Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

domingo, 14 de outubro de 2012

As noites da cidade


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Estava quente o tempo, uma imensa nuvem de pó cobria a cidade, as obras da avenida nunca mais terminavam.
Aquelas “modernidades” do presidente da Câmara que se meteu na cabeça transformar a velha estrada que ligava o quartel á catedral, passando pelo Hotel Zambeze e Palácio do Governador, numa avenida imensa de duas faixas, deixava as gentes desesperadas.
Havia mesmo os mais extremistas, como o velho Gomes, e outros, que já circulavam pela cidade de mascara de gás no rosto, não para proteger do pó, mas mais como sinal de contestação.
Nem à noite assentava esse pó.
Era sábado, na cidade pacata poucos saem após o pôr do sol, apenas os mais novos já conhecedores dos meandros da noite se aventuram rua abaixo rua acima, comunicando com sinais de luzes, esperando que o grupo se junte para rumarem sabe-se lá onde.
Subarus, Karmanguias vermelhos, motas silenciosas rodavam pela avenida como que fazendo hora.
Daquelas bocas não havia quem tirasse palavra do que faziam ou deixavam de fazer, apenas á boca pequenina se ia ouvindo uns zunzuns imperceptíveis.
Iam aparecendo de brilhantina no cabelo, tresandando a “Old Spice”, cabedula vincada, camisa "casca de ovo", sapatos engraxados, armados em cavaleiros da noite e desapareciam juntos sorrateiramente.
Rumavam para os lados do “chimadzi” mais abaixo ou mais a cima onde jorrava as bazucas de 2M geladinhas e a “manacajes” de saia curta que prometiam o céu no inferno quente da noite.
Não eram grandes os bares, eram apenas casas pequenas normais onde num balcão de madeira coberto de “linoleo”, limpo milhentas vezes com um pano encardido, onde colocavam os copos e os pratinhos de petisco que eram automaticamente trocados por cheios, quando esvaziados, convidando a mais uma "geladinha".
Por de trás, na parede que já havia perdido a cor, as prateleiras onde se dispunham algumas garrafas de bebidas de proveniência manhosa, no entanto era das geleiras potentes compradas ao Chico Pipa da Cotur, que saíam as geladinhas cervejas, e laranjadas que ofereciam á meninas.
Musica alto, á boa maneira moçambicana, muita alegria e muita dança.
Corpos suados, roçando as coxas das meninas num frenesim da marrabenta bem dançada até altas horas da madrugada.
O nome que corria no tempo, “João Mainato”, não se sabia quem era apenas os noctívagos ou não, coscuvilhavam entre eles as aventuras da noite.
Ao certo apenas se sabia que na missa de domingo ninguém aparecia, sabe-se lá porquê!

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