Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Kudeca



Como cantava Rita Lee:-

No escurinho do cinema
Chupando drops de anis
Longe de qualquer problema
Perto de um final feliz

Não havia drops de anis, mas existia tudo o resto.

Quem nunca namorou no escurinho do cinema, agarradinhos de mãos dadas, trocando palavras doces e promessas de amor.

Namorava-se sim, e muito pois à época as liberdades eram condicionadas, nem perto nem de longe comparado aos dias de hoje.

Mas havia sempre uma maneira de resolver, ora procurando um cantinho mais resguardado dos olhares curiosos, ora no club de cima ou no jardim do rio junto as escadas ou por detrás da mãe de Agua.

Eram momentos inesquecíveis, mas temíveis pois entre um carinho e outro a guarda montada nas surpresas que pudessem aparecer.

Mas era no escurinho do cinema onde melhor se namorava, trocavam juras de amor eterno e até beijinhos e caricias.

Depois veio o cinema ao ar livre, de nome KUDECA, coisa interessante uma ideia genial para muitos que se prezavam de o frequentar no calor abafado do fim da noite.

Ecrã gigante e cadeiras pouco confortáveis, num ambiente “muito claro” iluminado pela lua e pouco reservado sem privacidade nos bons momentos do “filme”.

Com desculpas várias, era mais frequentado pelos mais velhos cujo interesse era apenas a trama cinematográfica e a conversa com os parceiros do lado, ao que a juventude se desculpava com os barulhos vindos do exterior, talvez algum jacaré cinófilo vindo do vizinho rio Zambeze.

Não vingou e foram passando os anos, acabando por ser eliminado da paisagem da cidade por razões várias e em seu lugar ergueram um esplêndido hotel.

Não se gostava da obra mas deixou saudades a muitos.

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