Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Um conto de Natal

Photobucket

Chaola, assim se chamava o pequeno enfezado que percorria as ruas da cidade, perdido da vida, não tinha casa, nem família.
Restara da colheita de morte que a doença do século ia fazendo pelas terras de África, e sozinho aventurara-se ate a cidade onde se dizia haver tudo que a vida lhe negara, pouca coisa pedia ao futuro, apenas comida e uma muda de roupa, pois a que trazia já perdera a cor e desfazia-se com o passar do tempo.
O mesungo que há meses passara perto da sua aldeia, a caminho da cidade, num carrão que rodopiava levantando aquela poeira que todos cegava, e fazia pasmar os pequenos, ouviu a exclamação: Uha , patarão!!. e sentindo-se importante, e admirado pelo pirralho chamou-o e deu-lhe a cabedula e a camiseta, a única que ainda vestia.
Já fizera tanto tempo….
Vagueava de dia pelos arredores dos restaurantes esperando encontrar alguma sobra que lhe matasse a fome, de noite recolhia-se num qualquer buraco onde ninguém o encontrasse, não fossem os outros mufanas , bater-lhe e roubar os parcos haveres que ia recolhendo do que  deitavam fora mas para ele era tudo que tinha.
Certo dia começou a notar maior movimentação nas gentes da cidade, as mamanas num entra e sai das lojas , com enormes sacos que colocavam a cabeça ou carregavam no braço, derreando as costas num esforço enorme.
Solícito oferecia-se  para as ajudar , umas aceitavam outras medrosas que fosse algum pivete que apenas as roubaria, davam-lhe enormes corridas.
Em troca havia sempre quem lhe desse umas quinhentas ou mais que não fosse, algo para enganar a fome.
Numa  manha  ao sair da missa estando ele como sempre , sentado ao fundo das escadarias de mão estendida, a D. Adélia, já com avançada idade, parou, olhou para ele e apenas lhe disse que a acompanhasse.
A medo e a uma distancia conveniente seguiu a senhora, cabisbaixo , pensando no que poderia  esperar.
Chegada a casa, pediu que o petiz entrasse, e esperasse. Dirigiu-se ao quarto dos fundos que não se abria desde que seus filhos partiram, escolheu algo e regressou onde esperava Chaola.
-Toma, vai ali ao fundo do quintal, lava-te e veste isto, quando acabares vem ter aqui.
Assim foi, em pouco tempo já  parecia outro, roupa lavada, nos pés umas sapatilhas enormes que ele achava serem de seu tamanho, e com um sorriso rasgado.
Adélia segurou-lhe na mão e empurrou-o para a mesa da cozinha, mandando     que se sentasse em frente a um prato de comida quente e cheirosa.
-Come menino, não tem fome?
Chaola, envergonhado come a medo, enquanto vai olhando a senhora, quando esta lhe pede que conte a sua história.
Terminada a conversa e a refeição , ouve -a  propor que fique ali pois precisava de alguém que lhe fizesse alguns recados e pequenos serviços que a idade já lhe não permitia fazer.
O menino ainda hesita e num ápice recorda tudo por que passara , afinal ter um prato de comida e uma cama para dormir era mais do que esperava quando se aventurara a vir para a cidade.
Por ali ficou uns anos, até que num dia quente de Dezembro, D.Adelia partiu.
As lagrimas corriam pelas faces negras na incerteza do seu futuro, sentado numa pedra do quintal da senhora debaixo duma sombra fresca,  foi recordando o dia que ali chegou, e só mais tarde se lembra que naquele dia, D.Adélia, havida estado a assistir á missa de Natal.
Chaola, pega nos seus parcos haveres e parte para longe para trabalhar como magaíça, com ele leva um retrato tirado com a senhora,  no quintal da casa que o tão bem o acolheu e jamais esqueceria,  seria o seu guia. 



1 comentário:

Manuela Gonzaga disse...

tão triste este testemunho que é uma homenagem a um menino que hoje será um homem e que entrou na vida tão abandonado. Obrigada por recordares.