Foi há muitos anos, ainda jovem mas já com dois filhos nos
braços, uma vida feliz pela frente quando num repente fiquei sem nada.
Sem bens, sem futuro e sem esperança em nome dum de 25 de
Abril da liberdade.
Aos poucos demos conta que havíamos sido ignorados, ao vermos
os militares a regressar à Metrópole, enquanto íamos lendo as notícias dos
acordos assinados á pressa para entrega das ditas províncias ultramarinas.
Pessoa de poucas ideias políticas não me dei conta do que
mais tarde viria,
apenas me senti num olho de furacão que todos atingia e num
repente tal deixou todos sem nada.
Sem rumo sem saber o que fazer, apenas um diz que não diz
empurrando muitos para um abismo desconhecido, que viria mais tarde tornar-se um
futuro penoso, alias muito penoso.
Toda a vida da pacata cidade onde vivia, passou à corrida às
tábuas de madeiras, aos caixotes e contentores.
Os sorrisos desapareçam, as pessoas isolaram-se as lágrimas
eram constantes, e começaram as primeiras famílias a deixar Moçambique.
Havia no entanto os resistentes que nem queriam pensar em
largar tudo de uma vida e partir para desconhecido mas que rapidamente foram
mudando de ideias.
Tudo em nome de uma liberdade fortemente festejada, mas ao
que víamos naquela terra longínqua deixara apenas lágrimas.
E foram todas ou quase todas as famílias com meia dúzia de
bens metidos às pressas em sacos e malas, filhos agarrados às saias a caminho
de uma cidade de onde iam saindo aviões cheios de gente como se fossem Lixo
para os despejarem num destino desconhecido entregues a si próprios.
Passaram muitos anos, a luta foi titânica nem todos
venceram, mas trabalharam muito como poucos imaginam para reconstruir uma vida destruída
deixada para trás.
Só os sorrisos continuam apagados, as esperanças no futuro
nenhumas.
Os tais militares que tanto lutaram e deixaram muitos companheiros
enterrados naquelas terras foram esquecidos.
Mas o 25 de Abril, esse continuam a festejar-se.