Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

domingo, 19 de novembro de 2017

TETE DA SAUDADE





Sinto uma tristeza tão grande, como se me tivessem roubado a alma.

Uma tristeza igual aquela que os colonos que partiam para Moçambique e deixavam os pais ainda novos de cabelos pretos e cheios de força e quando regressaram encontraram um velho cabisbaixo de cabelos brancos como se ninguém tivesse tratado dele durante a sua ausência.

Aconteceu-me o mesmo agora quando vi as fotos da minha cidade tiradas recentemente por amigas que a foram visitar.

Estive 30 anos ausente daquela terra mas na minha memoria ficou sempre a beleza das casas na avenida, as gentes que me abraçaram.

O colégio onde aprendi as primeiras letras até mesmo a igreja em que me casei.



Comigo foi a minha filha, para lhe mostrar o que era meu por nascimento aquela terra, assim encontrei quase tudo na mesma, algumas coisas mais velhotas mas havia passado 30 anos, as gentes as mesmas, as ruas os edifícios públicos e mesmo até as minhas casas pareciam novinhas, bem conservadas.

Fui mostrar os escritórios e a oficina do meu pai a minha filha, os presentes dono receberam-me de braços abertos puseram-me a vontade para matar as minhas saudades.


Dei a volta a cidade toda que por incrível que pareça já tinha um semáforo junto ao Gouveia da Rocha, na altura uma loja chinesa.

Passeei a pé pelas ruas indicando a minha filha os sítios por onde passávamos, entramos nas lojas indianas procurando capulanas, viramos na rua que vai dar a Pensão Alves, até a casa onde estavamos alojadas.

Mostrei-lhe onde era a mesquita e de quando em vez parava em frente a uma loja e contava-lhe por exemplo onde havia comprado a minha mala de canfora, o sari cor de rosa com brilhantes espalhados que depois fiz um vestido e passagem de ano, a loja do Bega, Do Valy Ossman grande amigo de meu pai, e até mesmo o casamento de uma filha para a qual fui convidada etc etc


Os escritórios da Mina eram na antiga Foto Sousa onde se tiravam as fotos mais “ins” na cidade, e para meu espanto num compartimento ainda estava o cenário, o holofote e a “chaise longue” que usavam para ficar como fundo na foto.

Revivi toda a minha vida. Voltei feliz porque parecia te-la deixado no dia anterior e haviam passado 30 anos.

Esta semana duas amigas foram a Tete, as fotos que vi estava tudo abandonado, as casas que resistiram pintadas de corres garridas, os passeios cheio de buracos, as estradas alcatroadas desapareceram.

Que aconteceu na minha cidade mataram-na, abandonaram-na para olharem mais pela cidade nova que nasceu do outro lado da ponte?

Ninguém tratou dela, deixam-se cair os prédios mais emblemáticos, numa cidade que já foi importante.

Pois estou triste, mas continuarei a escrever memorias dos tempos felizes naquela terra.

Entrada da cidade, ao fundo a Serra da Caroeira.

Avenida Principal

Rádio Clube

avenida da Univendas

Um amigo antigo

Ainda o carro nas bombas de gasolina

Casa do Betinho e Sr.Carreira



Farmacia de Tete

Univendas


Malambeira.

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