada para trás.

Só os sorrisos continuam apagados, as esperanças no futuro nenhumas.

Os tais militares que tanto lutaram e deixaram muitos companheiros enterrados naquelas terras foram esquecidos.

Mas o 25 de Abril, esse continuam a festejar-se.