Foi
há muitos anos, anos de felicidade de jovens colonos que chegaram a
terras de África desconhecendo tudo, os usos e costumes,
jovens que saíram da Metropole para se juntarem aos maridos, algumas
após um casamento por procuração, conhecendo os maridos apenas
quando chegaram junto deles após 30 dias de navio.
Em
redor mato, apenas mato sem ninguém conhecido nem amigas, e aos
poucos foram-se conhecendo. Trocavam segredos, aprenderam a tratar
dos filhos sem que ninguém as ensinasse, algumas tinham inclusive os
filhos em casa, umas com as outras foram-se apoiando para conseguirem
vencer os dias solitários e desconhecidos que tiveram.
Ao
domingo juntavam-se, sempre de olhos nos pequenos iam trocando
ensinamentos de costura, malha, crochet que lhes fazia companhia nos
tempos livres da semana, enquanto punham a conversa em dia.
E
eram amigas, diria mesmo como irmãs apesar de pertencer cada uma a
seu canto do mundo.
Olhando
para mais esta foto que encontrei no meu baú, recordo todos tal foi
o tempo que durou esta amizade, e alguns de nós ainda nos vemos de
quando em vez, mais pena tenho de alguns que já partiram apesar de
tão novos.
A
D.Gina Seiça, ainda sem filhos, mais tarde minha vizinha no Moatize,
bastava atravessar a linha do comboio e la estava eu.
A
minha mãe segurando a minha irmã e em frente a ela eu com duas
trancinhas e dois laçarotes no cabelo.
Depois
a D.Carolina Cravo, onde eu me encontrava sempre que desaparecia de
casa ao ponto de certo dia montar a mota do marido e ela cair-me em
cima. Mas adorava brincar com as 2 filhas que tinha.
A
seguir a minha madrinha Mimi Costa tendo ao colo o mais novo Carlitos
e as filhas que estão a meu lado Esquerdo a Susete e do lado direito
a Odete. Falta aqui o Fernando e a Marilia que estariam a brincar ou
longe dali para não aparecer na foto.
Reparo
no sorriso de todas, felizes lutadoras que viviam longe de tudo mas
fizeram vida.
O
tempo encarregou-se de as separar, ficando no Zobué apenas a minha
madrinha as outras três foram morar para Moatize, que na altura
tambem era meia dúzia de casas da Companhia Carbonifera e outra meia
dúzia no Moatize centro.
A
vida que estas mulheres levaram em constante mudança com os filhos
atrás sempre começando nova vida e sempre se sorriso aberto.
O
destino também colocou as três como vizinhas em Moatize, teve o
cuidado de as proteger deixando que não se separassem, até
aprenderem a voar cada uma para seu lado.
Tempos
difíceis, no inicio da vida, e que todas recordam com saudade, estas
e outras mulheres de garra que agarraram o futuro com unhas e dentes.
Era
a vida em Africa.
Nota: Ainda há filhos destas senhoras espalhados por ai, espero ter dado aqui uma foto das mães para recordarem.