Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

sábado, 30 de março de 2013

O Cortiço

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Vieram de Africa há muitos anos, há cerca de 42, -Dom Zeferino chefe de família, empenhado em criar raízes na cidade oferecendo algo de diferente andou pelas aldeias da região fazendo um levantamento da pura culinária local antiga baseada na tradição do uso de ervas aromáticas colhidas nas serranias e campos.
Ouviu das gentes mais velhas todos os segredos que ainda guardavam na memória.
Desta colheita de receitas de sabores, abriu seu restaurante no coração da cidade de Viseu, junto a estátua do Rei D. Duarte, á Sé Catedral ao Museu Grão vasco, que melhor vizinhança poderia ter.
Depressa criam fama o arroz de carqueja, o bacalhau podre apodrecido na adega; polvo frito tenrinho como manteiga; rojões com morcela como fazem nas aldeias; cabrito ao pastor da Serra; feijoada à moda da criada do Senhor Abade; vitelinha na púcara à lavrador; coelho bêbado três dias em vida ,a sopa na panela de ferro, os sonhos e o leite creme, tudo muito supervisionado pela esposa D. Mimi que muito ajudou no sucesso deste empreendimento.
O seu interior de paredes forradas a pedra acabaram por ficar cobertas de mensagens e fotos de todos que ali passavam para degustar tão boa culinária.
Eram filas enormes na rua esperando á porta, por um lugar vago.
Criou fama, passou de pai para filhos, sempre procurado para gaudio dos que procuravam no centro de uma cidade os sabores da aldeia.
Alguns o consideravam o restaurante mais português de Portugal, com sabores raramente encontrados em outros locais.
Na internet ainda se encontra o seguinte convite:
Se passar em Viseu nao deixe de visitar O Cortiço, quem por lá passou diz voltar sempre...
Vale a pena conhecer e provar...
Não, já não vai a tempo, o “CORTIÇO” encerrou  portas.
Se não conhecia este restaurante não sabe o que perdeu, agora já não vai a tempo.
Ficou para trás todo um trabalho de pesquisa e bem servir que era um ex- libris da cidade de Viseu.


sexta-feira, 29 de março de 2013

WELCOME HOME

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imagem na internet

E o interior encheu-se de gente!

Este é o resultado das ferias da Pascoa, que anteriormente  tinham como destino paragens mais quentes contrastando com o frio e chuva que se vai sentindo por cá,  este ano “ao abrigo” da palavra crise, rumaram ao interior do país,

Descobriram agora que nós por cá somos um país de belezas que o Português desconhece porque o que valeu sempre é a máxima “lá fora é que é bom”!

Pois é preciso acordar consciências das gentes do Turismo de Portugal para divulgarem não só o Algarve mas todo o país, ou eles também não sabem o potencial que existe além do sul?

E a esta divulgação pelos vistos de deve a operadores turísticos locais e gente da terra que luta para o “Welcome to Viseu, Bragança, Vila Real, Braga, Guimarães etc. etc.”
.
Vejam como ainda esta semana se falou tanto do rio Douro, dos cruzeiros maravilhosos de paisagens fantásticas.

As nossas velhas aldeias renovadas, com gente sã, ar puro imensos campos verdejantes e calmos para descansar do bulício da cidade, a gastronomia que ainda não é nem light nem grumete, mas excelente, confeccionadas á maneira antiga, em fornos de lenha e temperos de ervas do campo.

Linhares, Belmonte, Sortelha, soajo, Castro Laboreiro, Lindoso, Bragança, etc. quanto de histórico existe nestes destinos.

A nossa história que se aprende nos livros, por aqui disponível, para  os “putos” a conhecer.
Este ano efectivamente desceram ao burgo, devidamente “enfarpelados” á moda da cidade mas preparados para um frio que não é tanto assim. É vê-los de casacões, gorros enfiados até as orelhas, botas de pele luvas até aos cotovelos.

Passam e as gentes locais diferenciam logo: -é de Lisboa!

Oh santa ignorância, férias são mesmo para vestir o mais comodo e gozar esse tempo escasso de descanso.

Procuram os melhores restaurantes quando o bom são os “Tascos” de comida caseira, barata e bom vinho.

Nada como uma sopa á lavrador, um arroz de cabidela, um cabritinho no forno, uma posta a mirandesa, um bacalhau com grelos da horta, como sobremesa um arroz doce ou um requeijão com doce de abobora, para não falar nos queijos excelentes não industrializados.. Tanta opção na boa cozinha portuguesa.

Assim realmente as ferias ficam bem mais baratas e melhores que qualquer destinos de barriga ao sol entupindo-se de comida industrial e coca colas manhosas  onde o regime alimentar é tudo incluído, lá pela ”estranja”.  

Gozem este Portugal de gente simples e coisas boas.

“WELCOME HOME”

quinta-feira, 28 de março de 2013

DIA DO TEATRO

Ontem foi o dia do teatro, essa grande arte de representar a vida no seu todo, comedia ou drama.
Gostaria de o ter festejado sentada numa qualquer sala de espectáculo perante uma boa peça de teatro ou até mesmo uma revista a Portuguesa.
Afinal os actores que duma quer de outra merecem todo o nosso respeito pelo trabalho que desenvolvem em prol da cultura de um povo e muitas vezes não reconhecido o seu trabalho.
Como moro no interior de um país que teatro pouco ou nada lhe diz , fiquei por casa como milhares de portugueses sentadas em frente ao televisor que nos impinge massivamente no horário nobre nocturno uma catrefada de telenovelas.
Na verdade elas existem porque também há actores envolvidos na trama que apresentam e certamente alguns como escape a um desemprego certo dado a pouca actividade nas salas de espectáculo.
Eis senão, que ao fazer Zapping, dou com o canal publico que todos pagamos para os que lá trabalham e não só, festejando esse dia com a apresentação da peça de imenso mau gosto de título "O REGRESSO DE SOCRATES".
Não tive paciência de ver mais do mesmo, uma representação dramática roçando o burlesco que me enojou.
Esperava, ao menos desta estação televisiva que desse a devida importância ao dia e apresentasse nem que fosse repetidamente uma qualquer peça de teatro  que nos deleitasse assistindo no cadeirão da sala o que não podemos assistir numa sala de espectáculos.
O interior tem destas coisas mas somos todos portugueses e esperávamos colmatar esta falta de cultura com o canal de serviço público o que não aconteceu.
Mais grave ainda, para mal de milhões de portugueses residindo no interior esquecido, todos os canais discutiam o caso em mesas de 6 ou sete comentadores a cena deplorável das desculpas de Sócrates.
Sinceramente com esta bagunça, a minha noite ficou estragada, porque adivinho mais e mais dramas destes que nos vai por na rua da amargura.
Como é possível deprimir assim este povo já de si martirizado com a política actual para vir este cromo agoirar tempos ainda mais difíceis.
Na verdade a vida é um teatro mas por favor deixem-nos escolher ou dêem a oportunidade de cada um fazer o seu papel com um epílogo feliz.

domingo, 24 de março de 2013

DOMINGO DE RAMOS

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Hoje é domingo de Ramos, tempo que antecede á Pascoa.
Antes de vir para o trabalho deixei a minha mãe na Igreja que tinha o chão coberto de flores e alecrim, por onde passaria a procissão.
O ar cheirava bem, uma mescla de alecrim e flores, as pessoas apressadas caminhavam em direcção á cerimónia da bênção dos ramos. Toca o coração de todos a fé e a vivência desta época Pascal.
Recordo a aldeia de meu pai onde tantas vezes passei esta época festiva, no dia de hoje desfilavam orgulhosamente os crentes de ramos enormes na mão. Dizia-se que quem levasse o ramo maior e mais “composto” teria mais bênçãos do senhor.
Crenças religiosas da aldeia mas efectivamente o tamanho e a composição dos ramos era preenchida com um enorme pau de loureiro quase sempre da altura do portador, enfeitado com ramo de oliveira, alecrim, laranjas, pão e flores.
Era a vaidade do dia, assim se enchia o terreiro numa troca de palavras quer de inveja quer de elogio pelo ramo mais bonito.
É a entrada da semana santa, o jejum e a abstinência ainda se cumpre por aqueles lados, e reza-se a via-sacra, até sexta-feira santa e sábado de aleluia, entre o povo pois o padre só ali vai ao domingo.
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Ao fundo desta rua fica a Igreja

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Igreja de Santiago Armamar

A igreja é pequena, muito bem cuidada, com uma lindíssima talha dourada no altar, pequena para acolher todos que assistem á missa em dias festivos.
A terra, Santiago, recebeu Carta de Foro de D. Afonso Henriques (1169) e a ela se referem as inquirições de 1258. Na primeira metade do século XVI era lugar do termo da vila de Armamar, segundo Censos de 2001 tinha 180 pessoas, hoje apenas meia dúzia de idosos restaram como guardiões de tantas portas fechada de famílias que se fizeram á vida pelo estrangeiro ou para as capitais.
Terra de produção de batata, cerais, vinho e castanha, actualmente apenas campos de poiso, porque com a entrada na CEE, a agricultura deixou de fazer sentido pela falta de escoamento do produto.
Mas nestes dias regressam todos a casa, o “eiró “ enche-se de gente alegre, abraços e sorrisos,  no ar o cheirinho dos bolos de azeite que as mulheres levam numa correria para o forno, as chaminés fumegam incessantemente, marcando a presença dos normalmente ausentes.
E vou recordando o gosto dos bolos de azeite, e dos doces amassados na masseira de casa, na cozinha aquecida por uma enorme fogueira que arde na chaminé, e aquece todos, e seca os enchidos pendurados na trave e que tempera as panelas no inverno.


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No domingo de Pascoa, enchem-se as mesas de gente em redor dum assado de cabrito acabadinho de sair do forno com arroz “solto” como dizem, acompanhado pelo maravilhoso vinho da região que aquece as almas e esquece as desgraças.
A família está reunida, até que se oiça ao longe a sineta anunciando a chegada do padre para a visita pascal, depois perfilam-se os familiares,  os vizinhos e amigos para beijar a cruz e deixar que entrem e benzam a casa, e que Deuse os protejam.
E assim decorre o dia entre as visitas a casa de uns e outros, em conversas atrasadas, bebericando aqui e ali a tal pinga da terra, até que a noite chegue e se acabe a festa.
Brevemente todos partirão e a aldeia torna a ficar vazia de gentes, afectos e vida.

(Imagens retiradas da internet)