Luizinha foi uma menina que nasceu em berço de ouro, desde
pequenina tinha em seu redor tudo que queria, bonecas vindas de Salisbúria as
mais lindas que se possa pensar, as roupinhas mimosas e em seu redor sempre
cheia de brinquedos novos.
Eram os tios os avós e amigos da mãe que a mimavam com tantas
coisas, a ela e ao irmãozinho que tinha apenas a diferença de três anos.
Viviam num país maravilhoso onde já sua mãe nascera e fora
criada, ao seu lado sempre alguém que olhava por ela, fosse o macaiaia ou mais
tarde a nani de quem tanto gostava.
A vida obrigou-nos a partir num belo dia para um desconhecido
deixando tudo para trás, levando apenas e só o pouco que connosco podiam levar.
Mas a primeira saída não foi má pois um país maravilhoso os
acolheu, e os manos conheceram outra realidade onde apesar de tudo foi um
começo de vida e aprenderam a valorizar cada brinquedo que recebiam estimando-o
muito.
Um dia quis uma boneca e o irmão uma pistola iguala tantas outras
que deixara no cesto de brinquedo em Moçambique. Eram crianças, mas as posses
eram poucas e os dólares eram contados para aquele início de vida.
A vizinha, uma senhora portuguesa e marido grego, família Mikalaquis
costurava para fora e sabendo da habilidade da mãe para a costura ia dando os
restos de tecido.
Com muito amor a mãe fez uma boneca de trapos que ficou linda,
com cabelo em lã que atava em duas tranças uns olhos azuis e boca vermelha bordado
preceito.
Quando terminada, Luizinha abraçou-se a ela e não mais a largou,
era a companheira de brincadeiras todos o dia, chamava a “mona”
Ao irmão numa tábua de caixa de fruta foi desenhada e esculpida
uma pistola que com ela apontava a tudo como via nos filmes da televisão.
O pai quando chegou a noite emocionou-se ao ver alegria dos
meninos ao mesmo tempo que dentro de si se instalou a revolta de não poder
sequer comprar um simples brinquedo a seus filhos.
Ora no fim do mês quando recebeu o vencimento, não foi directo a
casa mas passou numa lojinha e comprou uma boneca de borracha perfeitinha com uma
roupinha cor-de-rosa e ao menino uma pistola como ele sempre sonhou.
Ao chegar a casa receberam os brinquedos agradecendo efusivamente
com beijos enquanto pendurados no pescoço do pai.
Certo é que não largaram os brinquedos que a mãe lhe havia
feito, apegaram-se a eles como se tivessem sido comprados na mais cara loja da
cidade.
Como companheira de brincadeiras no pequeno pátio do
apartamento, brincava a filha do guarda que tinha a mesma idade que Luizinha, e
criança que era olhou triste para a menina que não largava a “mona” apesar de já ter
outra boneca.
Cuidadosamente a mãe foi convencendo-a que agora já podia dar a “mona”
a outra menina pois já tinha duas bonecas. E assim foi a boneca de trapos
passou para as mão da outra pequenina que a trazia cuidada todos os dias para
brincar com Luizinha.
E a vida continuou a surpreender, e quando já estava tudo estabilizados
naquele país onde os meninos já iam á escola, eis que uma manhã uma bomba
rebenta junto á casa.
Havia sido posta no marco do correio, os vidros das casas em
redor partiram-se e o medo instalou-se.
Era o problema de todos que com crianças temiam pelo que pudesse
acontecer, pois eles mesmo havia chegado da rua onde tudo aconteceu, e regressaram
a Portugal.
As crianças não largaram seus brinquedos e trouxeram no avião
com eles, mas para tristeza do irmão a pistola foi confiscada colocada num saco
de plástico e entregue ao comandante para que á chegada a entregasse ao
rapazinho, mas ele ficou desconfiado e passou toda a viagem a perguntar quando chegavam
ao destino
Efectivamente á chegada a hospedeira entregou intacta a pistola
que se apressou a guarda na carteira da mãe não fosse ela desaparecer
novamente.
Nova vida começou em Portugal, os mesmos caminhos as mesmas
dificuldades ainda com o rótulo de “Retornados”.
Mas a luta continuou e foram em frente, e aos poucos foi tudo
novamente estabilizando.
Numa feira , Luizinha apaixonou-se por um carrinho de bebe para
a sua boneca, e dentro do mais económico lá veio ela feliz com o brinquedo que
depois passou a ir para todo o lado com a boneca dela acomodada em guardanapos
da mesa que faziam de lençol porque estava frio e precisava de se cobrir.
Era azul, como escolhera com um papelão que fazia o fundo do
mesmo e capota por causa do sol.
E estimou-o sempre, alias como todos os brinquedos que sempre
teve.
Passados muitos anos, a família aumentou e as sobrinhas
nasceram, ainda brincaram e brincam com ele mas teve que sem forrado novamente,
agora de vermelho com direito a laço no cimo da capota.
Entre os brinquedos que
eles sempre estimaram, continuam a ser todos utilizados enquanto durarem pois
guardam histórias de vida .