Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

sábado, 5 de setembro de 2015

MBIRA talvez.


Hoje acordei ao som estranho de um ritmo cadenciado, sonhei talvez ou quase certo pois já o não ouvia há muitos anos.

Uma figura de costas curvadas, sentado em uma pedra no terreiro da aldeia indígena que rodeava a frondosa sombra da árvore secular onde se reuniam os antigos quando da resolução de alguma lei local ou "milando".

Pois essa figura de "cabedulas" encardidas e camisa já rota sentara-se só tendo entre as mãos um instrumento não muito conhecido pelos Europeus, e fazia a sua música de olhos postos no infinito como se tivesse sido transportado para longe, muito longe dali.

O ritmo era cadenciado mas repetitivo, no entanto melodioso acompanhado pela voz do tocador que mais se assemelhava a um lamento.

E talvez fosse ou apenas a cadência de um viver a que já se acostumara naqueles matos.

E passava horas naquela ausência até que algo ou alguém o interrompesse.

Dei a volta para olha-lo de frente, ver que instrumento emanava tão doce melodia, eis quando ele acorda do seu entorpecer e se levanta rapidamente.

Assustado ou talvez não pois eles sempre o faziam quando algum de nós de aproximava, talvez mais por respeito, ainda hoje não sei.

Pois na mão o tal instrumento, feito por ele mesmo base de madeira e farpas de metal trabalhadas para que emitissem as notas precisas quando o tocassem.

As caricas de laranjadas também ali eram pregadas, pelo motivo de melhor som ou só por “chibante”. A ampliação do som era colocar o instrumento dentro de uma cabaça seca, enquanto tocavam.

Não recordo o nome deste instrumento, mas penso que se chamaria “Mbira”.

Perguntei o que tocava e como mas o seu silêncio levou-me a pensar que não seria ele a tocar mas alguém de outro mundo tal era o seu subconsciente.

Era usual os homens tocarem bastas vezes, sós ou acompanhados quando o tempo lhes tomava a alma e descansavam o corpo.

E pela noite fora, a música misturava-se com o silêncio dos sons do mato e adormecia neste embalo.

Como se toca, não sei mas tenho um instrumento destes pendurado na minha sala.

Dele jamais sairá música alguma mas fica a recordação dos dia e das noites que os ouvia tocar.


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