Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

sábado, 20 de junho de 2015

40 anos de Independência.

Pois estamos quase a fazer 40 anos de independência de Moçambique.

Muito se tem falado ao longo deste anos, uns com uma raiva e racismo imenso, outros com imensa saudade.

E por isto dei comigo a pensar em muito que vi acontecer nos tempos que ali vivi, apesar de abranger uma infância e adolescência de vivência com todos independentemente da raça ou credo.

Do tempo dos chamados colonialistas, incluíam todos os brancos que ali viviam no entanto, havia os realmente colonialistas e os que já ali tendo nascido era apenas naturais de moçambique cujas mentalidades já haviam mudado com o tempo.

Realmente houve uma classe de gente que tratava os como escravos, não havendo respeito pelo ser humano que apesar da cor era gente como eles.

Recordo por exemplo aqueles que tinham plantações de chá, na altura da colheita carregava grandes cestos as costas muitas vezes presos com uma correia á cabeça para equilibrar o peso dos mesmos. 

Algumas vezes os filhos dos patrões metiam-se dentro deles obrigando-os a carrega-los em corridas e nas brincadeiras do dia-a-dia, após um dia inteiro de trabalho, se o não fizesse eram extremamente castigados.

Os mais espigadotes quando as feromonas andavam aos saltos, quem pagava eram as jovens negras que se fossem apanhadas a caminho do rio ou de outro local qualquer, eram violadas e abusadas entre risos de escárnio.

E não só por jovens mas por qualquer branco pois se achavam no direito de tudo poderem fazer.

Recordo uma ocasião de estar em casa de alguém e o criado vir chamar a senhora da casa pois tinha gente lá fora que queria falar.

Curiosa como toda jovem fui espreitar. 

Cena triste que me ficou gravada na memória até hoje:
Um pai acompanhado da filha com pouco mais de 15 anos que havia sido violada pelo “mezungo” na noite anterior, um velho já de muita idade, talvez podendo ser avô dela no entanto tomara-a como seu dono. Ele tinha fora da cidade uma “machamba” e gado onde passava muito tempo, onde se faziam grandes patuscadas e se bebia até caírem.

O pai apenas pedia o “lobolo” (segundo a tradição, a família da rapariga recebe dinheiro pela perda da virgindade da filha).

Abusavam sim de todos negros que pelo medo, pobreza ou sei la do quê a tudo se calavam pois o contrario poderia ser a morte deles ou da família.

Quanto mulatos filhos destas relações ficaram por lá espalhados sem que os reconhecessem como filhos?

Talvez alguns se lembrem de uma surda-muda, com um atraso mental que vagueava pela cidade, dava pena, no entanto apesar de tudo um belo dia pareceu gravida e deu a luz um lindo menino loiro de olhos azuis. Dizia-se que fora um militar que fizera aquilo, então porque não ajuda-lo a criar.

Mas não, andava a pobre pela cidade com o filho as costas na maior miséria até que desapareceu.

Tudo servia para ser utilizado por esta gente sem coração.

Há dias ouvi numa televisão, alguém a falar sobre o relacionamento que havia tido com uma “lavadeira”. Dizia então que em pouco tempo estava a viver com ela na palhota, e justificava esta “paixão” pela solidão que tinha e sabia bem receber o amor de alguém.

Pois sim e o resto da historia? Quando partiu no fim da comissão descartou esse “amor” certamente com algum filho por já não tinha utilidade alguma.

Não falando dessa guerra inglória terminada abruptamente por uns vendilhões da pátria.
Morreram muitos soldados é verdade mas também muito civis inocentes
.
Vejamos o Wiriamo, Moeda etc. quem se recorda, da chacina a velhos e crianças mulheres gravidas que morriam queimadas dentro das palhotas incendiadas pelos militares?

Ouvi alguém relatar o modo como em Mueda faziam, atiravam uma granada para dentro da palhota e era ver tudo a voar!

Tantas mulheres violadas em frente aos maridos e filhos, depois acabavam com uma rajada geral.

E faziam-nos porque acolhiam os turras, pois mas se o não fizessem morriam também.
Sei também que houve terríveis chacinas aos brancos em especial aos que viviam no mato em cantinas, pois o opio das guerras faz isto.

E muitas mais histórias horríveis ficaram para trás.

Mas de tudo isto e muito mais, que fique arquivado na memoria, AO FIM DESTES 40 ANOS, que se respeite a independência , porque a outra face da moeda, foi permitida pelos senhores do acordo de Lusaca etc.

Perdemos tudo, é verdade dessa história já muito se falou. 

Eu própria estou incluída nos que trabalharam toda uma vida e ficaram sem nada e que tive um pai que morreu de tristeza e saudade da sua terra Moçambique
.
Mas a culpa foi que uma independência mal feita, pois de outro modo poderíamos ainda estar naquelas terras onde nascemos.

Más recordações trago hoje aqui, eu sei mas muita saudades daquela terra também.





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