entrada de casa
Era
uma velhinha, tão velhinha como a casa onde morava que para entrar tinha que se equilibrar nos dois degraus que tinha.
Dizia ela que quando foi construída a porta rasava o caminho, depois com as modernices fizeram a rua e ficou a casa "pendurada" parecendo mais uma janela.
Dizia ela que quando foi construída a porta rasava o caminho, depois com as modernices fizeram a rua e ficou a casa "pendurada" parecendo mais uma janela.
Caminhava
rua acima,devagar, apoiada na bengala que a amparava os passos
vagarosos e curtos, de quando em vez parava, encostava-se a um
qualquer muro para descansar.
Arfava
sob o calor que fazia, mas tinha que ser, era no centro de dia que
almoçava.
Alguém
passou também apressado fugindo ao calor, e vendo a velhinha,
perguntam se precisava de ajuda , mas do bolso do velho avental havia
tirado o lenço já amachucada das vezes que usara para limpar o suor
que lhe caia em bica enquanto acena com a cabeça como que dizendo que não agradece, já estava habituada a fazer este sacrificio havia muitos anos.
Lá
foi fazer mais uma etapa até que chegou à porta de casa, equilibrando-se nos pequenos degraus e agarrada ao canto da parede já gasta das mãos dela se apoiar, apressou-se abrir-la, para fugir para o fresco do interior onde morava havia anos, alias do tempo de seus avós.
Já
dentro de casa , dá a volta ás chaves ainda de
fechadura antiga, não fosse algum estranho atrever-se a entrar.
Não
era o medo do que pudessem roubar, pois vivia entre moveis de pouco
valor e louça de barro e vidro, pouca, pois com o tremer das mãos
deixava-a cair ao chão partindo-a,
mas
com medo que esses malvados lhe fizessem mal.
Viam-se
por ai tantos malandros...
Pousa
a bengala no canto e senta-se na cadeira surrada que tem à entrada da sala junto ao fogão de lenha que a aquece no inverno e que sempre usou, para
descansar, fecha os olhos e num instante adormece como acontecia
sempre que chegava da rua cansada.
Pela
fresca abre a porta ou senta-se no pequeno degrau á conversa com a
vizinha ou com quem passe.
Já
lá iam muitos anos, que à mesma hora tirava do bolso um pequeno
canivete com que descascava uma fruta e a migava antes de a meter à boca pois há muito não tinha dentes, talvez fosse o seu jantar.
Quando
o sereno da noite chegava recolhia ao quarto, deitava-se com o
rosário na mão e ia rezando, normalmente numa luta para que o sono
não chegasse enquanto não o terminasse , mas por vezes acabava por
rezar apenas o primeiro mistério.
Assim
vivia dia a dia até que o senhor a chame para junto dos seus que já
haviam partido há muito.
A velha casa com degraus muito esquisitos que há anos lhe fizeram para a ela ter acesso desperta atenção de todos, como é possível com tão proveta idade ainda se equilibrar nos dois degraus tão pequenos e estreitos.
E assim vai vivendo esta velhinha.
E assim vai vivendo esta velhinha.