Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Politiquices em Africa

POLITIQUICES EM AFRICA



A propósito de política, hoje recordei uma cena do meu tempo de menina:

Tete, uma cidadezinha cuja temperatura media anual rondava os 35/ 40º.

O calor apenas permitiam  a saída das gentes da terra ou ao amanhecer ou ao entardecer, quando o sol baixava e amenizava os termómetros.

De quando em vez  a visita de alguém importante na politica.

Movimentavam-se todos meios para que  Suas Excelências fossem condignamente recebidas.

Á época o aeroporto ficava por detrás da cidade, no “chimadzi,” com acesso facilitado aos viajantes, quer de voos normais quer os fretados, mas pouco cuidado, apenas capinado em redor da casinha que servia de apoio a quem embarcava ou desembarcava.

Os preparativos transformavam o quotidiano de todos, numa  correria tanto das senhoras para arranjar as toiletes, para o jantar que decorria normalmente no palacio do governador, bem como os cavalheiros  que já espumavam só de pensar no sacrifício de terem que envergar o fato de casaco e gravata sob o sol abrasador.

As individualidades da terra, chamavam todos os representantes etários, desde o administrador ao regulo para que houvesse gente muita gente a receber as visitas.

Recrutava-se gentes das aldeias em redor para "capinar" os acessos e pintar as pedras e os troncos das árvores até meio, de cal branca que ladeavam as estradas até ao aeroporto, para que tudo ficasse “chibante”.

Eram os tais voluntários "obrigatórios", acompanhados pelo "sipaio" que de cofió vermelho, farda de caqui, chibata da mão,iam dando ordens para que tudo andasse mais rápido.

Chegado o dia, vinham milhares de pessoas das aldeias em redor da cidade, vinham em camiões militares, todos ao monte nas carrocerias de ferro, homem, mulheres crianças de todas as idades eram descarregados ao longo do caminho por onde passariam as personalidades.


Como eram muitos, chegavam bem cedo e sob o tal sol abrasador ali ficavam acompanhados pelos seus "inhaquaus" (chefes da aldeia), e  cantavam, batiam palmas, vibravam as línguas dentro das cavidades bocais provocando aqueles sons agudos, bem típicos de Africa.

Alguns escolhidos, rodopiavam num batuque demostrativo de suas danças, acompanhados pelo sonar dos tambores tribais.


Horas a fio, á fome e á sede, e se alguém perguntasse que estavam ali a fazer ou quem iria chegar para ali estarem sob aquele sol abrasador o dia inteiro, respondiam "mezungo unkulo".(senhor grande).


E lá chegava o enorme passaro de ferro que deixava muitos de boca aberta e até amendrontados, donde saía o tal “mezungo”, que não faziam a mínima ideia de quem poderia ser, mas recebia as honras militares, os cumprimentos pouco demorados devido ao calor, e saíam de carro, acenando aos presentes, dirigindo-se para  um local de ar condicionado no máximo, para saborear o excelente repasto preparado propositadamente para a ocasião.

O Povo, esse aos poucos  iam abalando para as suas terras em cima dos tais camiões,  mais mortos que vivos de fome, sede e cansaço, numa completa ignorância do que acabavam de presenciar, mas  para a qual a presença fora obrigatória.

E a noticia saía, " Recebido por centenas de pessoas, chegou a Tete sua Excelencia que muito agradado ficou com a recepção"....



Para terminar vejam este blog donde surrupiei estas fotos a amiga Luiza Ingá. Vale a pena para quem gosta de aviação.

1 comentário:

Manuela Gonzaga disse...

pois... a propaganda repete os mesmos gestos ao longo dos tempos. E sem o povo, a presença maçiva do povo, não ha espectáculo do poder.