Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

quinta-feira, 24 de abril de 2014

ONDE ESTAVA NO 25 DE ABRIL ?

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(imagem da internet)

Todos os anos a mesma pergunta “ONDE ESTAVA NO 25 DE ABRIL?”

E esses anos foram passando já lá vão 40.

Das muitas pessoas que sempre foram questionadas sobre isto aos poucos foram desaparecendo ou encolherem os ombros perante a mesma pergunta pertinente.

Os mais novos esses continuavam na mais pura ignorância do que foi e porque foi o 25 de Abril.

Com o passar dos tempos esses mais novos cresceram e foram-se apercebendo da coisa ou porque estudaram, ouviram falar ou mais grave porque acabaram a sentir também a consequência dessa data.

Mas também não vou falar disso porque aqui em Portugal foi o libertar de um ditadura sobre um povo pobre e sofredor.

Agora onde eu estava no 25 de Abril, sim é disso que aqui vou falar.

Nesse dia estava em terras de Africa, esse país onde nasci, filha de um casal que havia elegido há muitos anos como sua pátria esse pedaço de Portugal onde encontraram as condições para constituir família e serem felizes.

Não se pense que era a terra da árvore das patacas que bastava abanar e ficavam ricos.

Não, se alguém fazia vida era com muito esforço e trabalho.

Ora nesse dia ao levantar-me pela manha reparei que tudo estava diferente, tudo de transístor colada ao ouvido e a sussurrarem palavras não fosse alguém infiltrado da PIDE ouvir alguma palavra que acabassem por leva-los para o xelindró

Aguardavam a confirmação do que chegava por meias palavras através da RSA temendo desde logo o que por ai viesse.

Na altura desvalorizei o assunto, porque achei que deveria haver a independência merecida, dum pais que apenas servia para enriquecer Portugal e que o fazia á custa da vida de muitos militares que lutavam numa guerra sangrenta.

Não passou muito tempo que não passasse pela avenida um desfilar de "berliets" transportando corpos “encaixotados” de militares que no dia anterior perderam a vida nessa guerra que se revelou inglória e estúpida.


Pensava eu que após este golpe de estado, haveria a retirada dos militares pacifica após uma negociação para a independência de Moçambique.

Ora neste caso, era-me indiferente que ficasse a governar o país um Moçambicano em vez de um Português e que a vida seguiria calmamente.

Na verdade as feridas da guerra e os ódios tinham que ser cuidadosamente
Resolvidas e respeitadas

Mas não, essa Metrópole que eu nunca tinha visitado, e que apenas conhecia dos livros escolares, representada por alguns políticos á época, resolveu negociar essa retirada, de tal modo que foi uma pressa entregar tudo sem garantias de segurança para os portugueses que viviam.

E num abrir e fechar de olhos vimos todos a encaixotar vidas que não cabiam neles por muito que se tentasse.

Um desmoronar de identidades, de anos de luta de vidas feitas, bens retirados, famílias desfeitas uma debandada total, no regresso de milhões de portugueses a Portugal dado como único destino possível.

Foi uma descolonização vergonhosa, para mim uma fuga apressada de Portugal após um tratado, vulgo negociata gorda de gente apressada em gozar a tal liberdade do 25 de Abril.

E todos os portugueses e não só, envolvidos nesse imbróglio, sofreu e muitos ainda sofrem o refazer da vida novamente.

Quarenta anos passaram, Portugal envolvido em diversos governos indescritivelmente, mal governados, foi andando, entre épocas faustosas e épocas endividadas com gente que entretanto enriquece, olhando sempre para si mesmo, onde a justiça deixa impune todos os actos ilícitos e esquece seu povo trabalhador.

A esse o que lhe deram fruto desse dia da liberdade, uma parca reforma, a liberdade de falarem, o acesso a estudos, e a facilidade de singrarem na vida.

Ultimamente quando tudo parecia bem, volta esse tal governo endividado, não por culpa do povo mas dos que o governam, 40 anos depois e retiram-lhes tudo que lhes deram, em nome duma Troika que ninguém entende,

As reformas dos idosos, o direito á saúde, o emprego á gente jovem etc.

Pedinte nas ruas, velhos que morrem á mingua, novos que apesar de estudados deambulam por este país fora sem arranjarem emprego, e pior que tudo crianças á fome.

Os capitães esses que aqui fizeram o 25 de Abril numa guerra de cravos, ficaram com uma excelente reforma enquanto os combatentes do Ultramar apenas restou um mural “janota” em Lisboa onde constam os nomes de todos os heróis dessa guerra.

Continuam lutando por um lugar decente neste Portugal a quem tanto deram, pelo apoio as suas mazelas provocadas por essa guerra de onde muitos saíram estropiados.

Como participante activa de toda esta vergonhosa descolonização, e regressado o Portugal sem nada recomeçando do zero pela segunda vez uma vida de trabalhos e lutas, sinto uma revolta por tudo que passei e estou a passar neste País sem futuro.

Se me perguntarem onde estava no 25 de Abril, pois estava num país maravilhoso onde todos tínhamos o que suamos para ter e era nosso, onde apesar de tudo  em paz com a vida e agora o que temos suamos de igual modo e nada temos.



40 Anos depois vamos festejar o 25 de Abril porquê?