Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

domingo, 7 de janeiro de 2018

A FOTO DO AMOR DE MÃE


Está frio, pois está há muito que esperava por ele.

Os outros anos chega na sua hora, bate à porta e entrando pela casa dentro sem pedir licença a ninguém metendo-se por tudo que é canto , frincha etc. vai ficando.

Desce que cá cheguei que me habituei a ver passar carrinhas e carretas cheias de lenha para o inverno, isso vem lembrarmos que ele não tarda esta por cá ou apenas haver pessoas que se precavem atempadamente.

Sinceramente começa cá em casa a ladainha:
já encomendaram a lenha para o Inverno, é que depois vem verde e molhada.

A seguir este conselho em Junho,Julho já tinha uma resma enorme de cavacos arrumados no sitio do costume ou seja na garagem.

Bolas mas este ano não houve ladainha, e quem se lembrava de mandar vir lenha num tempo quente de pleno Verão.

Pois ninguém, apenas alguns que iam dizendo que iríamos pagar esse verão tão comprido com “língua de sete palmos” expressão muito usada cá por cima.

E não é que foi mesmo assim, começa o outono depois o Inverno e tanto havia dias de calor tórrido, como dias mais frescos.

Mas quem manda é a natureza, e agora chegou a serio mesmo apesar de em dias como o de hoje o sol teimar em dar um ar da sua graça, mas tão fraquinho que serve apenas para termos saudades dele.

Ou será que vem rir-se dos bons dias que nos aqueceu e agora faz frio?

Na verdade agora faz mesmo frio, aquele frio que entra devagarzinho e nos gela até aos ossos, aquele frio que repassa seja que roupa for, e de noite nem se fala.

Mantinha de lã nas pernas, xaile pelas costas quase em cima da lareira, tal qual as velhinhas dos tempos idos, que sentadas num banco iam esfregando as mãos e perdiam o olhar nas labaredas do fogo tal como estátuas perdidas no tempo, ou tricotando meias de lã de ovelha que calcavam por de dentro da tamancas.

Aos pequenitos enrolavam-nos no xaile bem contra o seu peito para estarem quentinhos enquanto dormiam.

Na verdade hoje em dia muito mudou, e já se mexe uma pessoa pela casa aquecida fazendo mil coisas ou sentadas descansadas enquanto se lê um livro, ou a tricotar uma camisola para o neto.

Vendo bem, tirando as condições do frio no inverno, por cá continua-se lendo ou a fazer o tricote enquanto corre a novela na televisão.

Este ano optei por ler, coisa que acho que faz muita falta, e por vezes se esquecem de fazê-lo.

Um livro que já havia lido há muito tempo, mas já a historia de desvaneceu e voltei a pegar nele para ler.

Numa das paginas talvez servindo de marcador nos tempos idos quando o li pela primeira vez espreita-me uma foto antiga que aqui vou partilhar com os meus amigos..

Estive imenso tempo a olhar para ela, recordar velhos tempos , os lugares onde estava até mesmo a cor das roupas que vestíamos, e nem sei que a tirou.

Chamei-a a foto do amor de mãe.

Garanto que todo o frio passou, até aquele gostinho do calor daqueles tempos de Africa, senti.

Pois tal como as velhinhas de outrora perdi-me a olhar a foto como se eu deixasse de existir por estar algures noutro lado.






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