Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

sábado, 12 de julho de 2014

COMBOIO DE CASCAIS



A tarde já findava, fazia frio, no lusco-fusco da noite caminhava apressada de olhos postos no chão perdida nos pensamentos, tinha pressa ia apanhar o comboio para Cascais, senão quando sente que uma mão lhe prende o braço.

Acorda da dormência dos pensamento e procura saber que a prendeu das suas pressas.

A sua frente, com alguns anos mais, alguém que  perdera e  jamais esquecera ao longo de muitos anos.

Trocam olhares silenciosos e caem nos braços um do outro.

Sem palavras, apenas olhando-se nos olhos recordam tempos idos que a vida separou.

O comboio havia partido, ele pega-lhe pela mão atravessa a rua e sentam-se numa mesa da tasca onde encostados ao balcão marinheiros e velhos bebericavam o copo de um vinho carrascão.

Os homens olham de soslaio  como que reivindicando a presença de uma senhora no local.

Não seria o lugar ideal para este encontro mas nem se davam conta do que se passava em redor, e num balbuciar de palavras atabalhoadas e baixinho vão tentando falar sem quererem quebrar a magia que se havia instalado.

·        - Que é feito de ti, há tantos anos que te não via, desapareceste sem nada dizer.

E há tanto para falar e o tempo urge, ambos têm compromissos que lhes não deixam tempo para delongas, olham o relógio que não pára.

Sem nada dito e muito para dizer, prometem um encontro com mais tempo.

Já cai a noite e separam-se, ela já no comboio leva a mão ao peito como que tentando segurar  seu coração que bate acelerado.

Encosta a cabeça ao vidro gelado da carruagem fecha os olhos vê-se transportada para terras de Àfrica onde havia vivido aquele grande amor e recorda tudo, mais ainda os beijos e caricias do tempo de namoro.

O chiar da travagem da carruagem anuncia a chegada ao destino.

Com um sorriso melancólico, limpa uma lágrima que teimam em cair.

Caminha apressada, aconchega-se ao casaco de fazenda que recebera na cruz vermelha quando da chegada a Portugal, mas continua com frio.

No dia seguinte,  voltaria a passar no mesmo sitio será que iria encontra-lo novamente?

Não haviam trocado contacto telefónico algum.

Sem dar por isso chega a casa, num bairro social onde já nem os noctívagos se vêem na rua, sem dar por isso entra em casa.

O cansaço é muito, estende-se no sofá por momentos atirando com os sapatos a um canto, e perdendo a noção do tempo este vai passando até que lhe dá a fome.

Vai à cozinha prepara um café e uma sandes, que devora rapidamente.

De regresso ao sofá procura uma velha caixa de fotos que ainda não abrira desde que chegara daquelas terra. 

Rostos diferentes bem mais jovens, gentes que a vida  separou, enquanto vai passando uma a uma recorda tudo que teimara esquecer até que adormece no meio de tanta emoção.

Talvez um dia, quem sabe voltará a encontra-lo.






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