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Em Portugal, a miséria em que vivia
grande parte das gentes num interior esquecido onde o povo nem
sabia escrever o nome mas muito sabedor de todas as manhas da terra que
labutava de sol a sol, desesperava olhando para os filhos que pediam pão e nada
tinha que lhes dar.
A pobreza era extrema, já não eram chamado para as jornas, do bocado de terra que tinha seu apenas tirava as
batatas e as couves que mais não davam para fazer uma sopa e matar a fome.
Mirravam as esperanças, valia-lhes a
generosidade dos que também tendo pouco partilhavam com quem tinha ainda menos,
e lhe dava um alqueire de farinha, para fazer o pão no velho forno da aldeia.
Não rara era a vez que de olhos
esbugalhados as crianças esfaimadas olhavam para um naco de broa que outros
traziam no saco da escola.
Os invernos chegavam, o desespero e a
família obrigavam a pedir ajuda para emigrar.
Recorriam a outros que já emigrados por
terras de Africa os convidavam a aventurarem-se num desconhecido.
E aventuravam-se por esse mundo fora,
atravessando os mares durante dias intermináveis, uma trouxa com uma muda de
roupa, na algibeira pouco dinheiro que lhe for emprestado, no coração tão
grande a saudade como a esperança num melhor futuro.
Trinta e tal dias de mar que o balançar
do barco quase o matam. Revolta-se-lhe o estomago o cheiro nauseabundo do catre
onde dorme mais uns quantos homens deixa-o doente.
Júlio e Luís travam-se de conhecimento,
um viera dos lados da Guarda outro mais lá para cima da zona minhota.
Nenhum
sabe ao que vai, apenas embarcaram numa aventura combinada com alguém que
prometera ajuda-los.
As conversas giram sobre o que diziam da
fartura daquelas terras que produzem, duas vezes ao ano, seriam um constante no
semear e colher. A esperança anima-os.
Por fim avistam terra, conforme se
aproximam o calor é sufocante, mas a paisagem luxuriante.
Á chegadas separam-se, despedem-se e
cada um segue seu destino.
Espera-os quem os transporta, Júlio segue
para a cidade do interior, Luís ainda fica no cais quando Júlio já se faz ao
caminho.
Viaja com um desconhecido incumbido de o
esperar, e passa mais um dia de carro sobre um calor intenso e a fome apertar.
Vai ouvindo histórias de animais
ferozes, das gentes locais etc.
Pelo caminho apenas terras de perder de
vista, secas por cultivar, gentes seminuas, eles de calções e tronco nu elas de
capulana cobrindo “as vergonhas” mas de peito ao léu, crianças brincando ou
chorando nas costas das mães.
Vai ficando assutado com o que vê
instalando-se a dúvida se seria a melhor coisa que fizera deixar a miséria por
aquilo que ia vendo, até que o cansaço toma conta dele e adormece entre o
barulho do carro e os solavancos da estrada.
Ao anoitecer chegam a Tete, Manuel
recebe-o com um ar de quem está feliz por aquelas terras, leva-o para uma onde
mora, bem modesta, mas depois da refeição quente e dum banho macua, sente-se
melhor.
Enquanto isso vão conversando, e explica
que iriam para o Zobué, no dia seguinte onde ele ficaria a tomar conta de uma
cantina.
Já quase não ouve o que lhe dizia Manuel
cabeceia sobre a mesa até que o manda deitar-se.
Pela manha tomam o matabicho e saem para
carregar a carrinha de bens que irão fazer falta, e partem para o destino.
Horas depois chegam ao local, para Júlio
um lugar que o assusta, apenas negros o rodeiam, uma casa pequena com uma loja
longe de tudo, perdida no interior desconhecido, entregue apenas á sua sorte.
Pensa mais uma vez da mulher que deixara
na Metrópole e chora.
Sente-se num beco sem saída.
Nesse dia Manuel fica com ele para lhe
ensinar como gerir tudo aquilo, e á noite sente medo do escuro e dos sons da
noite, dentro de casa apenas a ténue luz do petromax, mas é assim que terá que
se habituar.
O trabalho não é duro como aquele a que
vinha habituado, mas ainda se não habituou a ideia de como iria viver naquele
fim do mundo.
Aos poucos vai-se habituando, aprende as
artes de como lidar com as gentes que o rodeiam, á comida que o rapaz que toma
conta de casa faz, e aos dias infindos que vão passando.
Já pensa em mandar vir a mulher, mas
primeiro terá que pagar a divida de quem lhe emprestou o dinheiro para a
passagem do barco, e deixa o tempo passar.
Apenas via um branco quando algum carro
passava, e sabendo que havia gente nova na no local paravam para cumprimentar,
iam dando conselhos de como se proteger do ambiente pois como diziam os negros,
ele parecia batata nova com a pele tão branca, o que já lhe valera umas queimaduras.
E o tempo ia passando!