Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Dia dos avós!

João Teixeira e Maria da Ressureição


Ontem foi o dia dos avós, mais um dia que inventaram a juntar a tantos outros na moda nos últimos tempos.

Mas não é que concordo com este dia dedicado aos avós.

Afinal são aqueles seres que estão um pouco esquecidos e no âmbito da família deveria ser os mais lembrados, afinal a vida começou por aí.

Pois dei por mim a pensar quem pouco conheci os meus avós, ou seja os meus avós paternos estavam do Brasil e a minha avó Maria da Ressureição, faleceu tinha o meu pai 9 anos, logo não a conheci mesmo. 

O meu avô Joao Teixeira faleceu aqui em Portugal já muito velhinho era eu ainda miúda e estava em Moçambique.


Apesar disso tenho boas memórias pelas palavras que meu pai nos foi contando.
Alberto Pina e Maria da Anunciação

Dos meus avós maternos conheci mais cedo, o meu avô Alberto Pina, porque os filhos o mandaram ir a Africa para conhecer a vida que levavam naquelas terras longínquas das quais nem faziam ideia como seriam.

Claro que adorou, ter ao fim de muitos anos os filhos todos juntos num almoço onde a mesa era enorme bem composta e com muita alegria.

Ver aquele mundo de terras por cultivar fez-lhe confusão pois la para os seus lados todos os arretos eram aproveitados para cultivar fosse o que fosse.

Uma vez fui com ele ao campo já aqui na aldeia, corremos tudo e eu já cansada admirava como aquele velhinho caminhava de passos miudinhos e apressados deixando-me para trás.

Levava um cesto no braço e uma “seitoura” (foice) afiada pois no regresso levaria alguma erva fresca que cortaria no lameiro dos Mancões, propriedade perto de casa, para uns coelhos que tinha.

E ali se punha de joelhos num instante enchia o cesto, ora eu pensado ser fácil pedi que me deixasse cortar também um pouco.

Certo é que á segunda tentativa logo ele me tirou a ferramenta das mãos pois alem de estar a estragar a erva corria o risco de ainda cortar os dedos.

É que aquilo tem ciência que a menina africana não sabia nem aprendeu.

A minha avó conhecia depois quando da nossa debandada de Africa, acolheu-nos na sua casa da aldeia onde para mim era tudo muito estranho.

Eram agricultores fartos, á custa de muito trabalho para criar 7 filhos e os netos que lá por casa iam ficando.

Senhora simpática e risonha, de uma genica enorme, só parou porque partiu uma perna quando descia do tractor e a idade já muito avançada não deixou que recuperasse.

Sentava-se a soleira da posta onde uma roseira já de tronco grosso pelo tempo que ali estava, enfeitava a entrada com rosas vermelhas.

No fim da vida juntava os bisnetos em redor a si e contava-lhe bastas vezes a nau Catrineta, um poema de um anónimo referindo-se a viagens longas para o Brasil ou para o Oriente.

Certamente muitos de vós não se recorda mas eram assim que ela a tinha decorado e nunca esquecido apesar da idade.

 Lá vem a Nau Catrineta,
que tem muito que contar!
Ouvide, agora, senhores,
Uma história de pasmar."

Passava mais de ano e dia,
que iam na volta do mar.
Já não tinham que comer,
nem tão pouco que manjar.

Já mataram o seu galo,
que tinham para cantar.
Já mataram o seu cão,
que tinham para ladrar."

"Já não tinham que comer,
nem tão pouco que manjar.
Deitaram sola de molho,
para o outro dia jantar.

etc etc

Meus filhos aproveitaram bem a companhia dela, aprenderam muito dos usos e costumes antigos, das orações que hoje já assim não é, aprenderam mesinhas, a cortar o quebranto, mau olhado,  pés torcidos etc rezas do povo.

Enfim passavam o tempo em seu redor e no fim la iam a casa buscar bolachas e fatias de bolo que partilhavam entre todos num lanche ao fim da tarde.

Ela alinhava escondendo a sua parte no bolso pois como tinha diabetes não a deixavam comer doçuras mas tenho a certeza que estas não lhe faziam mal, eram doçuras com muito amor dos netos e bisnetos , um grupo de crianças afinal.

Tenho imensas recordações dos avós por isto ontem recordei-os a todos com um sorriso sereno rezando para que esteja na santa paz do senhor.

1 comentário:

aluap disse...

Olá, boa tarde.
Eu conheci o seu avó Alberto, conhecido por Alberto Figueiró e a avó Anunciação; entrei algumas vezes na sua casa, no Lugar, com a Luísa (sua bisneta). Eram vizinhos dos meus avós maternos, Antoninho Matela e Maria de Jesus.
Também me lembro ela contar a historieta da Nau Catrineta.
Como se aproxima o mês de Novembro, um mês muito espiritual porque pela tradição cristã é o tempo em que trazemos à memória os nossos antepassados e ente-queridos que a morte já levou queria no Blog dos Forninhenses lembrar com a saudade que lhe é merecida, os que deixaram a sua marca na história de Forninhos, por terem dado o seu melhor e por terem feito maior a sua terra, são património da aldeia pois por ali passaram e de alguma maneira deixaram a sua marca e por isso fazem parte da História Colectiva de Forninhos.
Se me permitir irei levar a foto e algumas partes do seu texto para o "Memorial da nossa Gente" fazendo referência a si ou ao seu blog. Posso?
É muito importante lembrar as pessoas que partiram em tempos mais antigos, mas que continuam a ser memória viva em quem os recorda.
Um abraço forninhense para si e família.
Paula Albuquerque.
Meu email: aluap_a@hotmail.com