Que meus filhos e netas recordem o meu amor pela escrita! Afinal as histórias são feitas para serem partilhadas. Só assim elas se propagam e se perpetuam...

sexta-feira, 15 de março de 2013

O embondeiro que caiu


Caiu um embondeiro em Tete.

Foi derrubado porque muito provavelmente o objectivo era comercializar a sua madeira, muito embora muitos digam que essa madeira não serve para trabalhos de carpintaria. Uma notícia que deu que falar e ultrapassou as nossas fronteiras.

Tenho conhecimento de protestos de associações e/ou pessoas singulares vindas de diferentes quadrantes, por onde a notícia se espalhou rapidamente que se interessam pela preservação da natureza.

Sobrevivência... a quanto obrigas?

Quem cometeu esse “crime” se calhar não teve em consideração que o embondeiro é considerado uma árvore sagrada, inspirando poesias e ritos. Segundo uma antiga lenda africana, se um morto for sepultado dentro de um embondeiro, a sua alma irá viver enquanto a planta existir. Também se diz que a alma dos mortos se pendura nos seus ramos. Curiosamente, essa árvore tem uma vida muito longa, podendo chegar até seis mil anos. Só a sequóia e o cedro japonês podem competir com a longevidade do embondeiro. Cabe salientar que esta planta foi amplamente divulgada no século XX, através da obra “O Pequeno Príncipe”, do escritor francês Antoine de Saint-Éxupery.

O seu nome científi co é Adansonia Digitata, mas é também conhecida como Baobá Africano. O embondeiro possui um tronco muito espesso na base, chegand atingir nove metros de diâmetro.

O seu tronco vai-se estreitando em forma de cone e apresenta grandes protuberâncias. As folhas brotam entre os meses de Julho e Janeiro. Em geral, o embondeiro floresce durante uma única noite, apenas no período de Maio a Agosto.

Durante as poucas horas da abertura das fl ores, os consumidores de néctares nocturnos, particularmente os morcegos, procuram assegurar a polinização da planta.

Normalmente o embondeiro cresce em zonas de clima tropical. No nosso país o embondeiro pode ser visto em diferentes regiões das provincias de Manica e Tete.

Tudo no embondeiro serve para a sobrevivência do ser humano. Vale ressaltar que esta árvore também se constitui numa fonte preciosa de medicamentos.

As suas folhas são ricas em cálcio, ferro, proteínas e lípidos, para além de serem usadas como um poderoso antidiarreico e para combater febres e infl amações.
Um pó feito de folhas secas vem sendo utilizado para combater a anemia, o raquitismo, a disenteria, o reumatismo, a asma, e é usado, ainda, como um tónico.


Em certas zonas de Moçambique o tronco desta árvore é escavado por carpinteiros especializados para servir como cisterna comunitária. O seu fruto é denominado múcua. Em Tete este fruto recebe o nome de malambe, uma palavra da lingua xinyungwe.

A casca do fruto é utilizada pelas pessoas como tigelas. A polpa e a fi bra dos seus frutos são capazes de combater a diarreia, a disenteria e o sarampo.

O cerne da fruta combate a febre e infl amações no tubo digestivo; as sementes estão repletas de óleo vegetal, podendo ser assadas, moídas e consumidas como uma bebida que pode substituir o café.

Em Tete, por exemplo, diz-se que o sumo do fruto do embondeiro é um produto afrodisíaco. Há quem chegue a fabricar yogurte, a partir do malambe.

Por tudo isto ... porquê derrubar o embondeiro?

Em muitos países derrubar um embondeiro é um sacrilégio
Quarta-feira, 13/03/2013 5 Correio da manhã Nº 4033



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