Hoje deu-me a saudade,
saudade dos tempos felizes que vivi num país que hoje é um mero
sonho, um país que me recebeu de braços abertos, onde nunca me
lembro de deitar uma lágrima, apenas sorrisos e muita felicidade,
onde o tempo passou depressa demais , mas aproveitamos ao máximo a
estadia nele.
Hoje, um país á deriva
tomado por ódios racistas, onde andar na rua é um perigo, onde
deixaram degradar tudo numa cidade que chamavam a Suiça Africana, o
que me deixa muito triste.
Éramos tão novinhos, dois
filhos pequenitos que iniciaram a escola nesse altura, com toda a
segurança.
Fardado o meu filho parecia
um homenzinho, enquanto a pequena brincava em casa às senhoras pois
a idade ainda era pouca.
Cidade onde dei aulas no
Colégio Português, onde aprendi a falar melhor o inglês tirando
cursos no Speciment College que mais tarde muito me serviram.
Tinha uma casa linda, com um
jardim relvado onde as crianças brincavam, uma casa sempre aberta
aos amigos que precisavam de ir ao medico ou para outros fins.
Tinha amigos portugueses
vizinhos que fugiram à pressa, amigos que jamais esquecerei.
Os Simas, Os Matias,Os
Borges, a Violante etc heróis que na dificuldade de arranjarem emprego
não se puseram a chorar mas sim foram a vida, em casa com a
ferramenta que possuíam fazendo o que nunca imaginei que pudessem
fazer e venderam as patentes ao país, chegaram mesmo receber
louvores do Governo desse país.
Era por estas casas que á
tarde lá estava para conversar, fazer tempo que o marido chegasse a
casa.
Um dia iludidos vendemos
tudo e viemos para este País.
O sorriso desapareceu dos
nossos rostos, passamos ser uns zé ninguens a quem chamavam
retornados culpados de todos os males que aconteciam, usurpadores de
empregos, os tudo, e mais algumas coisas.
Voltei a terra da felicidade
e a vida sorriu-nos novamente, passamos a morar numa "flet"
pequenina mas mesmo no centro da cidade, junto a embaixada onde
trabalhava e ao jardim publico onde
á tarde as crianças
tanto brincavam.
Passaram tempos e quis o
destino que tivessemos novamente que voltar, as bombas estoiravam
nos marcos do correio, deixou de se poder andar na rua descansados,
mais uma vez fizemos as malas e regressamos.
Meu marido já tinha emprego,
longe de casa é certo mas para inicio de vida era uma benção.
Mais tarde arranjei também
um emprego num escritório de uma fabrica de borracha cujos donos eram
retornados mas longe da cidade também.
E por aqui ficamos, numa
luta para esticar o dinheiro, apertando o cinto até ao ultimo furo,
mas aos poucos conseguimos, fazer a nossa casinha , e mais tarde
formar os filhos.
Foi duro mas vencemos, com a
ajuda de Deus conseguimos hoje uma vida boa, só o meu sorriso se
perdeu por esses caminhos da vida.