Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

domingo, 19 de janeiro de 2014

O homem de D.Emilia

imagem da internet

O homem de D.Emilia, de estatura baixa e forte com uma barriguinha proeminente vestia cabedulas de caqui e camisa branca quase sempre apertada apenas com um botão pois o clima assim o obrigava.

Na cabeça um velho capacete que lhe dera um amigo quando da sua chegada a África dizendo que por ser forrado a cortiça era mais fresco para os dias que iria enfrentar futuramente.

Nos pés uns sapatos leves que noutros tempos havia sido de uma cor definida e da qual já pouco se via mas que não tirava dos pés com a desculpa que esses não lhe davam cabo dos calos. As meias, essas chegavam aos joelhos sempre o protegiam da micaias e outros capins que lhe roçavam as pernas quando caminhava pelos matos.

Afastado da casa havia plantado um pomar de laranjas e maças, um campo de legumes e outras leguminosas que consumia em casa e vendia na loja.

Os molhos de couve atados com uma “cambala” bem como o feijão seco tinha saída pois era a base da alimentação das gentes locais.

Fosse por que razão fosse, era um motivo válido para sair pela manhã acompanhado dum trabalhador de casa e caminhar uns bons quilómetros por carreiros de terra batida, até á machamba.

Por ali se entretinha até a hora do almoço, quando o calor apertava e a hora do almoço chegava.

Á quarta-feira não o fazia, ficava a espreita quando qualquer ruído que lhe parecesse ser de carro o fazia sair até a varanda perscrutando o horizonte na esperança de ver chegar a carreira.

Vinha de Tete, conduzida pelo velho Matos, trazia gente levava carga e mais importante era portador do correio, dos jornais e das novidades da cidade.

Uma paragem pequena porque o caminho era longo, mas havia sempre uma refeição ou um bom petisco a sua espera.

Em frente a loja havia uma enorme mangueira onde se amontoavam as gentes com seus “catundos”, cabritos e cangarras de galinhas que o ajudante arrumava no tejadilho e o transportava para um qualquer destino.

Um dia sentiu-se mal, fosse da algo que comeu fosse do que fosse não se levantou pela manha. D.Emilia parca em recurso médicos, agarrou-se aos chás curativos que sempre funcionaram, mas desta vez tal não acontecia.

Na manha seguinte pediu ao Jose que trabalhava há muito lá em casa que pegasse na ginga e fosse em busca de ajuda ao posto medico.

Era o pior que poderia acontecer a quem vivia nas cantinas por aqueles matos, numa emergência pedia-se a ajuda algum cantineiro próximo e a espera nem sempre corria bem.

E assim aconteceu, foi tarde e inesperadamente D.Emilia fica viúva.

Apesar do desgosto, manteve-se à frente da vida, gerindo a cantina e a vida como antes havia acontecido.

Regressar estava fora de questão, ainda trazia na memória as dificuldades da vida que deixara em Portugal.

Passou a ser a conhecida como a cantina da viúva, e a vida continuou mais solitária ainda, e contando sempre com a amizade das gentes das cantinas vizinhas e o respeito das gentes locais.   

  

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