Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

O FOGO DE OUTUBRO



Foi o fogo, um inferno que deixou muitas famílias desesperadas sem casa nem sustento.

Eu andava por estradas e caminhos a fugir dele, apenas ouvíamos “esta´” encerrado este caminho. Perguntávamos qual a solução para chegarmos a Viseu, minguem sabia, uns fugiam por um lado outros baralhados ficaram estáticos no vale de Penacova.

Ainda estava muito fresco o que acontecera em Pedrogão Grande, receamos que pudesse acontecer o mesmo a tantos carros a autocarros que ali estavam parados juntos uns aos outros.

Voltamos para trás para Coimbra tentando Mealhada, IC2 até Albergaria Velha A25. Estava fechada há meia hora ,desviamos para Sever do Vouga, mais m75 km, depois Covelo por caminhos municipais N333-3 mais quase 30Km.

Mas as estradas ladeadas de pinheiros e terrenos por limpar, com curvas e contracurvas que assustavam, até que após a tentativa de 65km andar por tudo que é caminho e já desesperados resolvemos regressar a Sever do Vouga e dormir por lá.(já havíamos feito 165km inglórios
Eram já uma da manhã, como eu todos os que andavam a tentar chegar ao Porto ou Viseu.

Procuramos onde dormir, estava tudo cheio por aqueles que se anteciparam a nós.

Minha filha dirige-se à GNR pedindo ajuda ou indicando caminho para de lá sair ou onde pudéssemos dormir.

Simpaticamente indicaram-nos uma Residencial meio fora do centro de Sever do Vouga, onde nos abriu a porta uma senhora já de idade que mesmo apesar de ser tão tarde se prontificou inclusive aquecer-nos rojões que tinha sobrado do jantar.

Numa mesa do restaurante da Residencial colocou-nos para comer, pão, queijo, pastelinhos de bacalhau, os rojões,leite etc além de fruta.

Meu Deus cansados nem fome tínhamos mas fomos agradecendo a todos os santos ainda haver gente boa neste mundo.

Um quarto triplo, limpissimo com a roupa da cama e atoalhados imaculado, foi cair nela e descansar.

O Canto da Coruja era o nome da Residencial, a dona chama-se Irene.

Não poderia passar ser nomear aqui quem nos valeu no meio daquele inferno.
Muito obrigada D. Irene, pela sua disponibilidade e simpatia, toda a sorte do mundo para si.

No regresso fomos vendo muita gente que passara a noite no carro.

Vinha de Lisboa de onde tinha saído às cinco da tarde para chegar no dia seguinte às 11 horas da manha.

Não há quem castigue estes incendiários que aos poucos vão matando Portugal, e as suas gentes.

O interior já estava deserto, apenas idosos esquecidos que arrastando os seus velhos ossos, cultivavam a sua horta para se alimentar, cuidava dos seus animais que morreram queimados, as casas ainda de pedra certamente onde o frio já entrava pelas frestas das pedras, agora nem isso têm.

Estão na rua, o Inverno está á porta que Deus os ajude e os homens os não esqueçam pois não tem solução para a vida.





Sem comentários: