Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

SÓ MUITO SÓ!


Todos os meus amigos sabem quase toda a historia da minha vida, pelo menos de como fui criada com todas as mordomias possíveis e com um espírito alegre como se o mundo fosse um mar de rosas.

Mas a vida foi mudando tal qual o meu sorriso foi desaparecendo apesar de ter que dar graças a Deus o que até hoje me tem dado.

Quando estou perto das gentes da minha terra a minha alma abre-se e volto a ter aquela felicidade que tinha, mas infelizmente nem sempre isso é possível.

Talvez a vida me esteja a dar momentos que nunca esperei encontrar e que me deixa só, imensamente só que muitas vezes sinto o rosto molhado por lágrimas que caem quase sem dar por isso.

Não sei se será depressão ou revolta por muitas coisas que tenho encontrado erradas, ou por responsabilidades que tenho a meu cargo quando deveriam ser repartidas.

Chego à janela e vejo pessoas com quase nada sorrindo e conversando sobre que tema seja, mas quando se despedem vão com um ar feliz.

Podem ter apenas o que colhem da terra para comer, que nunca tenham visto sequer o mar mas vivem felizes.

Quando se despedem repartem o que levam com o interlocutor, uma couve ou algo mais que levam.

Como as invejo por serem felizes à sua maneira, pobres mas felizes.

Nas festas religiosas reúnem todos os filhos mesmo os emigrados e sentado á mesa vão contando as peripécias nos países onde vivem, entre um português arrevesado e a língua do país onde vivem.

É uma mesa cheia de amor, saudades que aproveitam minuto a minuto, que se alegram com um copo de vinho na taberna, onde encostaram a barriga há horas e saem depois quase de gatas.

Penso muitas vezes se a culpa é minha ou desta gente que tem felicidade para esbanjar nesse dias.

Recordo então quando cheguei de Africa, na casa dos meus avós dormia num colchão de palha de milho cobertos com as mantas de trapos que no inverno nos aquecia.

A lareira enorme onde o fogo nunca de apagava e as panelas enormes de três pernas tinham diariamente o seu lugar marcado, uma com o comer dos animais outra com uma sopa de todos os legumes.

Com os meninos chegados de África a “trempe” de ferro onde apoiavam a sertã ou a panela para fazer o restante almoço.

E era naquele calor imenso que saía da lareira que nos aquecíamos, e deitávamos os olhos ao que se cozinhava.

Na rua havia sempre quem desse a saudação e parasse para dois dedos de conversa, mesmo que á cabeça levassem uma carga pesada de comida para os animais ou um molho de lenha.

E recordo essa gente  quando vou a aldeia, continua na mesma, os idosos sentados ao sol em bancos de pedra, sempre prontos a desenrolar um conto, os novos agarrados aos TM.

É delas que tenho ouvido tantas e tão lindas historias do antigamente, como dizem.

Tudo isto não passa de um desabafo perante uma imagem que encontrei na net, duas mulheres enchendo o colchão de palha onde certamente alguém descansará de um dia de trabalho.

É isto que me faz sentir só, muito só, apenas vendo os filhos e netos por pouco tempo pois os afazeres e a escola ocupam-nos, e a mãe a envelhecer.

E o frio que nos confina a um canto junto a  alguma fonte de calor.






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