Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Noites de Africa

gazela
Africa não foi fácil para quem a escolheu a como destino seu.
Zobué- Uma cantina nos confins do mundo.
Noites quentes, iluminadas pela luz fraca do velho petromax onde a família reunida acabara de jantar. .
Era hábito, sentarem-se na larga varanda colonial que dava para a rua, ao fresco que  a noite não tinha, de pano na mão para "enxotar" os mosquitos e conversarem. Apenas os ruidos da noite se ouviam, e a  dona de casa recordou que na dispensa ja  escasseava a carne, havia dias que comiam frango criado na capoeira ao fundo do quintal ou alguns enlatados cozinhados das mil e uma maneiras para render ao maximo.
O chefe de família, como sempre o fazia nestas ocasiões, decide tratar do assunto.
Chama pelo "ajudante" que ja estendido na esteira se preparava para o descanso, e diz-lhe que o acompanhe.  
Lanterna com a bateria presa no cinto das calças, foco de luz  na testa, preso por um elástico que circundava a cabeça.
Umas balas no bolso e a arma ao ombro.
Beijava as crianças desejando-lhes boa noite, afagava os cabelos da esposa e lá ia pela calada da noite á caça de um coelho ou outra peça de carne para alimentar as bocas no dia seguinte.
Entraram na velha carrinha que comprara há anos, e fizeram-se ao caminho por uma picada desbravada por ele e onde ninguém passava. Mais adiante, param e descem.
Embrenhavam-se no mato ali em redor ou mais longe, as micaias prendiam-se as calcas de caqui, e rasgavam-lhe a pele dos braços quando passavam. Nada a que não estivesse habituado.
Os sons da noites confundiam-se!
Pediam silêncio para não afugentar a caça, apenas o pisar das botas nos paus secos do mato se faziam ouvir.
Ao longe  o rugir do leão e o rufar dos batuques, quebrava o silêncio da noite.
Dirigiam o foco de luz para todo o lado na tentativa de conseguir localizar alguma coisa.
Já o suor lhe colavam a camisa ao corpo, e continuavam andar.
Num repente sente que a mão do negro lhe toca o braço:
Chiu, ali patrão!
Onde, onde...enquanto focava em direcção que lhe havia sido indicada.
Nada, não se via nada, e andavam mais e mais, optando por  momentos apagar o foco de luz e reduzir as passadas inclinado o corpo como que para se esconderem.
Os olhos foram-se habituando á escuridão da noite, e sobressaindo lá estavam o brilho dos olhos dos bichos .
Passope mezungo! (cuidado senhor), e caminhavam mais e mais devagar, até que levando a arma á cara ouvia-se os disparos.
M’sulo, (coelho) patrão. Caminhavam em direcção ao tiro dado, e la estava fazendo jus á pontaria, o primeiro de muitos que certamente nessa noite iriam caçar.
De repente, mais adiante talvez assustado com o barulho do tiro, outros olhos brilhavam, assustados saltitando de um lado para o outro, não havia tempo a perder, arma á cara e outro disparo.
Xi patrão, nkudo enkulo.
Acabavam de acertar numa gazela das muitas que  atravessavam para irem beber água que a chuva deixara retida ao "mecurro".
Estava a noite ganha, carregavam as caças e voltavam para casa.
Haviam andado horas nisto, ao chegar a casa ja todos dormiam, menos a esposa que á janela ansiosa aguardava o regresso .
Descarregam a carrinha, colocam as peças de caça penduradas em lugar seguro não fosse a quizumba vir ao cheiro do sangue.
Pela manha bem cedinho, ha que esfolar os bilchos e fazer a desmancha da carne.
Durante dias não iria faltar á mesa o belo bife de gazela mal passado na chapa em brasa, temperado com o tempero moçambicano onde  não faltava o piripiri, acompanhada da geladerrima cerveja que acalmava os corações e alegravam a alma naquela Africa inesquecível.


1 comentário:

Manuela Gonzaga disse...

Que belas memorias tu nos ofereces Mimi!!! Com léxico e tudo. Até trazem cheiro e sabor :)