Domingo, diferenciado pelo dia de descanso, da missa
dominical, das tardes no café na jogatina ou apenas deitando conversa fora.
Esta manhã, reparei num individuo, aperaltado de camisa lavada
cabelo bem penteado, de mãos nos bolsos caminhando para a missa.
Assobiava pelo caminho, uma qualquer melodia mas de cara alegre
e olhos brilhantes transmitindo uma felicidade enorme, la ia feliz acompanhando
os passos com o assobio.
Sorri pois já há muito não via alguém de ar sereno assobiando á
vida num hino de alegria.
O assobio era das coisas que se aprendia de menino, poucos eram
o que não sabiam faze-lo.
Ou como instrumento de musical, ou como meio de chamamento ou
até elogio a quem passava.
O sopro afinado a encher as ruas misturando-se com
os barulhos da cidade, destaca-se pela sua melodia.
Era diferenciado das mais inúmeras maneiras de se ouvir, uns
mais trabalhados outros imitando o piar dos pássaros, outros de sons
combinados.
Todos sabiam assobiar, e neste contexto recordo muito da minha
vida.
Os namoricos que na calada da noite resolviam chamar atenção,
ouvia-se o silvo especial que fazia a pessoa a quem era dirigido, de imediato
assomar a janela a perscrutar na escuridão da noite a silhueta da pessoa amada.
Meu pai que era de poucas palavras, nunca falava alto, para nos
chamar usava o assobio, um num som bem especial que conhecíamos á légua.
Quando o ouvíssemos era de imediato que aparecíamos, e nos
bailes quando a hora de regressar chegava, era um tocar a recolher sem dizer
palavra.
O assobio, esse modo de comunicar antigo que com o tempo foi
esquecido.
Talvez mesmo já nem apeteça assobiar, porque este acto vinha do
fundo da alma, transmitia o seu estado de alegria e despreocupação.
Hoje a tristeza abafou essa vontade, mais cedo ou mais tarde,a
vida voltará a ser tal como o canto de uma ave, leve, breve, suave.
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