Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

quarta-feira, 10 de outubro de 2012


……. Sentada no muro de tijolo vermelho caiado de branco no pequeno jardim junto ao rio, Maria tinha os olhos rasos de lágrimas enquanto o pensamento se perdia para lá linha do horizonte.
Fora ali, na rampa que dava acesso ao batelão que ligava as duas margens, que vira partir o sargento de corpo franzino, com olhos cor de mel que despertara em seu peito aquele tumulto que lhe entorpecia o corpo.
Passaram meses desde que se encontraram pela primeira vez.
 Ele, de calça “pie de poule” camisa impecavelmente branca e sapatinho engraxado, compunham a figura janota.
O “choque” do primeiro olhar acontecera nem sabe onde, talvez na rua ou no cinema e que a obrigou a baixar a cabeça sem contudo antes, deixar um tímido sorriso.
Um namorico a que não deram importância mas aos poucos a foi prendendo, com o jeito manhoso de quem estaria já habituado a conquistar as “miúdas” incautas.
Começaram os bilhetinhos passados às escondidas no escurinho do cinema, não com frases banais, mas quase sempre com um verso ou poema improvisado, que mais se tornava marcante:
Sem ti
A vida tornou-se indiferente para mim
A lua deixou de pratear meus sonhos
As longas noites agora são
Monstros medonhos!
O rio já não murmura,
A fonte secou!
O meu castelo de ventura
Acabou!
À noite gostava de adormecer
Ouvindo as aves chilreando segredinhos
Agora tudo acabou porque sem ti
O destino não quer que eu caminhe!
Escondia no peito, o papel que dobrado mil vezes acompanhava o bater apressado do seu coração.
E foi crescendo aquele sentimento indefinível que a idade o não permitia, e o primeiro beijo!
Seu pai á moda antiga que jamais sonhasse que um militar rondava a casa por causa da sua menina….
E neste vai vem de segredos viveram horas felizes, ate que o tal dia chegou.
Grande parada desfilando impecavelmente fardados como despedindo-se duma população que os acolhera aqueles meses todos, e partiram não sabendo se com saudade ou desejo intenso de partir e esquecer tudo que para trás ficara.
Mil promessas á partida, mas o que ficou…apenas as palavras sumidas num qualquer papel que relia para mitigar a dor.
E Maria num repente cresceu e com ela o primeiro desgosto de amor.


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