Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

sábado, 12 de abril de 2014

A QUEIMADAS

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imagem da internet


A noite era longa, o calor sufoca, da minha janela via-se ao longe no escuro, uma linha de fogo baixo lambendo os campos agrícolas.

Quase se vislumbrava os imensos insectos que voam por cima desse vermelho num dançar de morte acordados pelo calor numa tentativa de fuga.

Limpava tudo, as bichezas as ervas daninhas deixando uma camada de cinza que ira fertilizar a terra.

E passa tudo de sujo a limpo, num fogo que dizem perigoso mas necessário.

Não fazia mal, pois pela noite os deuses controlam tudo, afastam os animais do perigo enquanto sopram os ventos serenos até que pela madrugada entregam ao cacimbo da noite a sua extinção.

Pela manha apenas cinza ainda quente descansa sobre a terra.

E era assim, todos os anos queimam o capim dos campos, na certeza de um novo e melhor ciclo de vida.

Seguindo os usos antigos arreigados dentro do meu peito gostaria também de queimar o “restolho” que fica na vida, das ervas secas e daninhas que secam o corpo definam a alma, e que á noite esse fogo baixinho limpasse todas as maleitas, deixando pela madrugada uma esperança nova.

Porque

Hoje não sou a mulher forte

A que tudo enfrenta dia a dia

Tenho dentro de mim a alma vazia.

Procuro a força na noite escura

E nos xicuembos do meu país.

Fecho os olhos ergo os braços

Peço ao molungo que me envie

Pelo som dos seus tambores

E dos batuques da minha terra

As forças precisas para viver!

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